quarta-feira, dezembro 25, 2024
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Opinião | Hiroshima e Nagasaki

Por: Giuliano Peccilli

Depois dos dias 06 e 09 de agosto de 1945, o mundo nunca mais foi o mesmo; ocorreu o lançamento das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Talvez essas cidades sejam apenas nomes que você estudou no colégio quando aprendia sobre a Segunda Guerra Mundial, mas sua importância é muito maior.

A guerra entre Estados Unidos e Japão começou após o ataque nipônico sobre Pearl Harbor, e acarretou numa série de conflitos em todo o território japonês. Filmes como Cartas de Iwo Jima mostraram a chegada da monstruosa frota americana que dizimou o país.

Hiroshima e Nagasaki pagaram para servir de exemplo para o mundo: a soberania americana era incontestável, dadas as armas de destruição em massa. Poucos sabem que o uso de bombas atômicas não foi uma imprudência ainda pior por falta de um desenvolvimento de bombas em massa. Cidades como Kyoto, Niigata, Yokohama e Kokura estavam na mira dos americanos, mas acabaram não sendo atingidas, em parte pela falta de mais bombas dessa magnitude. Era uma arma de intimidação, usada apenas por decisão do presidente estadunidense Harry Truman, acreditando que a demonstração de força encerraria os conflitos.

A cidade de Kyoto, antiga capital do império japonês, só foi excluída das bombas pois o secretário de Guerra americano, Henry Stimson, havia passado lua-de-mel lá há vários anos antes e conhecia a importância cultural e religiosa daquela cidade pro país; tal decisão causou várias discussões entre os americanos, dado o peso do alvo potencial.

Demais cidades foram riscadas por importância e também pela complexidade do desenvolvimento das bombas atômicas. As bombas Little Boy e Fat Man, utilizadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, eram quase protótipos; seus alvos eram testes. Como protótipos, as duas armas não eram iguais, o que acarretou em explosões distintas e consequências diferentes para a população.

As duas cidades ficaram marcadas como as cidades bombardeadas pela Bomba atômica. Agora, você realmente conhece elas? Sabem quais são as importâncias delas antes da guerra ou que representam hoje? São perguntas difíceis de se responder, já que mesmo 65 anos depois, as cidades ainda ostentam as feridas causadas por esse holocausto. Independente disso, se reconstruíram e se tornaram grandes exemplos, maiores e ainda mais belas do que antes.

Hiroshima

Hiroshima é uma cidade de tempo chuvoso e que muitas vezes, dada a distribuição de seus prédios, lembra a cidade de São Paulo. Foi fundada em 1589 por Mori Terumoto, que a transformou em capital, construindo o castelo de Hiroshima em 1593.

Hiroshima se tornou a capital da também província de Hiroshima no período Edo (1871), tendo domínios feudais abolidos com a Restauração da Era Meiji (época em que se passa o filme “O último samurai”). A cidade também progrediu graças a outra guerra, a Sino-Japonesa (1894 a 1895) quando surgiu a primeira linha de trens na região. O fim da guerra trouxe a independência da Coréia, a derrota da China e um tratado que abriu as relações comerciais entre o Japão e a China.

Hiroshima foi escolhida como alvo da primeira bomba atômica porque havia se tornado chave das navegações nipônicas, além de depósito militar. Assim no dia 6 de agosto de 1945, às 08:05 da manhã, a cidade sofreu um ataque com a bomba atômica “Litle Boy”, que matou imediatamente 80 mil pessoas, sem mencionar aqueles que, com os efeitos da radiação, somariam as 140 mil mortes através das décadas.

A cidade teve 69% das suas estruturas destruídas; pessoas se desintegraram, sobrando apenas marcas no chão.

Em 1949 foi aprovada a lei do Memorial da paz de Hiroshima – Cidade da Reconstrução com ajuda do governo, que doou terras que haviam sido usadas para fins militares. O governo também ajudou financeiramente a reconstrução da cidade para que não esquecesse os danos causados pela guerra.

Atualmente, Hiroshima é uma cidade turística que não vive só do Museu e do Memorial da Paz, e é conhecida por sua culinária, em especial o okonomiyaki, uma pizza feita na chapa. Outro símbolo da cidade é Hidaren Streetcar, um bondinho implantado em 1910, mantido pois outros meios de transporte eram mais caros para se construir, e hoje é um dos charmes locais.

Nagasaki

A história de Nagasaki começa em 607 com a proximidade da China e da Coréia do Norte. A cidade era usada como porta caudilha da diplomacia japonesa; Nagasaki cumpria o papel de comércio com a exportação entre os países.

A chegada dos portugueses em 1550 estreitou a relação comercial e veio também com uma nova ordem religiosa, o cristianismo, que também trouxe jesuítas. A cidade foi colonizada pelos portugueses 50 anos depois da descoberta do Brasil. Assim nascia o primeiro dicionário japonês pra outro idioma que foi justamente japonês-português.

A negociação comercial com Portugal, China e outros países começaram em 1571 e a chegada de novos interessados não parecia ter fim. Numa medida conservadora, o governo japonês decidiu fechar as portas de todos os portos pra navios ultramarinos, mantendo apenas o porto de Nagasaki aberto para o resto do mundo.

Em 1637, estrangeiros foram expulsos de Nagasaki depois de uma mobilização interna; levou quase um século para que a cidade fosse renacionalizada. Até hoje existem vestígios de outros povos em diversos pontos na cidade. É uma cidade que deve ser visitada não só pelo fator histórico, mas pelas características exóticas e únicas que possui. Um dos pratos típicos locais é de origem portuguesa, o Castella, um tipo de um pão de ló.

Uma das obras mais famosas de Nagasaki é a 26 Mártires, construída em 1962 em homenagem ao centenário da canonização dos 26 padres executados em 5 de fevereiro de 1597. Os jesuítas, como fizeram no Brasil, tentaram levar a religião católica para o Japão, mas não esperavam a proibição do imperador, da punição capital.

O cristianismo foi proibido e grupos, buscando manter vivas suas crenças, transformaram aos poucos a religião. Orações viravam mantras, enquanto Virgem Maria era protegida por dois animais que pareciam um amalgama entre tigres e dragões. Hoje, a religião mesmo que aberta no país, ainda herda características da época que era proibida, causando estranhamento para quem visita igrejas como a Catedral Urakami.

Hoje, Nagasaki é uma cidade que preserva as marcas da sua sina: diversos pontos da cidade preservam restos de construções para que não se percam as tristes memórias.

O Museu da Bomba Atômica é um dos lugares mais sufocantes da cidade, onde temos um vislumbre das vidas perdidas através de objetos daquele fatídico dia. Temos histórias chocantes, como a de uma criança que anotou na parede o número de parentes de sua família que morreu, apenas para se juntar a eles logo depois.

Muitas cartas sobre parentes mortos, feitos com material que se tinha acesso, estão expostas no museu. Somos apresentados toda a dor. É arrebatador e angustiante ficar ali; uma lição que se deve ser aprendida.
Existe também o belíssimo Parque da Paz, construído em 1955, com estátuas do mundo inteiro, todas representando a paz.

Tanto Hiroshima como Nagasaki nos ensinam uma lição profunda e nos fazem ter esperança que um dia o mundo encontre sua paz. Ambas são riquíssimas em história e em lenda, pontos de turismo obrigatórios se você visitar o Japão.

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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