Quem achou que as aventuras épicas nas Graphics MSP ficariam por conta apenas de Astronauta e suas missões espaciais deve ter se surpreendido bastante com o nono título. A trama de Turma da Mata – Muralha, Artur Fujita, Roger Cruz e Davi Calil traz Jotalhão, Coelho Caolho e seus amigos em uma batalha de vida ou morte para não só recuperar a honra há muito perdida de um guerreiro, como também para retomar o direito de usufruir de um bem que pertence a todos.
A história
Um metal raro chamado calerium foi descoberto. Suas propriedades revolucionaram a ciência: ao entrar em contato com a água ele aquece e só para com a evaporação desta ou quando o metal já se desgastou por completo. Isso possibilitou a invenção de uma infinidade de veículos e instrumentos à base do vapor produzido pelo Calerium, o que tornou o reino do rei Leonino I extremamente rico e poderoso.
O rei, que não tinha sabedoria suficiente para lidar com estes desdobramentos sem que a ganância corroesse seu espírito, saiu da Mata e construiu um castelo nas montanhas para monopoilizar o uso do metal. Além disso, cercou seu novo lar com uma muralha que só poderia ser vencida pelo alto. Para explorar as minas de calerium, o rei mantinha alguns moradores da Mata em regime de escravidão, pois não haviam mineradores suficientes para a árdua tarefa.
Exausto dos abusos reais e à procura de algo valioso do qual se separou, um bravo elefante verde guerreiro um dia invade a nau onde o rei está e trava uma luta medonha com seus ocupantes, porém não sem causar graves consequências: no meio da contenda, o guerreiro e o rei Leonino I acabam despencando da nau ao encontro da morte. Para trás, guardas atônitos e um filhote de elefante verde, que havia sido capturado mais cedo e por quem o corajoso pai acabara de dar a vida.
20 anos se passaram. Jotalhão já não é mais um filhote indefeso que buscava ser igual ao pai. Agora, ele passa seus dias confinado em uma saleta, fazendo trabalho administrativo e sendo solenemente ignorado ou avacalhado por todos os macacos da guarda real. Sua vida não tem nenhuma emoção, mas a amargura daquela batalha longínqua ainda macula seu coração, porém sem extinguir sua gentileza.
Em uma noite como qualquer outra, o rei Leonino II (herdeiro mimado, porém menos babaca do que seu antecessor), prepara-se para partir em uma missão diplomática. As reservas de calerium estão próximas do fim e os habitantes da fortaleza passarão fome em breve. Ele deixa instruções para Luis Caxeiro cuidar de tudo em seu lugar enquanto viaja, porém, quando embarca na nau, o veículo explode e parece vitimar o monarca de forma fatal. Desconsolado, Caxeiro é incapaz de perceber quem está por trás do atentado e deixa o inimigo, o conselheiro Fuinha, governar tudo bem debaixo do seu focinho.
Como se já não fosse emoção suficiente, uma pequena grande espiã invade o palácio e descobre a trama atroz que se desenrola. Ao fugir, acaba envolvendo o bonachão Jotalhão no processo, que embarca nessa por motivos muito alheios à sua vontade. Nessa jornada que provoca um retorno às suas origens, o elefante mais amado do Brasil irá reencontrar seu passado, exorcizar alguns fantasmas (e ressuscitar pelo menos um deles) e abraçar a oportunidade de, finalmente, honrar seu pai, tentando consertar o erro que o persegue desde a infância.
Os autores
Turma da Mata – Muralha conta com um trio de autores muito conhecido do mundo dos quadrinhos. Artur Fujita, quadrinista e ilustrador, faz cenários para a animação “Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas” (Cartoon Network) e já trabalhou como colorista para a Marvel e a DC. Roger Cruz foi o primeiro brasileiro a desenhar para a Marvel, emprestando seu talento para diversos títulos do universo dos X-Men entre outros heróis da editora. Além disso, lançou trabalhos autorais como por exemplo Xampu Lovely Losers (Devir), entre outros. Davi Calil trabalhou como character design para as Historietas Assombradas, colaborou com a Mad entre outros trabalhos e dá um curso de pintura na Quanta Academia de Artes.
Os três também fazem parte do coletivo Dead Hamster, que publica seus projetos independentes desde 2013.
Opinião
Turma da Mata – Muralha é o tipo de aventura que te faz rever os conceitos que você tinha sobre determinados personagens, mas sem perder a essência de cada um deles. Por trás da panca de guerreiro valente que um ressentido Coelho Caolho tenta vender para seu amigo de infância Jotalhão, está um pai amoroso que se preocupa com o bem-estar da família. Este, por sua vez, não confia na sua própria capacidade, mas não deixa de incentivar os amigos com suas boas ideias (baseadas em sua extrema capacidade de observação e memória prodigiosa, digna de sua herança como elefante). A determinada Rita Najura em seu papel de espiã está incrível, mas ao mesmo tempo dá pra ver que a “quedinha” pelo paquiderme verde está lá. Mesmo o rei Leonino, que sempre foi aquele personagem que dá vontade de socar, continua com sua essência intocada, porém com um quê de bravura que sabemos que está lá e que irá emergir se a situação assim desejar.
Com cores de tirar o fôlego e uma trama densa, porém condizente com o que foi proposto ao trio de artistas, esta história é uma daquelas que nunca será classificada como “datada”. Considerando o momento mundial atual, não é difícil ver pessoas do mesmo “país” disputando algo que é seu por direito recorrendo à guerra. A batalha iniciada por causa de uma Muralha no meio da Mata teve um final feliz, e isso nos um pouco de esperança que, um dia, o mundo também encontre respostas para seus problemas sem recorrer à violência ou a muros que separem seus iguais.