segunda-feira, dezembro 23, 2024
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JBook Review #3: O Hobbit – A Expectativa De Uma Adaptação

O Hobbit foi meu Harry Potter.

J.R.R Tolkien foi minha J.K. Rowling. Esse foi o livro que, quando eu era moleque, me fez gostar de Literatura e perceber que podia ser divertida. (Até então preferia ler gibis…)

Ouvi falar que era “a obra que inspirou o RPG” e, como o bom nerd que sou, fui atrás.

Tudo isso só foi possível por causa do hype trazido na época pela então iminente adaptação cinematográfica que Peter Jackson faria de sua continuação: O Senhor Dos Anéis.

Porém, confesso que quando soube que O Hobbit se tornaria uma trilogia nos cinemas, torci o nariz. Não porque eu tenha algo contra um diretor repetir uma fórmula. (e ganhar muita, muita grana com isso, em meio ao processo.)

Impliquei com o anúncio pensando numa questão de adaptação.

Durante toda minha adolescência (quando “complexo” e “maior” eram sinônimo de “melhor”.) sempre considerei OSdA um livro de qualidade muito superior ao Hobbit. Hoje essa perspectiva se inverteu.

OSdA é uma história com um mérito inquestionável, mas com uma narrativa que se perde em meio ao universo ficcional criado pelo escritor. É tão arrastada e tortuosa quanto a viagem dos personagens. Não é segredo que o próprio Tolkien ficou com ela engavetada durante muito tempo, deixando-a pela metade, sem saber exatamente como continuar. Sou partidário daqueles que afirmam que Jackson a contou de uma maneira melhor, nas telonas.

Por outro lado, O Hobbit (ao contrário de OSdA) é uma fantasia muito mais ágil e despretensiosa. Tal qual sua sucessora, é uma espécie de road trip medieval onde um aventureiro relutante é empurrado para uma grande odisséia.

Mas no lugar de Frodo e sua saga heróica para destruir o Um Anel e salvar o mundo, aqui temos seu tio, Bilbo Bolseiro, arrastado pelo mago Gandalf e uma trupe de anões malucos numa jornada para roubar o tesouro de um dragão.

A história se desenvolve com naturalidade, Bilbo se vendo forçado a lidar com uma série de situações e personagens bizarros ao longo do caminho.

O tom é totalmente diferente de OSdA, bem mais leve.

Gandalf é só uma sombra, desaparecendo a toda hora para ir resolver problemas mais urgentes. (Problemas que não interessam para o que está sendo contado!). O anel era mostrado como um simples item mágico que confere o poder de invisibilidade. Só há uma grande batalha e ela é guardada para o final do livro, quando se encerra como uma pequena fábula sobre a cobiça humana.

Não tenho dúvidas que roteiristas e uma equipe criativa competente podem muito bem fazer um único livro funcionar em três atos, sem necessariamente deixar a coisa“esticada”.

No entanto, meu medo é que Jackson, ao transformar tudo num grande épico, pode acabar fazendo uma “Senhordosanéisignificação” de O Hobbit. Apagar o clima do original.

Ou melhor dizendo, esse era o meu temor.

Cheguei a conclusão que esse tipo de preocupação é uma grande bobagem.

Quer saber? E daí que a nova versão pode ficar mais enraízada no imaginário do público do que a do livro? Se Peter Jackson fizer filmes excelentes (e ele certamente tem capacidade para isso) está mais do que perdoado.

E se os filmes forem absurdamente diferentes da obra original? Melhor!

Com certeza isso incentivará ainda mais pessoas a lerem esse clássico do que uma adaptação mais purista e ao pé da letra.

Agora pare e reflita: Isso não é bom?!

De qualquer maneira, quem ainda não conhece O Hobbit e quer apreciar essa leitura sem as imagens dos novos filmes já entranhadas dentro da cabeça, ainda tem tempo de ler até a estréia em dezembro.

Afinal, ao contrário de OSdA, é um único livro e não uma saga gigante! 😉

J.R.R. Tolkien. O Hobbit. Martins Fontes. 320 páginas.R$ 53,30.

Davide Di Benedetto
Davide Di Benedetto
Sofre de dependência química de café e podcasts. Graduado em História pela UEMG, especializado em Filosofia pela UFMG e nerd entusiasta de literatura por conta própria. É também o "analista oficial" da série @LeddHQ - www.leddhq.com.br

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