quarta-feira, dezembro 25, 2024
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Opinião | A derrota do otaku brasileiro

Há muito tempo queria escrever esse texto, mas tava um pouco relutante de expor minha opinião do mercado brasileiro pelo J-Wave. Porém, com a derrota de uma tentativa de oficializar e fidelizar o público brasileiro, com o canal Animax, a cada dia vemos o canal se tornar o mais próximo de um irmão mais novo do Sony Television e AXN.

Um público nada interessante comercialmente

Hoje, qualquer emissora, qualquer programa, qualquer intervalo é direcionado a um público especifico. Se os mangás foram populares em roubar aos poucos o mercado que era especificamente de comics, e não só Isso, como aumentar conquistando o público feminino. Por que os animes não tiveram o mesmo êxito?

Para responder essa pergunta, temos que ir em direção a simples e óbvia pirataria. Algo que cresceu nessa década, veio em decorrência, porque fãs se juntaram pra legendas animes gratuitamente na internet. Em resumo, os primeiros fansubbers nasceram ainda fora do meio digital, utilizando somente para vender as VHS a preço de custo e manter esse “clubinho” fechado.

Foi assim que nasceram propostas como Shin Seiki, Lum´s Club, BAC, Anime Gaiden entre tantos outros que fizeram a alegria de muita gente, numa época que a Rede Manchete entrava em decadência e iniciativas como U.S. Manga não existiam mais na programação.

Não vou entrar aqui no mérito de julgar se é pirataria ou não o produto de um fansub, já que não sabendo o idioma japonês, esta foi à única forma pra muita gente descobrir séries magníficas que nunca ganhariam a luz do dia na televisão brasileira. Porém, os fansubbers tinham um critério bastante importante que acabou sendo ignorado alguns anos mais tarde, em que séries que fossem lançadas oficialmente no Brasil, o seu trabalho de fã serie retirado da internet.
A culpa é dos fansubbers?

A resposta é não, já que a questão foi sites na internet e lojas que acabaram comprando desses fansub e revendendo sem dó e piedade formando e fidelizando um público, o condicionando a consumir esse produto a preços mais salgados.
O sucesso desses VHS continuaram quando vieram os DVDS, se por um lado a internet brasileira havia mudado e os fansub da era anterior fechavam as suas portas, trocando VHS por disponibilizar o conteúdo na Internet, as lojas acabaram aprendendo a “baixar” e tranformar em DVD por preços módicos.

Assim, paralelo a invasão do mangás pelas JBC e Conrad nas bancas brasileiras, aumentava os leitores, mas também aguçava em conhecer animês obscuros. Isso aliado a uma drástica reformulação que aconteceu no segmento, sendo como exemplo mais óbvio a mudança de lojas no bairro da Liberdade em São Paulo.

Saiam os donos japoneses que vendiam VHS gravado da televisão japonesa, uma herança das locadoras ilegais que foram febre dos anos 80, e entrava as lojas com DVDs que agora seus donos não tinham nenhuma descendência japonesa.

Enquanto isso, o público descobria facetas da cultura pop japonesa, mas por serem caros e inacessíveis, aprenderam com DVDS, que a customização se torna mais viável que importar algo. Assim nascia jovens viciados em animês a busca de artigos, como bandana do Naruto, ou camisetas com transfer, cadernos do Death Note, Mokona em pelúcia e os chaveiros.

Se hoje virou piada os chaveiros do público Otaku, sendo até uma forma de “aviso” que tem um chegando, os fãs aprenderam a arte de customização e com isso largaram qualquer iniciativa e espera de uma indústria sólida tentar ganhar e oficializar o mercado.
O mercado se fecha em si mesmo

A customização e logicamente a total ausência dos direitos autorais, acabou tornando o público fiel a esse tipo de produto. Hoje podemos ver jovens usando camisetas de bandas de jrock e visual kei pela rua, mas em nenhum momento alguém nesse meio tentou oficializar isso.

Sendo o Brasil um dos países que tem mais pirataria no mundo, sendo que vire e mexe entra e sai da lista negra de algumas empresas, fica difícil do país vender uma imagem de país consolidado.

Quando veio o canal Animax no Brasil, a maioria pensou que seria o pontapé inicial de uma invasão de DVDs nas lojas, e itens de consumo para a massa que gosta desse tipo de produto, porém não é bem assim que as coisas evoluíram.

O público otaku se tornou um público não interessante comercialmente, portanto a Sony descobriu que esse consumidor não vale de nada. Ele não consome nada, além de mangás e itens customizados, assim o mercado de DVDs legais bateram de frente com ao de piratas e perdeu feio. Foi assim que DVDs como a Focus não foram concluídos, aliados a péssimas estratégias de marketing.

