Olá pessoal, andei sumido por um tempão, eu sei. Mas como era esperado, o mestrado aqui não é brincadeira, to tendo que me virar em 2, 3 ou até 4 para dar conta de tudo. Devido a isso, não só diminui o tempo que consigo para escrever, mas minha vida entrou numa rotina que ficou difícil encontrar temas pra compartilhar com vocês. Mas vou tentar manter atualizações sempre que possível. Hoje vim pra falar de um assunto que tem me atormentado bastante. O VERÃO JAPONÊS.
Cigarras, festivais, melancia… Quem assiste animês ou doramas sabe que esses são símbolos de que o verão chegou por aqui. Pois é, as cigarras parecem que seguem um calendário, é o verão começar que o canto delas reverbera por todos os lados. Nos mercados as melancias dominam a área de frutas. E os festivais começam a acontecer por todos os lados.
Vou falar do meu ponto de vista, como uma pessoa que passou a maior parte da vida em São Paulo (interior e capital) e cuja vivência do verão japonês se resume principalmente a Kyoto e Fukuoka (mas também com passagens por Osaka e Tokyo): o verão japonês não é fácil. O final da primavera e começo do verão é marcado pela estação das chuvas (Tsuyu), quase um mês de chuvas quase ininterruptas, que amenizam a temperatura que vinha subindo na primavera. Pode ser chato ter que abandonar a querida bicicleta, meio de transporte mais comum em regiões onde a malha ferroviária não se expande bem (que é o caso da cidade de Kyoto, e da área mais rural de Fukuoka, onde vivo), e usar ônibus, mas após passar pelo primeiro verão, você começa a desejar que a estação das chuvas não acabe nunca. Um calor intenso, cujas temperaturas ultrapassam facilmente os 35 graus, chegando a 40 já nas primeiras semanas, somado a uma umidade que torna o ar abafado e pesado, e um desfile dos maiores e mais medonhos insetos que nenhum designer de pokémon é capaz de superar. Ou como eu gosto de resumir: um inferno na terra. Quando eu reclamo do calor aqui, sou frequentemente questionado: “Ah, mas você não vem de um país tropical? Aposto que o verão de lá é quente”. Não sei se minha memória é curta, mas eu sempre costumo responder que, ao menos em São Paulo, há calor o ano todo (ou pelo menos a maior parte do ano), mas não é tão intenso quanto aqui. Por outro lado, também só posso falar sobre os lugares daqui que conheço. Kyoto é conhecida por ter um clima peculiar, por ser cercada de montanhas por todos os lados, o que aparentemente cria um fenômeno atmosférico que intensifica o calor (não entendo nada de Meteorologia, só estou reproduzindo o que ouço das pessoas aqui), e Fukuoka é uma cidade litorânea recebendo forte umidade do mar.
Para combater o calor, os estabelecimentos e casas são equipados com ar condicionado. Porém, tenho a impressão que ninguém sabe usar esses equipamentos direito. Enquanto no inverno nós vestimos todas as roupas do nosso guarda-roupa e quando chegamos aos lugares somos obrigados a fazer strip-tease porque o aquecedor está configurado pra temperatura “Cáncun”, no verão nós vestimos o mínimo possível, usamos vários produtos para refrescar (como adesivos e sprays que causam uma sensação de refrigeração no corpo), mas ao chegarmos aos lugares somos recebidos com a temperatura de um aquário de pinguins. O resultado disso, muito resfriado e minha sinusite explodindo. No meu caso, ainda tenho que lidar com uma casa pouco arejada e equipada com um único ar condicionado na sala que é pequeno e pouco eficaz. Mas ainda há o outro problema que é pior que o calor, e piora o calor: Os insetos. Se você acha maravilhoso o som das cigarras nos animês, criando aquele clima de melancolia ou de terror, espera até uma cigarra entrar voando pela sua janela. E não só de cigarras vive o verão japonês. Os parques e qualquer moitinha se enchem de crianças se achando os verdadeiros Ash Ketchum da cidade de Pallet, com suas caixinhas de vidro e redes para pegar seus besouros-hercules. Alguns lugares (como o meu campus) se enchem de lagartas, além das malignas centopeias. Esqueça aquele vilão bonitinho composto de bolas do Mario, as centopeias aqui são assustadoras e dotadas de um ferrão venenoso, representando real perigo. Mas é claro que eu não poderia deixar de falar do meu maior inimigo: as baratas. Pensem que a região que moro é uma área rural e litorânea em processo de urbanização. Ou seja, baratas de esgoto, baratas do mar e baratas montanhosas se encontram no cruzamento aqui de casa e criam uma legião de seres mutantes para dominar o planeta. Sabe Terraformars, então, tá quase lá.
