Sucesso mundial, “Alice in Borderland” tem conquistado novos fãs neste ano com a chegada da segunda temporada, na semana passada. Conquista esta que, cabe ressaltar, vale uma verdadeira medalha de ouro. A trama japonesa contabilizou nada menos do que 77 milhões de horas assistidas na segunda temporada, além dos 30 milhões da primeira. Tamanho volume colocou a série na primeira e segunda posição mundiais da Netflix, na categoria de obras de idioma não-inglês.
O enredo traz uma combinação perfeita para que o espectador não desgrude os olhos da tela. Estão presentes os jogos crueis e mortais, conflitos entre os players, cenários distópicos e a agonizante luta dos protagonistas para se manterem vivos. Tudo isso dentro de uma trama alucinante que faz alusão ao conto de “Alice no País das Maravilhas”.
A estreia da primeira temporada aconteceu em 2020. Logo “Alice in Borderland” foi comparada a outros títulos como “Battle Royale” e “Jogos Vorazes”. Contudo, não resta dúvidas que a explosão de “Round 6”, em 2021, alavancou a série japonesa, quando parte do público extasiado com a série sul-coreana descobriu “Alice”, produzida um ano antes.
Mas, afinal, qual é a fórmula de sucesso de Alice in Borderland? Por que a série se tornou um fenômeno mundial? Algumas pistas dão o caminho para a escalada da série no gosto do público:
1 – Do mangá para as telonas
Alice in Borderland nasceu nos mangás, criado por Haro Aso nas páginas da Shonen Sunday S da editora Shogakukan. O título acabou mudando de revista no meio da publicação, chegando na Shonen Sunday em 2015. Lançada com título de Imawa no Kuni no Arisu, a obra foi concluída em 18 volumes, saindo na mesma casa de títulos, como Detetive Conan, Magi, InuYasha entre tantos outros.
O título será publicado no Brasil pela Editora JBC e teve um total de 18 volumes.
2- Diretor de sucessos de mangás
Para a adaptação de Alice in Borderland, o diretor Shinsuke Sato foi convocado para a produção da Netflix. Ele não só assumiu a direção, como o roteiro da adaptação também tem assinatura dele, sendo possivelmente o maior motivo do sucesso da adaptação.
Todos os acertos da produção em filmar em Shibuya, utilizar combinação de técnicas como telas verdes para funcionar nas telas, veio de uma experiência do diretor em outras adaptações de animê e mangá.
Shinsuke Sato e o diretor e responsável pelas adaptações der Gantz em 2011, I Am a Hero de 2016, Death Note: Iluminando um novo mundo também em 2016, Bleach em 2018, Inuyashiki também em 2018 e os dois filmes de Kingdom em 2019 e 2022. Além disso, o diretor japonês foi convocado para adaptação americana de My Hero Academia, trazendo seus acertos para as produções ocidentais na futura produção da Netflix.
3- O sucesso das séries asiáticas
É inevitável falar que a Netflix desde que mudou seu posicionamento com investimentos na Ásia, tem produzido excelentes séries na Coreia do Sul e no Japão. Dando orçamentos cada vez mais robustos que as televisões destes respectivos países, a Netflix obteve sucesso com Round 6, Alice in Borderland, Profecia do Inferno e o Diretor Nu.
O sucesso destas produções foi tanto que o mercado de streaming mudou de tal maneira, que outras produções da Ásia começaram a ser desenvolvidas por outros serviços de streaming. Podemos destacar a belíssima história de Pachinko contando a histórias das famílias coreanas que moram no Japão.
Até empresas como a Disney, também se renderam a Ásia, trazendo produções como Canibal, Kindaichi, O Clube do Sumô entre tantas outras. No Brasil, as séries estão sendo divididas entre os dois serviços da empresa, saindo por aqui pelo Disney Plus e Star Plus.
4 – Jogos sempre mortais
Alice in Borderland e Round 6 carregam em seus roteiros a adrenalina de passar por jogos cada vez mais ousados e insanos, E outro ponto que carregam em comum é que qualquer um pode morrer a qualquer instante, fazendo não tirarmos a bunda da cadeira de tanta adrenalina em cena.
Ambas as produções abusam nas mortes, não adiantando torcer pra ninguém sobreviver. Enquanto Round 6 temos todos os personagens em cena desde o primeiro momento, em Alice in Borderland há diversos jogos simultâneos, o que faz que cada jogo traga novos participantes em cena. O que podemos concluir em cada episódio é que provavelmente alguém em cena irá falhar e que teremos uma morte violenta em cena.