Será porque o público otaku é jovem e não tem poder aquisitivo? Sim, tem isso, porém o mesmo público se esforça e compra mangás completos em eventos, ou compra itens importados, e ainda compra itens que remete a seus animês favoritos e seu ritmo musical também.

Cada um faz do uso de consumo como quiser, mas isso não muda que invés de alimentar a indústria para que ela cresça, o público vai pro outro lado e parte para a pirataria. Foi assim que as lojas se tornaram fortes e não só cresceram, como se tornaram presente nos principais eventos do país, na mesma proporção que stand das editoras de mangás no país.
O Brasileiro está condicionado a não comprar original?

Você pode falar que a maioria dos brasileiros compram DVDs piratas nos famosos camelôs e que o otaku tem seu próprio nicho. Esta correto? Sim, está correto, porém ta ai uma diferenciação entre brasileiros e japoneses, já que os japoneses valorizam o artista e sua série favorita, comprando tudo que tem pela frente “oficial”, assim alimentando a empresa que produz a série que ama. Aqui as pessoas baixam, consomem pirataria e invés de injetar dinheiro, acaba fechando portas.

O Animax tentou se salvar usando estratégias de aumentar o público das animações japonesas, tacando seu carro chefe Lost, mas fracassou e agora aumentando gradativamente as séries não japonesas, acaba resgatando o que foi o canal Locomotion numa mistura de programação pra adolescente e adulto.

Agora o que dizer de um jovem que tem como exemplo uma família inteira que não consome produto original? Sejamos francos, a indústria de cinema e televisão vem sofrendo em países como o nosso, por causa do mercado ilegal. Lojas como Blockbuster foi engolida pela lojas Americanas por causa do público consumidor que não é mais o mesmo. O pensamento de ir à locadora de bairro não existe mais, graças ao pensamento de com 10 conto, você tem 3 dvds em envelopes plásticos com capas má xerocadas na sua coleção.
O que fazer para mudar isso?

O correto seria apoiar a indústria brasileira, mas fica difícil, quando a mesma toma atitudes errôneas como o lançamento de Cavaleiros do Zodíaco: Lost Canvas com a ausência da versão em Blu-ray. Num mundo onde o jovem está migrando de mídia mais rápido, e vivemos num país aonde podemos pagar parcelado, um Cavaleiros do Zodiaco: Lost Canvas em blu-ray seria uma atitude sensata de atrair jogadores e colecionadores que tem em sua casa um Playstation 3, por exemplo.

Não da pra entender uma indústria que prejudica a si mesmo, lançado séries com legendas feitas sem revisão como foi o lançamento de Jiraya pela Focus. Também não dá pra entender episódios com logotipo de uma emissora de TV a cabo japonesa nos DVD de Changeman, também lançado pela Focus.

O que adianta uma embalagem legal se o conteúdo é uma droga? Então o público brasileiro e a indústria brasileira precisa mudar, o primeiro tem que exigir um produto de qualidade e exigir recall de um produto de qualidade insatisfatória, enquanto a indústria brasileira tem que investir e se fazer presente a esse público de jovens em formação que podem se tornar colecionadores em potencial no futuro.

Talvez assim conseguimos ser respeitados pelas empresas nacionais e ter séries excelentes em nossas prateleiras de maneira oficial aqui no país.

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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13 COMMENTS

  1. "Então o público brasileiro e a indústria brasileira precisa mudar, o primeiro tem que exigir um produto de qualidade e exigir recall de um produto de qualidade insatisfatória,"Ponto final.

  2. Excelente opinião. Faço minhas as suas palavras…Parece que o brasileiro possui gosto pela informalidade e pela ilegalidade. Consome CDs, DVDs e diversos outros produtos pirateados, simplesmente porque o custo é menor. E, sem perceber, acabam lesando quem realmente deveria ganhar pelo seu trabalho. E não estou falando só das distribuidoras oficiais… a classe artística também é uma das grandes prejudicadas com o mercado da pirataria. E é de se pensar: quanto mais o pessoal arrecadaria se não houvessem produtos pirateados no mercado? A realidade é que muitos saem perdendo com a pirataria… e uns poucos inescrupulosos saem ganhando.É o fruto da velha história de se querer "levar vantagem em tudo", coisa que está tão impregnada na cultura e na mentalidade do nosso país.No Japão isso não existe… lá eles sabem dar valor aos produtos deles, aos artistas deles.E sabem ser honestos… coisa que muitos brasileiros não sabem ser. E cansamos de ver exemplos dessa desonestidade nos nossos telejornais diários…Abraços! o/

