As mães afirmam que não fazem distinção de nenhum de seus filhos, que os amam por igual, que não existe favoritismo. Que existe amor, ninguém questiona, mas o favoritismo… nem sempre é fácil acreditar na inexistência dele. Dois Irmãos, dos gêmeos Moon e Bá, é uma obra que explora a relação entre dois irmãos fadada à incompreensão desde cedo. Culpa do amor exacerbado de uma mãe devotada? Culpa do excesso de rigor de um pai amargurado? Ou apenas… ciúme? Vamos descobrir nas próximas linhas.
A história
Manaus, um ano antes da Segunda Guerra Mundial. Yaqub, o filho mais velho, retorna para sua casa depois de 5 anos vivendo no Líbano, para onde seu pai o enviou depois de um desagradável incidente com o outro filho, Omar. O reencontro com sua família e com as paisagens de sua infância o fazem recordar do passado.
Aos 13 anos, tudo o que Yaqub queria era participar do baile de Carnaval e esperou ansioso pelo momento em que, pela primeira vez, poderia desfrutar da festa junto com os adultos e aproveitar para ficar junto de Lívia, a menina de quem gostava. Solicitado por sua mãe para levar sua irmãzinha para casa, ao voltar para o baile viu Lívia beijando seu irmão gêmeo, o Caçula Omar.
Passadas algumas semanas, na matinê de “cinema em casa” proporcionada por uma família amiga, Yaqub finalmente consegue realizar seu sonho e beija seu amor no escuro da sala, porém a que preço; o Caçula golpeia seu rosto com um caco de vidro e deixa uma cicatriz indelével não só em sua face, como também em seu coração.
Para evitar o pior, o pai dos dois, Halim, manda o filho para viver com parentes distantes em uma aldeia do Líbano. Longe do irmão mais velho, Omar vive como filho único, tendo como fiel defensora sua mãe, Zara, que parece não entender o quanto suas atitudes afetam a todos na família.
De volta ao presente, Yaqub pouco ficou com os pais. Estudou, superou suas deficiências no idioma, formou-se e partiu para São Paulo, onde prosperou e casou. Omar, pelo contrário, continuou como o bon-vivant que sempre foi, sufocado pela incapacidade de terminar algo que começou e pelo ciúmes da mãe e da irmã.
Desde então, toda vez que o caminho desses dois se cruzar, sempre virá à tona a rixa da infância. Poderão os dois superar tudo isso e ser apenas irmãos, não rivais? Zara conseguirá tratar ambos como filhos, não como posse? E Halim, o que fará para que sua vida volte a ter o mesmo encanto de quando se casou com o amor de sua vida? Convido vocês a buscar as respostas lendo a história.
Os autores e sua obra
Fábio Moon e Gabriel Bá são muito conhecidos do público brasileiro. Começaram em 1997 com o fanzine 10 Pãezinhos e desde então não pararam mais, conquistando reconhecimento nacional e internacional, inclusive publicando tiras no jornal Folha de São Paulo. Antes de Dois Irmãos, Moon e Bá publicaram pelo selo Vertigo Daytripper (publicado no Brasil pela Panini) e ganharam vários prêmios, dentre eles o Eisner.
Dois Irmãos é baseado no livro homônimo de Milton Hatoum, vencedor do Jabuti do ano 2000 e traduzido para oito idiomas.
Opinião
A história de Dois Irmãos é algo instigante de se acompanhar. Ao mesmo tempo em que você tem vontade de falar umas boas verdades para metade dos personagens, você quer acompanhar até o último momento até onde tudo aquilo vai chegar.
A narração deixada por conta de Nael, filho da empregada Domingas que está na casa desde sua tenra idade, dá um quê de familiaridade à obra.
O traço característico dos irmãos faz com que os personagens pulem do livro, ganhando vida própria e instigando o leitor a desvendar seus pensamentos, especialmente Zara e seu olhar que, com certeza, lê nossas mentes.
Mais uma vez os irmãos acertaram, adaptando uma obra da literatura brasileira como só eles poderiam. Mais uma edição digna de nossas estantes.