É possível analisar um pouco da história do mangá através da estilização dos seus olhos ao longo das décadas. Sendo um dos mais importantes códigos gráficos da representação da figura humana na história da arte, os olhos são a chave para analisarmos as diferentes preocupações dos autores e desenhistas.
Nas décadas de 1950 e 1960, Osamu Tezuka revolucionou as histórias em quadrinhos quando, inspirado nas proporções dos cartuns americanos, criou as estilizações dos olhos de Astroboy (1952), o marco do início do Mangá. O autor, no ano seguinte, ainda marcou o nascimento do sub-gênero shoujo, com A Princesa e o Cavaleiro (1953), totalmente direcionado ao público feminino. Nesse último, Tezuka foi abertamente influenciado pela trupe de teatro Takarazuka, composta somente por mulheres. Assim foram criados os famosos olhos grandes do mangá shoujo.
Em 1970 ocorreram dois fenômenos no mangá. Primeiro, a explosão do sub-gênero gekigá ao redor do mundo, formado por quadrinhos adultos e maduros que contam com uma estilização mais sutil, realista e menos expressiva. O mais importante do gênero é Lobo Solitário (1970), cuja linguagem e estética inspirou centenas de artistas futuros, inclusive brasileiros, como Julio Shimamoto.
Já o sub-gênero shoujo se tornou cada vez mais exagerado, quase como uma caricatura de si próprio. Mangás como A Rosa de Versalhes (1972) possuíam uma estilização ao mesmo tempo delicada e caricata, com olhos cada vez maiores e expressivos. Os artistas da época levaram ao limite o conceito dos “olhos como a janela da alma”, com pupilas lembrando galáxias cheias de estrelas.
Em 1980 as estilizações do mangá se tornaram mais suaves, mais uma vez inspiradas pelos cartuns americanos. Mangás e animês comoNausicaa (1984), do mestre Hayao Miyazaki, encontravam formas cada vez mais sutis e eficientes de reforçar a expressividade dos personagens, sem recorrer à caricatura dos olhos gigantes. Outros, como o Dragonball (1984), simplificaram códigos gráficos exagerados – como os olhos -, mas incorporaram cada vez mais o exagero da linguagem do cartum.
Em 1990 ocorreu a segunda explosão do gênero ao redor do mundo. Mangás como Sakura Card Captors (1996) retomaram o sutil exagero da década de 1970, enquanto outros mangás como Saber Marionette (1996) beiraram, mais uma vez, o limite da caricatura.
Na segunda metade da década de 1990, animês como Evangelion (1995) criaram um “meio-termo” de estilização, padronizando o gênero do mangá shounen e se tornando a base para a concepção de diversos mangás futuros.
Hoje em dia encontramos, cada vez mais, uma mistura dos sub-segmentos do mangá, e a reinvenção da sua estética.
Wow! Que maneiro! É incrível como podemos ver as mudanças no estilo dos olhos nos mangás (coisa que é para muitas pessoas a marca registrada da arte sequencial japonesa). Mais um post muito legal 🙂
Muito bom esse texto! Bem explicado e sem ter quilometros de texto!
Taí, gostei do post, cheio de informações sobre um detalhe tão caracteristico do mangá.
E ainda sobre a brincadeira de tentar por '"perucas" nos "bonequinhos", e descobrir quem é o personagem
=^.^=
super legal!
a estética do desenho realmente faz toda a diferença!
lindooooooooooooo