Eles foram perseguidos por um adversário cruel, cercados pela escuridão, envolvidos em uma briga “literalmente” insana e na luta entre duas irmãs que nunca se entenderam como deveriam… E finalmente tudo terminou.
Fábulas, um dos melhores títulos sob o selo da Vertigo e trazida de forma completa ao Brasil pela Panini Comics, chega ao final de forma discreta, porém efetiva. O JWave releu a trama toda e conta o que achou neste JQuadrinho.
O Adversário e as irmãs gêmeas
Fugindo de um terrível destino, deixando suas histórias, terras, fortunas e algumas lembranças dolorosas para trás, personagens que estão na maioria dos contos de fada que ouvimos desde pequenos chegam ao Novo Mundo. Nova Iorque passa a abrigar essa pequena comunidade mágica em um grupo denominado Cidade das Fábulas. Para as fábulas que não podem passar por seres humanos, existe uma área no campo denominada “Fazenda” e lar de estrelas como os Três Porquinhos.
Devidamente anistiados por transgressões passadas e misturados aos mundanos, as fábulas cuidam de suas vidas, ao mesmo tempo em que um dia sonham em voltar às Terras Natais, tomadas pelo Adversário, uma figura misteriosa e cruel.
Embora a Cidade das Fábulas tenha um prefeito no papel, ela é efetivamente governada pela Branca de Neve, ex-esposa do Príncipe Encantado e com um gênio terrível escondido sob um rosto encantador. Ela manda em tudo e todos, inclusive no xerife e ex-Lobo Mau Bigby, devidamente regenerado. Além dos assuntos políticos que sempre tomam seu tempo, Branca tem um desafeto: sua irmã gêmea, Rosa Vermelha, que faz de tudo para tornar sua vida um inferno.
Um dia, após uma revolução na Fazenda que custou a morte de muitas fábulas, Rosa assume o comando do local e parece finalmente tomar jeito, especialmente após o Adversário declarar guerra à Cidade das Fábulas e Branca ficar grávida de um jeito inusitado e de um parceiro um tanto quanto improvável.
A derrota do Adversário e a ascensão do Senhor Escuro
Foi uma luta sangrenta. Vários perderam as vidas para que as fábulas finalmente fossem livres. Quando o inimigo se revela, planos são traçados, batalhas travadas e esperanças se renovam.
Gepeto é a verdadeira face por trás do Império e, por mais que tente destruir completamente o legado das fábulas sobreviventes, não foi páreo para as estratégias inteligentes de Branca e seus companheiros, nem para as armas modernas que eles aprenderam a usar ao longo dos séculos e muito menos para o poder que mora na lenda de um rei há muito esquecido. Eles vencem; mas na imprudência dos vencedores reside a oportunidade para que uma força maligna há muito selada escape uma vez mais, trazendo novamente o caos: Duladan, o Senhor Escuro.
Rumando para a destruição
Ao dominar completamente seu poder outrora selado, o Senhor Escuro espalha sua maldade, que toma a vida de alguns e cria influência naqueles que uma vez foram tocados pelas trevas. Mais estratégias são traçadas e equipes formadas ao mesmo tempo em que o passado retorna para atormentar aqueles que estão em paz com ele.
Quando um sacrifício é feito e uma profecia recitada, as fábulas mais uma vez vencem a dura batalha, mas precisam lidar com o fato de que Branca é confrontada com algo que já havia esquecido há muito e, finalmente, entendemos de onde vem a antipatia entre as irmãs que se amavam quando crianças. Rosa precisa assumir um papel desagradável e sua irmã é tragada para, finalmente, fazer as pazes com seu passado.
Um final até que feliz
Branca perdeu uma de suas filhas para que esta se tornasse a rainha de uma terra devastada. Para salvá-lá, seu irmão mais velho deu a vida em um ato heroico e triste. Para piorar, aquele passado do qual Branca mal lembrava volta e lhe tira mais um ente querido, o que ela não pode perdoar e faz com que a engrenagem do destino comece a rodar.
Por causa dessa atitude, mais uma vez a magia anseará por reparação e as duas irmãs se levantarão uma contra a outra, mas em uma batalha que pode ser definitiva até para uma fábula.
Mas dessa vez o final feliz impera; graças à dica de um amigo, Rosa finalmente entende que não precisa de nada disso e encerra a contenda de forma inteligente e convincente, mesmo que para isso precise se separar da pessoa que mais ama.
Os filhotes de Fábulas
Engana-se quem pensa que Fábulas ficou só na série regular. João das Lorotas ganhou sua própria revista, que explorou sua natureza canalha e trouxe à baila um monte de outros personagens não citados em Fábulas em tramas meio irritantes. Ele volta brevemente à série regular no volume 13 e sua participação dá um empurrãozinho para que Rosa Vermelha comece a mostrar novamente quem manda na Fazenda. No Brasil, a série não foi concluída e não há previsão de retomada.
Esclarecendo melhor alguns pontos obscuros da série regular (como a relação entre alguns personagens e os destinos que eles tiveram em determinados pontos da trama), surgiu o spin-off “As Mais Belas Fábulas” (Fairest, no original), que de longe é o melhor de todos os que foram publicados aqui (destaque para a aventura de Rapunzel com as fábulas japonesas), faltando um volume para sua conclusão.
A Panini também trouxe dois especiais com a Cinderela, que exploram sua atividade paralela de agente secreta e um com Bigby, que lida com a consequência de ter revelado sua natureza de fábula a pessoas selecionadas enquanto sabotava os planos nazistas. Também houve uma participação de alguns personagens em outro título da Vertigo publicado no Brasil, “O Inescrito”, no volume 10 – Fábulas Inescritas. Na minha opinião, esse volume foi um desserviço ao legado das Fábulas, ainda que se considere a natureza da trama de Tommy Taylor.
Por último, mas não menos importante, 1001 Noites de Neve pode ser considerado um piloto para a série. Branca de Neve está tentando fechar um acordo com as fábulas árabes e, enquanto luta pela sua vida, conta histórias da comunidade a um sultão carente de compaixão.
Além dos três últimos volumes de João das Fábulas e do derradeiro volume de Fairest, permanecem inéditos no Brasil “The Wolf Among Us” (O Lobo Entre Nós, 2 volumes) e “Fairest in All the Land” (As Mais Belas de Toda a Terra), uma coletânea de histórias curtas.
Opinião
Depois de Sandman, Fábulas foi o título da Vertigo que mais me prendeu a atenção. Ver personagens tão familiares tomando rumos totalmente distintos dos que estamos acostumados me despertou os melhores sentimentos.
Os personagens são todos carismáticos e percebe-se um trabalho minucioso dos autores ao pesquisar desde a “super star” Branca de Neve” até o obscuro mas encantador Garoto Azul. Com exceção do arco dos literais (que, cá entre nós, foi um porre), não teve uma só trama que não fosse digna de atenção e que me deixasse desesperada para saber o desfecho.
Não sei como foi o desempenho da obra no Brasil, mas gostaria muito que ela fosse relançada nos mesmos moldes de Y – O Último Homem: em uma versão de luxo destacando as capas deslumbrantes e recheadas com aquela quantidade enorme de extras que todos nós amamos. Espero também que a editora publique no Brasil tudo o que falta da história, pois, mesmo com filhos menos interessantes como o João das Fábulas, é uma trama completa e digna de ser lida em todas as suas manifestações. Vai deixar saudades.