  3. Não dá pra comparar o mercado japonês com o brasileiro. São mundos beeeemmm diferentes. Até mesmo algumas edições japonesas de DVDs ficam melhores que as dos EUA ou da Europa.Para se ter uma ideia, esses dias vi de um colega, o DVD japonês de um filme tailandês: "Ong Bak". Vocês já devem conhecer, aqui foi distribuído pela Imagem Filmes, eu aluguei este filme e pensei "nossa até que a Imagem Filmes caprichou, tem até extras (o trailer do filme)".No Japão este filme foi lançado em DVD duplo, um com o filme principal e outro só com extras (entrevista com os atores, making off e bla bla bla). O DVD ainda vinha com uma luva protetora, coisa fina. Nem em seu país natal (Tailândia) Ong Bak deve ter tido tamanho cuidado na distribuição.O público japonês é muito exigente, em outras palavras: Ô povo chato! É aí que talvez esteja o segredo para se fazer coisa "bem feita", afinal, tô pagaaaando…P.S.: eu não compro pirata, mas baixo da Internet sim.

  4. Oi. Cara, eu não tenho o que comentar, você foi preciso em todos os pontos, mas só um ponto de vista: você comentou que não tivemos uma invasão de dvds, eu acho que até tivemos, ela só não foi para frente. Saiu Kaleido Star, saiu Astro Boy, saiu Super Doll Licca Chan, além dos clássicos como Cavaleiros. Mas depois disso não teve continuação, acredito que por não ter vendido nada. Mas, mesmo assim, repare que ainda temos Cavaleiros, Naruto, Yu Yu, HunterxHunter, então continuam saindo, eu só acho que as produtoras tão sendo mais seletivas para lançar só o que com certeza dá resultado. Então, acredito que vai demorar para termos um anime menos conhecido como Kaleido de novo em DVD. Repare que mesmo Ranma, que chegou a passar por um bom tempo na tv, não ganhou DVD. Até mais.

  5. Takeshi,Eu apenas citei japones pq o blog é de cultura pop japonesa, mas comparar nesse quesito os japoneses e brasileiros nao da.Antonio Pereira,Eu resumi bem essa invasão, cavaleiros foi um sucesso da playarte, mas falar das outras séries q vc disse em q cada dvd de 2 epis com um audio só sem intenção de sair inteiro, não consigo uma postura muito inteligente.Sobre Hunter x hunter é meio mesmo caso de FMA q a focus lançou e deixou inacabado mesmo.Eu resumi bem e logico q pretendo voltar a esse assunto no futuro e explorar outros pontos.Obrigado por comentar aqui.

  6. Juba.Excelente seu post. Concordei em totalidade.Acho que no Brasil tudo precisaria mudar. A cultura que incentiva a pirataria (quem compra acha que tá dando uma de esperto, que tá levando vantagem) o alto preço de dvds, jogos, cds… impostos aos milhões.Aqui no JP determinados cds, dvds são caros tb. Em contrapartida, quem não tiver dinheiro para comprar, pode alugar seu mangá/cd/dvd preferido.Triste esse panorama…

  7. Concordo em parte com o que vc postou. Já morei no Japão e lá além de maior qualidade vcs estão esquecendo de citar o preço mais acessível, o poder aquisitivo lá é maior e o preço menor.Para que eu vou comprar um pirata por 15 reais se compro um original por 25 reais e ainda vem um DVD bonus e um bonequinho de brinde heim? Aqui a realidade não é bem essa, por vários fatores: os DVDs originais são caros e mal feitos. Comprei o filme do Card Captor Sakura original daqui porque sou muito fã e queria ter o original, me arrependi muito, a legenda tinha muitos erros, o som era uma droga e tinha defeito em uma cena. Sobre a Animax, quando era locomotion assisti muitos animes lá, a dublagem estava muito bem feita, mas quando começou migrar para a Animax eles começaram a deixar a desejar quanto a dublagem, não tem condições de assistir os animes com aquela dublagem mal feita.Então acho que aqui é um ciclo, eles não investem nada em marketing e qualidade para a gente, então lógico que não compramos muito.

