Olá pessoal, estou aqui essa semana para compartilhar uma nova experiência. Quem me conhece bem, sabe que vida noturna não é muito a minha praia (ou pelo menos não o tipo de vida noturna que a maioria das pessoas pensa: baladas, bares, etc). Porém, devido à insistência de amigos, no último ano eu fui algumas poucas vezes em baladas e bares aqui no Japão, na maioria das vezes para confirmar o que eu já sabia: não é minha praia. Pra começar, devo chamar atenção para o fato de que tanto balada quanto “diversão LGBT”, são conceitos à primeira vista muito distantes do contexto japonês. Em minha pouca experiência até agora notei que o público que frequenta baladas aqui é muito específico, composto por residentes estrangeiros ou japoneses com uma tendência à ocidentalização. Isso fica bem claro na música, que é em sua maioria esmagadora rap e eletrônica estrangeira (geralmente em língua inglesa). Como não sou muito fã de bebidas alcoólicas (um dos principais “atrativos” da vida noturna), a única coisa que poderia atrair minha atenção é a música, e é justamente ela que me frustra. Com tantas artistas pop lançando álbuns completos que renderiam 1 ano inteiro de pista de dança, eu não consigo entender porque os DJs tocam tantos raps desconhecidos e quando finalmente escolhem um pop top das paradas, usam uma versão remixada que tira o ritmo, apaga a maior parte para repetir um único trecho, ou colocam uma batida eletrônica repetitiva no lugar do refrão. Para alguém como eu, que passa a maior parte do tempo escutando música, isso é frustrante. Depois de muito reclamar sobre isso para diversos amigos, ouvi sempre a mesma resposta: “Amigo, você precisa ir numa balada gay. Lá vai tocar o tipo de música que você gosta.” Guardei essa informação com 60% de desconfiança e 40% de esperança. No ano passado um amigo me convidou para ir num bar na “área gay” de Fukuoka (uma rua que reúne praticamente todos os bares voltados para o público gay da cidade). Quando falo bar, é necessário deixar claro que não é uma balada, é realmente um bar, onde você senta em uma mesa com seus amigos ou ao balcão, geralmente há um karaokê onde a galera canta (aí sim) músicas pop (e jpop: Koda, Ayu, Namie! seria meu sonho?) e devido ao espaço consideravelmente reduzido, desconhecidos interagem entre si, possibilitando conhecer novas pessoas e exercitar aquela paquera marota (já que na sociedade japonesa, as chances de uma paquera homossexual são absolutamente reduzidas pela discrição das pessoas e pela dificuldade de usar o “gaydar”). Apesar de ter achado essa experiência mais divertida que as baladas, ainda assim não foi nada que me fizesse querer virar um frequentador assíduo, especialmente porque eu dificilmente fico naquele estado de solteiro “disponível para paqueras”. Ainda me restava, porém, a vontade de ir em uma BALADA LGBT (intensificada pelo vício em vídeos da Silvetty Montila e outras drags). Pensei em ir quando viajei para Tokyo, mas faltou tempo e coragem. Posteriormente, no início deste ano, recebi de um amigo um panfleto de uma festa LGBT em uma balada aqui em Fukuoka. Porém era muito próximo à data de alguns trabalhos e não pude ir. Então, no início de Julho veio a segunda oportunidade, outra festa LGBT em outra balada de Fukuoka. Juntei meus amigos, botei a coleira no namorado e lá fomos nós. A primeira sensação, já à porta do local foi de acolhimento. A parede invisível que é colocada entre mim e meu namorado na vida diária desaparece e há uma sensação muito grande de liberdade, quase como àquela de sair do armário. As pessoas são simpáticas e tentam fazer amizade, de um jeito menos invasivo do que ocorre nos bares gays, por exemplo. Quando à música, ainda continuei frustrado, durante a maior parte do tempo os djs se resumiam aos mesmo raps e putz-putz desconhecidos (ou talvez conhecidos apenas nesse meio das baladas, vai saber). Porém, quando a DJ lésbica assumiu o comando, vez ou outra, uma boa música pop vinha para alegrar o coração e provar mais uma das minhas teorias, minha impossibilidade de dançar em balada não é timidez, é falta de músicas boas pra dançar, eu simplesmente não tenho vontade de dançar algo que eu não conheça ou não me sinta envolvido pelo ritmo. Para completar tivemos shows de drag queens japonesas e estrangeiras, que dublaram músicas pop e de musicais, e perto do final da noite tivemos um sorteio de um kit de brinquedos eróticos. Curiosamente o número sorteado foi 24, e pra minha surpresa era o meu número (vale dizer que esse número tem me dado sorte, tendo sido também o número da minha inscrição no mestrado). Se quiserem saber mais sobre diversão LGBT, ou sobre a vida LGBT em geral aqui no Japão, comente aqui embaixo com sugestões de tema e dúvidas. Até a próxima postagem! PS. Desta vez eu preciso falar de duas obsessões atuais Harry Potter and The Cursed Child, o livro script da peça que está sendo encenada em Londres e que dá continuidade à história de Harry Potter. Eu recebi dois dias depois do lançamento, e não dormi aquele dia enquanto não terminei a leitura. O livro não tem a complexidade e profundidade da obra original da JK Rowling, mas apela para os sentimentos nostálgicos dos leitores, e tem sim um enredo intrigante que te faz devorar a história para saber o seu desfecho. E acima de tudo, tenho que dizer que Scorpius Malfoy se tornou um dos meus personagens prediletos de toda a série Harry Potter. Além do bromance dele com Albus (que me faz pensar que faltou ousadia da equipe para realizar realmente um casal gay de protagonistas), a personalidade dele é simplesmente muito difícil de não se apegar, pois ele demonstra uma bondade e pureza genuínos, sem moralismos ou hipocrisia, especialmente se contrastado com a personalidade meio rebelde sem causa do Albus, que é uma cópia do pai em sua fase aborrecente.Minha segunda obsessão é… Stranger Things. Depois de ver quase toda a minha timeline do facebook, além de alguns youtubers queridos elogiando a série, eu fiquei muito curioso. Mas foi o comercial estrelado pela Xuxa que me fez pegar o tablet e dar play no episódio 1. Como todo mundo já falou eu acho que eu descrever a série seria chover no molhado. Então vou só me contentar em dizer o quão impressionado eu fiquei em ver uma série voltada para o publico adulto, mas que também pode ser assistida por mais novos que riem na cara do perigo (pelo clima de terror moderado), em outras palavras, “Olha só, eles conseguem fazer uma série interessantíssima, que te prende do começo ao fim, que alcança um sucesso imediato, sem precisar colocar nenhuma cena de sexo!” Stranger Things é um prato cheio pros que cresceram nos anos 80 e 90 rodeados por cultura pop, e claro, pode ser facilmente apreciado por mais velhos ou mais novos que tenham tido acesso a essa cultura. Mas é o público nerd que vai ao delírio com a turma de “Goonies” jogando D&D explicando partes essenciais do plot usando um tabuleiro de TRPG.
Jovem otaku/geek/nerd, mestrando em Literatura Comparada na Universidade de Kyushu, tendo como foco culturas de massa (animê, mangá, light novel). Membro do clube de acapella HarmoQ, e viciado em livrarias e lojas de produtos de animê.
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