Ou simplesmente O Mágico de Oz. Esse livro infantil escrito em 1900 pelo americano L. Frank Baum exerceu ao longo do século XX uma influência onipresente na cultura pop, principalmente através de sua clássica adaptação para o cinema.
Outra adaptação para as telonas vem aí com Oz – The Great and Powerfull, em 2013. Será uma prequel dos eventos narrados no romance e terá direção de Sam Raimi (Evil Dead, Homem-aranha.)
Hoje, porém, falarei da obra original.
O autor e o enredo
Frank Baum era filho de um rico fabricante de barris, mas teve que se virar mais tarde em sua vida com uma lista de profissões bem variadas, entre elas, balconista, caixeiro-viajante, jornalista, ator e diretor de teatro.
O envolvimento com a publicação de livros infantis foi motivada por livre e espontânea pressão da família. A sogra solicitou que colocasse no papel as diversas histórias que ele contava para seus filhos.
Após alguns pequenos sucessos iniciais, Baum publicou o livro, que se tornaria um grande best-seller em sua própria época e além.
O Mágico de Oz narra a história de Dorothy, uma garota que mora com seus tios e o seu cão numa fazenda do estado do Kansas. Um dia a casa de Dorothy é transportada por um ciclone até um a terra desconhecida. Lá ela descobre que sua moradia (acidentalmente) aterrissou em cima de uma das duas bruxa malvadas que aterrorizava a região. Relutantemente elevada ao posto de heroína local, ela tem que viajar até a Cidade das Esmeraldas para encontrar o tal Oz, um mago muito poderoso e o único capaz de enviá-la para casa.
O romance é estruturado como uma road trip onde a personagem vai fazendo aliados ao longo do caminho (os já célebres Espantalho, Lenhador de Lata e Leão Covarde) e mostra como todos eles enfrentam juntos diversos desafios para conseguir realizar seus desejos.
O tom e a narrativa
O fio condutor para o livro, segundo o que o próprio Baum fala no prefácio, foi fazer uma história de contos de fadas nos mesmos moldes daquela escritas pelo Irmãos Grimm ou Hans Christian Andersen, mas cortando fora o horror e os finais com punições usados para transmitir as lições de moral. O resultado foi uma fantasia muito mais leve, mas que ainda está longe do padrão dos livros infantis de hoje em dia.
No livro, o tom é muito mais aventuresco do que no filme de 39.
Embora narradas da maneira veloz e sem a presença de detalhes escabrosos, é possível destacar passagens como as que o Espantalho torce o pescoço de quarenta corvos, o Lenhador de Lata desce seu machado em uma matilha de quarenta lobos e o Leão Covarde decapita um monstro com a aparência de uma aranha gigante.
Para quem gosta de escrever, o detalhe mais interessante de ser observado é como Baum consegue traduzir a agilidade narrativa dos contos de fadas. Apesar do filme resumir muito a jornada do bando de Dorothy, cortando fora tudo o que não é essencial, é interessante notar como a história no livro, mesmo mais longa, é narrada sem excesso de detalhes. Muita coisa fica para que o leitor imagine, mas não há informação de menos. Tudo é contado de maneira objetiva e clara.
Apesar de algumas versões contemporâneas do livro não conterem ilustrações (todos os livros de Baum eram ilustrados e ele achava a presença de desenhos algo fundamental em livros infantis), o texto do cara é tão bom e fluído que para um leitor adulto não faz diferença.
E porque diabos um adulto leria o mágico de Oz?
Um misto atípico de dever de casa e diversão. Se Tolkien tentou fazer a “fábula para adultos” com Senhor dos Anéis, acredito que o Mágico de Oz (no caminho contrário) é um exemplo perfeito de fantasia em estado puro, para todas as idades. Longe de ser um épico é uma história que cativa por sua simplicidade.
Outra grande sacada de Baum foi não se prender a estereótipos dos contos de fadas.
Não só fugiu dos lugares comuns introduzindo exceções às regras do gênero (como por exemplo a existência de bruxas boas, além das bruxas más), mas também usando paisagens e elementos familiares aos seus jovens leitores da época como fazendas e espantalhos, para criar identificação. É algo parecido com o que fez Monteiro Lobato, “localizando” as fábulas, mitos e personagens gringos para as paisagens brasileiras. Não é também diferente do que fez J.K Rowling em tempos recentes ao colocar os livros da série Harry Potter ambientados numa escola.
O nerd de literatura de plantão, ou uma pessoa que seja meramente dotada de curiosidade, tem grandes chances de se interessar por esse livro e querer conhecer.
Mais aventuras na Terra de Oz
Por um misto de necessidade econômica e demanda de mercado (toneladas de cartas de crianças pedindo que ele continuasse a história!) Baum continuou escrevendo livros ambientados na Terra de Oz durante toda sua vida, embora jamais tivesse cogitado uma sequência para o primeiro livro.
Ao total são 14 livros do autor, 40 livrosacrescentando outros autores e um sem número de publicações por artistas modernos revisitando o mesmo universo em perspectivas mais maduras. Temos o exemplo de Wicked série de romances que conta vida da Bruxa Malvada do Oeste e que virou um musical de sucesso na Broadway. Ou ainda a graphic novel Lost Girls do velho barbudo Alan Moore, que coloca Dorothy e outra personagens clássicas em meio uma putaria sem fim.
Sendo a obra de Baum de domínio público é de certa maneira frustante constar que não existe ainda no Brasil uma versão traduzida de todos os 14 livros originais. Para quem, como eu, ficou com curiosidade de saber o que o autor aprontou nas sequências, a saída é procurar algumas poucas edições nacionais em sebos ou ler diretamente no inglês, em livros importados ou versões digitais na internet.
L. Frank Baum “O Mágico de Oz.” Leya Brasil – 186 páginas. R$ 15,90.