A amizade é uma relação de afeto e carinho que se constrói entre duas ou mais pessoas, entretanto um tratado de amizade envolve muito mais que isso, especialmente em se tratando de dois países tão diferentes. Pensando nisso, percebo o quanto o tratado entre o Brasil e Japão não só tornou os países próximos, como os presenteou com um imenso legado cultural, repleto de tradições, costumes e pessoas. Seja descendente ou não, o Japão está vivo em cada um de nós, e pode ser definido em uma palavra: tradição.Estudamos em nossa formação acadêmica que um tratado de amizade abrange interesses financeiros de cada país, porém o que não se encontra nos livros é o quanto uma troca de culturas se constrói nesse tipo de relação.Só que cada um conclui e traduz o que isso significa para si mesmo e é nesse sentimento que nasce a admiração, seja quando se vê festivais tradicionais em todo Brasil, ou pela culinária japonesa que se encontra em qualquer esquina. Entretanto, isso não acaba por aqui, porque do outro lado também se encontram churrascarias, lanchonetes e outros restaurantes tipicamente brasileiros, bossa nova e samba nas rádios e nosso tão famoso carnaval nas principais cidades japonesas.
É verdade que o Japão já conhecia o nosso idioma, graças às navegações portuguesas que também estiveram por lá. Não somente a língua, como também a religião, a culinária e a primeira tradução de um dicionário nipônico para outro idioma. Se nossos irmãos portugueses levaram sua cultura para cá e para lá, podemos imaginar que foi daí que nasceram nossas primeiras semelhanças, que se tornou enraizada tanto no português como no japonês, tais como “Pão” e “Bolo de Castella”, receitas incorporadas à culinária japonesa. Ao mesmo tempo,palavras japonesas acabaram anexando-se ao nosso idioma, como: Caraoquê, Quimono, Onigiri entre tantas outras. E, se indiretamente já tínhamos nossas semelhanças, um tratado é apenas a formalização de uma amizade de dois amigos que não se conheciam, mas que se tornaram unidos como unha e carne. É assim que vejo o tratado assinado em 1895, o pontapé inicial de um relacionamento que se estreitou com os anos, enviando diversas famílias de japoneses no começo de 1900, e em contrapartida, fazendo com que os seus netos voltassem após 90 anos. Foi nesse relacionamento que muitos brasileiros se apaixonaram pelo Japão e não sou diferente em afirmar que fui um deles.
Com a imigração já tendo completado mais de 100 aniversários e com 120 anos de um Tratado de Amizade, o Brasil ganhou diversos “mini-Japão” dentro dele e vice-versa. Sendo tipicamente brasileiro, mas com ascendência italiana, portuguesa e indígena, talvez não tivesse motivos para admirar a cultura de um país tão distante, entretanto, a vida não se mede pela sua origem, mas sim, pelas escolhas que fazemos nela. Posso dizer que foi uma mistura de tudo: os programas únicos, os desenhos estilizados de “olhos grandes”, a música pop japonesa e os quadrinhos que parecem telas de cinema os grandes responsáveis por me fazer querer conhecer cada dia mais a terra do Sol Nascente. Não foi à toa que surgiu o meu interesse em entender e aprender não só um idioma tão diferente do português, mas também essa filosofia distinta e única, e que traz valores que fazem todo o sentido em nosso dia a dia, gerando um amplo intercâmbio cultural em nosso país. O Brasil é o porto de várias culturas e, graças a isso, sua mistura de diferentes povos faz com que nossa cultura herde um pouco dos valores de cada país. Arrisco-me a dizer que muitos valores nipônicos estejam talvez mais vivos por aqui do que por lá.
A relação de amizade entre os dois países não abrange só a cultura, mas também diferentes áreas, dentre elas a economia. O Japão é o nosso quarto maior parceiro comercial, sendo um aliado de peso em exportações, o que não só sinaliza que o relacionamento comercial se estreitou com as décadas, como hoje é fundamental para ambos. A carne, suco de laranja, café e pão de queijo são apenas alguns dos produtos brasileiros presentes em quase todos os lares japoneses. O mais interessante disso tudo é que esta presença não é invisível, pois o mapa do Brasil está representado em latas de bebida, existem cafeterias com nomes em português e também é possível identificar a produção de produtos típicos de nossa alimentação em pontos comerciais por todo o Japão. Outro segmento que chama muito aatenção é o mercado fonográfico japonês, segundo maior do planeta, fazendo com que muitos artistas brasileiros produzam conteúdos inéditos em nosso país. Eles fazem com que nossos ritmos mais conhecidos, como samba, pagode e bossa nova toquem nos bares e casas de show, além das populares redes de CDs por lá.Essa invasão brasileira fez com que nossa identidade fosse percebida em vários filmes e animações.
E quando se fala na influência do Japão sobre o Brasil, o assunto não se resume apenas à culinária, tradição ou tecnologia, mas nas obras que estão presentes no seu mundo. Um exemplo não muito falado, mas originário do Japão é o posto policial, presença cativa em grandes cidades como São Paulo e criado para atender às necessidades das metrópoles. Outra clara inspiração são os trens, metrôs e, num futuro não tão distante, o famoso trem bala, que faz muitos governantes viajarem ao Oriente para tentar desvendar o segredo de um transporte público coletivo tão eficaz, mas que não se traduz tão fácil em nossa realidade brasileira. Essa influência bem-vinda acaba indo muito além das obras de massa, como animações e quadrinhos criados no Japão e que são exportadas em todo planeta, principalmente porque mostram soluções criadas por lá e que se tornaram fundamentais para nossa segurança e o nosso transporte público.
Quando se pergunta no que significa para mim o “Tratado de Amizade” entre o Brasil e o Japão, eu acabo pensando em legado e na herança que ele tem deixado em ambos os países. Seja na cultura, no comércio, na economia, o intercâmbioentre os dois países engrandece ambos a ponto de não conseguir imaginar como seria sem essa aliança. Por mais distantes que estejamos uns dos outros, sempre ouvimos que o “O Brasil é o país mais longe do Japão”, entretanto isso não muda nosso sentimento que o torna tão próximo e tão vívido em nossos corações. E se o brasileiro tem a fama de não desistir nunca, no Japão aprendemos que se cair sete vezes deve-se levantar oito. Se aqui temos nosso jeitinho de lidar com as nossas ações em nossas vidas, no Japão aprendemos que temos que lidar com os nossos caminhos, porque é neles que está o nosso aprendizado. Seja no Brasil ou no Japão, o que importa é o apreço e afeição que nós temos um pelo outro e é por isso que temos que “dar o nosso melhor” para sermos dignos de “boa sorte”.
Com revisão da Luana Tucci
interessante. Agora estou entendendo melhor sobre o tratado.