5- Alice no país das maravilhas macabro
Por mais que sua história tenha surgido nas páginas dos mangás, Alice in Borderland é uma releitura de Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll. Muito além da histórias, temos personagens como Alice aqui representado pelo Ryōhei Arisu (leitura de Alice em japonês), além da Yuzuha Usagi também ser uma representação de Coelho (que é Usagi em japonês).
Acredite: existem muitos outros personagens da obra que são metáforas dos personagens de Alice no país das maravilhas.
6 – Participação do criador do mangá na série
O criador do mangá, Haro Aso, esteve presente nas filmagens da adaptação da Netflix. Assistindo e contribuindo, provavelmente fez diferença para o sucesso da série.
Entre mudanças em relação a obra original, a equipe de produção teve contato com criador, além do diretor Shinsuke Sato que também assina o roteiro da adaptação.
Além disso, o autor também faz participação no arco da Praia na primeira temporada da série.
7 – Trilha sonora
A trilha sonora da série foi composta por Yutaka Yamada que já havia trabalho anteriormente com Shinsuke Sato em Bleach e Kingdom. Produzida por Kohei Chida, a música foi interpretada pela FILMharmonic Orchestra de Praga.
8 – Adaptação do mangá
Alice in Borderland tem um total de 64 capítulos no mangá original, sendo que 31 foram utilizados para adaptação dos 8 capítulos da primeira temporada da Netflix. Os demais 33 episódios foram adaptados para a segunda temporada que foi lançada no final do ano de 2022, concluindo a adaptação da obra original.
Até o momento não se sabe se a série criará novas temporadas, porém o sucesso da obra fez com que o autor criasse séries derivadas, nascendo assim a série “Alice on Border Road” e a série “Alice in Borderland: Retry”. Ambas as séries trazem outros personagens no mesmo mundo e poderiam servir de base para novas temporadas.
9 – Compartilhando cenários com filme de sucesso chinês
A produção chinesa ‘Um Detetive em Chinatown 3‘ foi filmada simultaneamente com a primeira Alice in Borderland. A curiosidade é que por mais que fossem usadas técnicas de computação gráfica, parte do cenário é real e foi construído há mais de 100 quilômetros de Tóquio. Normalmente produções japonesas não usam cenários cenográficos em suas produções, sendo um diferencial utilizar em parceria com uma produção de outro país.
Tanto a produção chinesa como a produção da Netflix utilizaram este cenário cenográfico que, no caso de Alice in Borderland, foi combinado com filmagens em diversas cidades, deixando a equipe de pós-produção para fazer a magia de parecer tudo foi filmado no mesmo local.
Por curiosidade ‘Um Detetive em Chinatown 3‘ quando lançado, superou em lançamento o filme ‘Vingadores: Ultimato’, além de filmes em formato IMAX no final de semana de estreia na China.
10 – Acerto na escolha do elenco
A escolha do elenco é um dos motivos de Alice in Borderland ter sido um sucesso. O ator Kento Yamazaki que interpretou o protagonista Ryōhei Arisu, estrelou diversas séries e filmes japoneses, inclusive o protagonista da adaptação em live action de JoJo’s Bizarre Adventure: Diamond Is Unbreakable.
Tao Tsuchiya por sua vez, além de ter interpretado Yuzuha Usagi, também tem um histórico em produções japonesas. Para fãs de animações japonesas, a atriz fez a personagem Misao Makimachi em Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno e Rurouni Kenshin: A Lenda Termina, ambos na Netflix. Mas a atriz tem um histórico de outras produções baseadas em mangá, além de ter protagonizado a série Mare da NHK.
Já o amigo do Arisu, o Daikichi Karube foi interpretado por Keita Machida que também é conhecido internacionalmente pelas produções japonesas. Recentemente o ator ficou conhecido pela série Cherry Magic que foi lançada no Brasil pela Crunchyroll.
Para a segunda temporada, algumas surpresas como a participação de Tomohisa Yamashita fez a alegria de fãs de JPOP. Conhecido pelo apelido Yamapi, o ator é conhecido por diversos doramas de 2000, além de ter protagonizado live action de Ashita no Joe. Como cantor, ele fazia parte do grupo NewS, da agência Johnny & Associates.
Alice in Borderland promete continuar como uma das séries de maior sucesso da Netflix, conquistando a posição de maior lançamento do Japão na plataforma. Até aonde este crescimento irá? Acompanharemos nas próximas semanas pelo streaming.
Artigo feito originalmente para o Nippon Já