Mas não só de sofrimento é feito o verão japonês. Os festivais mais importantes e interessantes acontecem justamente nessa estação. O mais conhecido entre os brasileiros é o Tanabata, apesar deste não ser tão intensamente celebrado nem em Kyoto nem em Fukuoka. Isso porque lá eles tem o Kyoto Gion Matsuri, e aqui temos o Hakata Gion Yamakasa Matsuri. São experiências culturais interessantes onde vemos uma cultura tradicional tão viva nos Yukatas que circulam pelas barraquinhas, que parecem uma versão oriental das nossas quermeces. Além disso, para os otakus, o verão também traz o primeiro Comiket do ano. A edição de verão do maior evento de mangá e doujin do mundo ocorre em meados de agosto, com o início das férias escolares. E apesar de ser uma péssima ideia se enfiar num prédio lotado de pessoas em meio a um calor de 40 graus. Eu fiz isso em 2013, foi uma ótima experiência, mas particularmente, eu recomendo que quem quer conhecer o Comiket espere pela edição de inverno que é muito mais agradável. Já deu pra ver que eu não sou grande fã do verão japonês, visto que não consigo enumerar muitas coisas positivas. Para falar a verdade eu tinha planos de fugir do verão esse ano, visitando o Brasil, mas meu plano acabou não dando certo. Só me resta enfrentar o desafio e esperar pela estação maravilhosa do outono, com suas cores, temperaturas amenas, Halloween e meu aniversário! Até logo! Câmbio, desligo.
PS: Minha obsessão da semana não poderia ser outra senão o assunto mais bombástico em todo o mundo: Pokémon Go. Por incrível que parece, apesar de o Japão ser a terra mãe dos Pokémons o jogo não foi lançado por aqui ainda (às 13 horas do dia 15 de julho) e assim como no Brasil, os servidores estão bloqueados, o que significa que mesmo adquirindo o jogo por meios alternativos, nada aparece no mapa (diferente de Portugal ou do Reino Unido, onde mesmo antes do lançamento oficial, já era possível jogar por meio de gambiarras). Havia boatos de que o jogo seria lançado na segunda-feira desta semana, ao meio dia, sabendo desses boatos, mas no momento mais curioso do que empolgado, eu acabei abrindo o app exatamente ao meio dia, e pra minha surpresa estava realmente funcionando. Num primeiro momento pensei “Ah, mais tarde eu faço isso”, visto que eu estava me recuperando de um resfriado e estava chovendo lá fora. Mas a curiosidade foi tanta, que resolvi ir dar uma volta na estação, onde há uma área bastante movimentada para o jogo. Após cerca de uma hora de caçada, nenhum pokémon mais aparecia, e logo o mapa voltou a ficar deserto. Essa uma hora só fez a minha curiosidade se transformar em uma empolgação intensa e fulminante. Agora estou aqui, passando meus dias garimpando informações sobre a possível data de lançamento, e abrindo o app de cinco em cinco minutos, na esperança do servidor estar online. Temos que pegar!
Meu, odeio calor e verão, mas tenho absurdo interesse nesses festivais de verão. Parece que vou sofrer no dia que finalmente realizar esse sonho kkk
Cara, nem me fala. Em 2013 passei uma semana em Tokyo (para o Comiket) e numa das noites eu fui num desses festivais. O festival era demais, mas eu não conseguia curtir nada, primeiro porque estava tão quente que o suor empapava minha roupa (de noite hein), segundo porque tinham cigarras gigantes voando por todos os lados naquele parque, me fazendo encolher igual um tatu-bola. Enfim, os festivais são ótimos, mas pra mim é bem difícil curtir. Prefiro festivais em outras épocas. Como a parada de Youkais que rola em Kyoto no outono.