  8. Juli,Sobre dvds e cds no Japão, não vale a pena ser discutido pq é outro nivel o serviço por la. São mundos totalmente diferentes, vide Cidade de Deus que teve q fazer documentarios especiais pra edição japonesa.O Japão tem um perfil consumidor, enquanto o Brasil não.Temos que ser pé no chão e comparar com outros países da America Latina. E ai descobrimos que filmes sao bem tratados tanto em países como Argentina como Mexico, sendo só o Brasil que continua com um serviço que deixa a desejar.Ontem estava conversando sobre a taxa de importação de produtos, que foi feita pra "compensar" os produtos vindos ilegais no Brasil. Porém, o pessoal compra ilegal no mercado livre pq nao quer pagar o valor da loja. Isso é um ciclo sem fim do mercado brasileiro.Os produtos brasileiros estão deixando a desejar e graças a deus, o mundo do bluray abriu meus olhos e quando quero uma edição caprichada e legendada/dublada em portugues do Brasil, é só comprar em outro país. Preferia comprar no Brasil, mas senão tenho opção como classicos da Disney q teve seu disco de extras em portugues LIMADO da edição brasileira, compre do Canada ou da França, ou com sorte de Hong Kong e Japão.O que o brasileiro tem que fazer é ser ouvido e nesse caso, existes blogs como Blog do Jotace que incentiva isso. Porém é pifio, pra uma população que se prefere recorrer aos dvds piratas do que os dvds originais. E é nisso que tem q ser discutido e analisado. Os comerciais sobre dvd pirata nao funcionam, pq são ruins.E o mercado de anime é apenas um segmento desse mar de dvds e produtos que foram engolidos pela pirataria. Será que vai mudar? Não sei, mas as empresas brasileiras senão agirem cada vez mais coloca em risco a opção de ver filmes no Brasil.

  9. Realmente não dá pra se exigir qualidade extrema com edições luxuosas, isto encareceria mais um produto que já é caro, mesmo com pouca qualidade. A questão do nosso poder aquisitivo citado pela Juli deve ser levado mesmo em consideração.A JBC sabe muito bem disso e se sai bem nas vendas com mangás mais acessíveis.Com muito esforço comprei todos os mangás de Slam Dunk, que custavam em média R$ 10. Por mês, não era muito e a Editora Conrad me satisfez publicando tudo numa ótima adaptação.Eu queria muito comprar os mangás de Vagabond, também da Conrad. Mas veja só: a edição é tão bem feita que ficou cara demais para mim.

  10. O discurso é muito bonito, aponta à vários fatos e sugere inúmeros culpados sem apontar na cara diretamente… Parece papo de advogado ou economista discorrendo sobre uma tragédia. O advogado tenta convencer à todos que ninguém tem culpa. E o economista explica passo-a-passo da tragédia anunciada que ele mesmo nunca preveria…Chega de educação! Vamos apontar o culpado! Enfiar o dedo no nariz dele! A culpa é do Animax brasileiro!Que existe mercado para o anime no Brasil não se discute! É fato! O que não dá é esperar que um canal exclusivo de animes dê resultados multimilionários… Um anime por mais bom que seja nunca irá render em audiência o mesmo que um LOST… Só a Sony não entende e agora quer transformar o Animax num canal tipo MULTISHOW. Não dá pra entender essa sede mortal por lucro. Nosso país é terceiro-mundista e tem suas próprias idiosincrasias econômicas/culturais. Necessitava de um tempo para assimilar a novidade. Seria como abrir um fast-food japonês na Av. Paulista em plena década de 30. Hoje é chique e de bom gosto jantar num restaurante japonês mas nem sempre foi assim… Hoje os maiores entusiastas da culinária japonesa são aqueles que 20 anos atrás tinham nojo de peixe cru.A Sony não tem paciência e ignora que concorrentes como o Cartoon não pode colocar animes no seu famoso "Vota Toon" pq eles sempre vencem… A Sony queria que o Animax batesse a Globo em audiência na semana de estréia.Lamentável a miopia da direção do Animax Brasil. Eles realmente não conhecem seu produto.

  11. concordo plenamente, ao inves de apoiarmos as empresas e comprar os dvds originais, não preferimos os piratas, mas tambem eles não dão valor ao conteudo, eu mesmo tenho o dvd de super doll licca chan, com 2 miseros episodios e o bonus, umas imagens capturadas dos 2 episodios, e me custaram 38,00,como eu sou fã da serie, agora eu to comprando aos poucos os produtos originais JAPONESES, são caros mais valem a pena. eu bem que gostaria que finalizassem essas series, mais não dão valor mesmo, temos varios animes/series liberadas no brasil, o que é que falta então?

  12. Foi assim que DVDs como a Focus não foram concluídos, aliados a péssimas estratégias de marketing.FMA agora manda abraços,e eu baxo animes sim mas somente os que ñ vem pro Brasil u.uAew compro DVD oficial tipo One Piece,Naruto,Yuyu,FMA…agora se for lambanças tipo Pokémon,Bakugan,Inuyasha…aew baxo da net tb pq os DVDs oficiais desses são a msm porcaria exibida na TV(cheios de cortes e censuras e sem opção pra som original) ¬¬

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