Amado por uns, odiado por outros, finalmente Bleach chega ao fim no Brasil; a edição de número 74 foi lançada na CCXP e já pode ser encontrada nas bancas e lojas especializadas.
Depois de me esquivar do volume final de um dos meus mangás favoritos durante meses (e ameaçar quase todo mundo com medo de spoilers), finalmente posso dar meu parecer neste JMangá.
Relembrando a primeira parte
Tudo começa com um colegial meio delinquente, Ichigo Kurosaki, que é capaz de enxergar espíritos. Um dia ele acaba esbarrando na shinigami Rukia Kuchiki, que está tentando capturar um Hollow, criatura que “come” os espíritos errantes, impedindo que eles sigam seu caminho.
Ichigo acaba meio que atrapalhando o trabalho de Rukia e envolvendo sua família na caçada. Para ajudá-los, o garoto pega emprestado os poderes dela e acaba roubando tudo, sendo obrigado a fazer o trabalho dela enquanto a situação não é revertida.
Nesse processo, Ichigo acaba sabendo mais sobre a Soul Society, local onde os shinigami moram e para onde as almas por eles salvas são enviadas. Rukia, por sua vez, torna-se uma colegial e assistente de Ichigo e acaba fazendo amizade com os humanos e passando a se importar mais com todos. Sado e Orihime, amigos de Ichigo, também desenvolvem habilidades especiais e tudo isso acaba despertando a atenção da Soul Society, que acaba prendendo Rukia.
Ichigo e seus amigos partem para salvá-la e é aí que começa o primeiro grande arco de Bleach, a saga da Soul Society, que é a única que faz algum sentido. Depois disso, a história fica bem esquisita.
Discutindo a obra
A verdade é que, tirando o primeiro, os arcos de Bleach começam de maneira grandiosa, prendendo o leitor de todas as formas possíveis, mas o autor se perde no final. Ele cria personagens incríveis (como o coringa para todas as horas Zaraki), mas na maioria das vezes esquece deles.
Quando os personagens reaparecem, a gente nem lembra onde eles estavam e o porquê deles não terem sido cogitados para resolver aquela treta em específico. Fora as soluções mirabolantes, como o pai de Ichigo ser um shinigami meio aposentado e a mãe dele uma quincy, cuja maioria dos representantes foi dizimada pela Soul Society.
Fiquei especialmente chateada com a última grande saga de Bleach, onde o chefão quincy faz e acontece (e na qual a gente vê quase o elenco todo morrer que nem barata); o cara tem um monte de subordinados com nomes impronunciáveis, tem poderes que não podem ser superados por ninguém, os discursos de vilão mais épicos… e é derrotado de um jeito tão sem graça, que te faz questionar o porquê de ter acompanhado a saga até ali.
Opinião
Quem leu até aqui deve estar pensando: nossa, e essa aí se diz fã de Bleach? Sim, sou uma fã ardorosa de Ichigo e seus amigos e é exatamente por isso que sou sincera ao dizer que fiquei muito aborrecida com o rumo que a história tomou.
Quando comecei a ler, tinha certeza que Ichigo e Rukia passariam o inferno por causa de suas escolhas equivocadas (cheias de boa intenção), mas que superariam tudo e ficariam juntos no final. É o que você espera depois de um resgate daqueles na Soul Society e de todo o drama mexicano envolvendo as origens de todos os personagens… mas eu fui enganada.
Claro que mangás shonen têm a premissa do “vencer o impossível” e Bleach cumpriu esse requisito. Mas nunca imaginei que o caminho dos dois seguisse de forma separada. Na verdade, Ichigo nunca me pareceu sentir algo por Orihime além da amizade, o que me deixou com a sensação desagradável de que a garota casou com ele se conformando com a posição de prêmio de consolação.
Acompanhei tantas sagas onde o laço deles parecia ter ficado mais forte só para ver Renji Abarai, amigo de infância de Rukia e seu colega shinigami, mandar no meio da batalha final uma confissão: de que Ichigo os reaproximou. Quando vi o olhar do garoto após a revelação, saquei que esse seria o último plot twist da obra.
Não bastou a espada do Ichigo ser uma… projeção do quincy chefão, nem o casamento dos pais dele ser um verdadeiro embuste, nem o combo (luta × 3) + (bravatas mil) + (bankai manjada) + (bankai inédita) = Zaraki resolve tudo no final ser sumariamente esquecido, ou tantas sagas que tinham tudo para serem espetaculares terminarem de modo medíocre: o casalzinho dos sonhos não ficou junto.
Vendo por esse lado, não adianta elogiar o traço do mangá que melhorou 1000% nesses anos todos (antes os personagens eram apenas testa), os esforços do autor em tentar chamar nossa atenção criando soluções mirabolantes para problemas que ele mesmo não pensou que seriam impossíveis de resolver ou ter se apaixonado pela obra de forma irreversível. Mesmo assim, meu coração foi partido no fim.
Vocês podem dizer que sou fútil, que mangá não é que nem novela da Globo que tudo se acerta no final e mais um monte de outras coisas. O fato é que, para mim, aqueles dois eram almas gêmeas. Foi por isso que se encontraram naquele primeiro volume, que compartilharam poderes, mobilizaram amigos e aliados e chegaram vivos no final. Se um mangá que fala de espíritos quase o tempo todo não junta as peças no final, qual juntará?