Não é de hoje que as séries e filmes produzidos na Coreia do Sul ganham noticiário, devido a onda pop coreana que conquistou o mundo. Seja musicalmente, série, jogos, desenhos e inclusive ganhando Oscar, os sul coreanos conseguiram popularizar o seu país pela cultura.
É verdade que não devemos esquecer que a Ásia tem uma exportação cultural muito forte, com diretores como Akira Kurosawa, ou também com artistas de filmes e artes marciais, como Jackie Chan. Só que lamentavelmente o sucesso deles se exportava a produção de um remake ou a vinda do próprio Jackie Chan para filmes ocidentais.
A culpa é do Ocidente?
Normalmente sempre procuramos um culpado, quando as coisas não dão certo, mas na verdade estamos presos a escolhas de executivos que não acreditavam na demanda daquele produto.
Um dos pontos de partida conhecido é o filme do Godzilla de 1954, quando este foi lançado em 1956 para os americanos, incluindo novas cenas do ator Raymond Burr, tornando a produção mais “ocidentalizada”.
Nos anos de 1990, tivemos o surgimento da fórmula “Power Rangers” que reforçou ainda mais isso. Em que se pegava seriados japoneses do gênero Super Sentai, retirava as cenas dos atores japoneses e inseriram cenas de atores americanos, trocando o cenário para os EUA. O resultado eram heróis americanos utilizando cenas de heróis japoneses. A fórmula deu certo e até hoje é praticada.
Mas a pergunta que fica… Realmente a história sempre precisa passar nos EUA hoje em dia? Com a abrangência cultural dos serviços de streaming e a popularização de séries como “La Casa de Papel” da Espanha, “Amor e Anarquia” da Suécia, “Round 6” da Coreia do Sul, fica a dúvida se realmente devemos ficar sempre refém de produções onde os protagonistas são personagens americanos.
Assim, quando a Disney decidiu abrir seu streaming, a Netflix teve que se reinventar para preencher a lacuna das produções que estavam saindo de seu catálogo. Uma das soluções foi investir na Ásia, seja em animês e doramas no Japão, mas principalmente nas produções de doramas também na Coreia do Sul.
O sucesso está na Ásia?
Quando a Netflix rompeu as barreiras do licenciamento mundial, produzindo séries em vários países, lançando de forma simultânea em mais de 170 países, fez com que agradasse países que têm o serviço, mas apresentasse uma diversidade nunca vista antes de protagonistas de diferentes idiomas e narrativas próprias.
Quando vamos para a Coreia do Sul, vemos uma aliança tão forte com as emissoras locais que o ranking da Netflix local acaba se tornando 100% de produções produzidas no próprio país. Quando se olha no restante da Ásia, acaba que essas produções também fazem muito sucesso no Japão e outros países próximos. Agora, quando olhamos no Brasil, existem semanas pontuais que podem acabar até 3 séries coreanas no top 10 brasileiro da Netflix.
Ao mesmo tempo, serviços como Disney+ apostou no seu catálogo próprio e acabou tendo um início complicado em 2022, quando perdeu diversos assinantes na Coreia do Sul. Qual o motivo? É que a ausência de títulos produzidos por lá, se limitando a poucas séries como Snowdrop, afastaram o público que procurou outras opções que representavam mais eles por lá.
Então hoje, o que acontece é que para esses serviços se manterem relevantes na Ásia, precisam fomentar a indústria local, ao mesmo tempo que usar esse potencial para conquistar o público de outros países.
Existe espaço para heróis americanos como Power Rangers hoje em dia?
Sinceramente por mais que Power Rangers ainda use a mesma fórmula criada nos anos de 1990, a resposta é não. Acreditamos que já passou da hora de séries desse tipo apostar em outras nacionalidades e até mesmo deixar de usar cenas de uma produção asiática a trocando por atores americanos.
Por mais que Power Rangers também seja uma parceria Hasbro com a Netflix, ela herda características que desvalorizam a obra original, por um estigma que seja mais comum heróis americanos do que de outros países.
Então torço para mais remakes que não impedem as versões originais estarem disponíveis, como o recente La Casa de Papel: Coreia que anda junto da sua versão original espanhola, do que produções como Power Rangers que impedem as versões originais japonesas de serem licenciadas no Brasil. Lamentavelmente existiu uma época que até acreditamos que isso teria mudado com os DVDs das séries japonesas sendo lançados nos EUA, porém quando tivemos a produção sendo assumida pela Hasbro, voltamos a sermos limitados de consumir suas versões originais novamente.