A Netflix divulgou primeiro trailer da série animada de Cavaleiros do Zodíaco e sabemos toda polêmica que deu ao ser revelado que Shun se transformou numa personagem feminina chamada Shaun.
De acordo com material enviado para imprensa, a série é definida como:
Sobre Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco
Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco acompanha as aventuras dos jovens guerreiros conhecidos como “Cavaleiros”, os protetores jurados da deusa grega Atena reencarnada. Cada cavaleiro veste uma poderosa armadura baseada em uma das constelações do zodíaco. Chamados de Os Cavaleiros do Zodíaco, eles ajudam Atena em sua batalha contra poderosos deuses olímpicos que planejam a destruição da humanidade.
Dirigido por Yoshiharu Ashino. Editor de histórias e roteirista-chefe: Eugene Son (Os Vingadores Unidos). Design de personagens: Terumi Ishii. Design das armaduras: Takashi Okazaki. Produtora: Toei Animation.
Em resumo, a série não parece muito diferente da sua versão original, porém o roteirista Eugene Son fez alterações e explicou suas diferenças, gerando uma polêmica que resultou nele excluindo sua conta de Twitter.
Assumo que num primeiro momento, relutei um pouco em divulgar aqui o trailer, porque sai incomodado e com gosto amargo sobre o papel de Shun ter sido substituído por uma personagem feminina com a explicação de minoria, democracia e tornar uma luta não só de homens.
Nascendo nas páginas da Shonen Jump nos anos de 1980, Saint Seiya nasceu pra o seu público alvo, trazendo heróis masculinos pra agradar os garotos de sua geração. Existia casos de heroínas nas revistas? Lógico que sim, mas mesmo Arale fazendo sucesso, seu mangá tinha título de seu criador, o Dr. Slump.
Sendo dúbio entre masculino e feminino, Shun era zoado, mas ao mesmo tempo preenchia uma lacuna que estava enraizado na cultura japonesa. Podendo ser visto e definido como androgenia, estamos falando de um contexto histórico em que teatro do Japão foi interpretado só por homens por séculos, após uma série de transformações que impediram as mulheres de subir num palco por lá. Isso agregado a um biótipo asiático que permite essa transição, não só influenciou ficção, mas histórias reais de homens que se disfarçaram de mulheres na história do Japão e da Ásia em geral.
Na cultura pop, ela está presente em Cavaleiros do Zodíaco na forma do Shun que veste uma armadura de mulher e tem um visual feminino, mas é um homem. Só que ela não é a única obra que é pensada assim, porque temos outros exemplos da animação japonesa, como em Yu Yu Hakusho com Kurama, seja na sua forma humana como na sua forma original.
Esse caminho de desenvolver personagens masculinos sensíveis, como foi definido por alguns, temos em outros gêneros, como Yukito em Card Captor Sakura. Alias criado pelo Clamp que fez uma série de personagens assim, como RG Veda do começo de anos 90 em que a personagem não é e nem pode ser classificado como Homem e muito menos como mulher.
O vilão Bijomaru Mogami no filme Azumi que sua beleza no filme é comparada a de uma mulher foi baseado em histórias que realmente aconteceram naquele período do Japão feudal.
No cinemas, temos temos o protagonista do filme Gohatto de 1999 que explora a transição do Samurai na fase adulta despertando interesse de outros samurais.
Mas será que hoje em dia esse clichê continua? Sim, em Naruto e outras séries também temos essa lacuna, até mesmo na continuação de Cavaleiros temos o filho do Shiryu em Ômega, Ryuho, que segue esse perfil.
Enraizado na cultura japonesa, talvez se perca sentido no ocidente e seja ridicularizado. Esse tipo de personagem não está escrito em nenhum manual, mas é um estilo que sempre existiu.
Só que no momento que você pega esse tipo de personagem e transforma num do sexo feminino, você não democratiza uma gama de personagens, mas facilita não ter polêmicas sobre ele. Principalmente quando ele carrega estigmas de fragilidade que eram recorrentes em personagens femininos, você retira o diferencial, banaliza e o torna comum.
No fim, a sensação que passa é que se faz isso para evitar polêmicas pra quem não conhece a obra ainda e esse contexto talvez obscuro do Japão.
Em tempo, torço pela releitura de Cavaleiros do Zodíaco, porque ela herdou diversas coisas das versões mais recentes. Seja medalhão que se transforma em armadura, ou Cavaleiras mulheres introduzidas em Ômega e hoje fazendo sucesso com Saintia Sho.
A cultura japonesa não é algo fácil de ser entendida por todo mundo, por isso esse tipo de alteração é feita para universalizar uma história. Discordo da forma que foi feita, mas já houveram casos como na França, em que o Cavaleiros de Peixes foi adaptado lá pra ser uma mulher.
Será que Cavaleiros do Zodíaco passou pro lado do politicamente correto? Isso descobriremos com a repercussão que o trailer teve e quais as medidas que a Netflix tomará, depois da repercussão negativa no Twitter sobre a alteração de Shun, além de alteração de nomes e outras coisas que foram divulgadas em seu primeiro trailer.
Assista, divirta-se, mas em especial, saiba que a nova versão não irá anular qualquer versão anterior da série. É realmente uma pena que o roteirista tenha entendido errado sobre o peso do Shun ali, mas não necessariamente a versão produzida pela Netflix irá anular a animação clássica ou o mangá original. Então, demonstrar sua opinião sobre o Shun é um desabafo, mas não necessariamente recrimina em uma reimaginação da nova série.