O céu não é mais o limite para Link em The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Em time que está ganhando não se mexe, diz o ditado. E é verdade, afinal, quem não quer continuar com um sucesso contínuo e garantido, não é mesmo? No caso da Nintendo, com o último jogo da série Zelda lançado em 2017, Breath of the Wild, ela acertou em cheio. Então por que mudar qualquer coisa dele para sua continuação direta, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, lançado no último dia 10, para o Nintendo Switch?
Ora, pois, porque ela sabe como fazer isso e muito bem, magistralmente. The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom não só é um jogo superior ao anterior em todos os quesitos possíveis, como também consegue trazer novidades que o fazem ser ainda mais aberto para sua criatividade do que o que Breath of the Wild já era. Em todos os sentidos, do literal ao metafórico, neste novo jogo o céu não é mais um limite para Link, muito menos para sua imaginação.
Tópicos principais
Uma aventura verdadeiramente vertical
Tudo começa exatamente onde paramos no final do volume anterior da história, algo até agora inédito para a franquia – isso se não contarmos Majora’s Mask no Nintendo 64, mas convenhamos, aquilo foi uma forçada de barra das boas para justificar a reciclagem de material de Ocarina of Time na criação de outra aventura – com a princesa Zelda e o lacônico Link vasculhando os túneis subterrâneos abaixo do palácio real de Hyrule.
Não demora para algo dar errado durante a exploração da dupla, que antes de chegar ao ponto de ignição da história de Tears of the Kingdom, acabam descobrindo que a origem do povo do reino atual se deu pela união entre duas outras raças poderosas no final de um conflito entre as duas e as bestas. Os monstros, liderados por uma figura misteriosa que tinha o poder sobre a gosma calamitosa que causou tantos problemas no jogo anterior e ainda continua a afligir os pobres moradores de Hyrule, tinha mais planos nefastos a colocar em curso.
Quando se deparam com uma espécie de múmia em uma câmara escondida, nossos dois orelhudos acabam inadvertidamente libertando uma maléfica criatura, que antes de escapar coloca uma maldição em nosso herói, tirando todo o poder que juntou em sua aventura, deixando-o fraco como um passarinho. Zelda acaba caindo em uma espécie de precipício e Link é jogado ao ar, junto a qualquer resquício do castelo que sobrou após sua vitória no final de Breath of the Wild.
Link se vê acordado por ninguém menos que Rauru, primeiro rei de Hyrule, em sua forma imaterial, como um espírito. Ele explica ao elfo seu feito, de salvar o braço do jovem dando o seu próprio, conferindo-lhe a capacidade de absorver poderes especiais encontrados em santuários espalhados pela ilha nos céus em que os dois se encontram.
“Obtenha todos os poderes e use-os para encontrar Zelda”. A partir dessa frase, é dada a largada para a jornada de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom. Link precisará dominar os novos poderes dados a ele tanto para alçar voo nos ares sobre Hyrule quanto no seu já explorado solo, só que sob roupagem diferenciada, já que muitas novas estruturas caíram do céu, esperando para serem exploradas.
Um leque infindável de novas possibilidades
Dentre essas novas habilidades está a capacidade de levitar e soldar um item ao outro, dando ao herói a capacidade de construir todo tipo de geringonça e estrutura. Com ela, pode-se criar o que quer que deseja, contando que possua as peças que precisa. Pode-se usar praticamente tudo o que estiver em seu caminho e, se não encontrar tudo que quiser, basta dar um pulinho em uma das máquinas deixadas pelos seres ancestrais, que convenientemente são capazes de produzir algumas das mais vitais delas, por um pequeno custo.
Há uma infinidade de coisas e jeitos com os quais construí-las em Tears of the Kingdom, tanto são que até lembram o saudoso Banjo Kazooie: Nuts ‘n Bolts, jogo maravilhoso desenvolvido pela Rare para o Xbox 360, também disponível para download nos consoles atuais da Microsoft graças ao Game Pass. Da pura simplicidade ao complexo e engenhoso, a quantidade de máquinas e estruturas que podem ser criadas é de deixar qualquer um maluco.
Mas o nível de customização não para por aí. Há outro novo poder pra lá de enlouquecedor. Ele nada, mais nada menos deixa você combinar um item com o outro. Tem nada mais que uma espadinha tosca que encontrou largada lá no canto e um monstrão acaba de pintar na sua frente? Sem problemas, basta fazer uma fusão entre ela e um pedaço de osso pego do chão. Voilá, um sabre reforçado. Adeus, monstrão!
Esse é meramente um dos muitos exemplos do uso dessa mecânica. Há vários, e dos mais variados e malucos, e claro, nem sempre muito práticos ou úteis. De praxe, os que irão vir mais a calhar de início são sutilmente apresentados a você pelo pouco que o jogo faz para te guiar. O resto, você terá que experimentar por conta própria. E nem tudo dá certo, diga-se de passagem. Esteja preparado para o fracasso.
O terceiro dos poderes apresentados é o mais ocasional. Ele serve para transpor obstáculos verticais, lançando Link para cima, através do que estiver diretamente acima dele verticalmente. Muita da utilidade dessa habilidade vem atrelada a combinações com os outros poderes de Link, e da mesma maneira, o potencial criativo é enorme, apesar desse porém.
Dito isso, a transversão é uma ferramenta útil nas mãos de um jogador com imaginação e fico ansioso para ver os inevitáveis vídeos com esse poder sendo usado para “quebrar” Tears of the Kingdom, do mesmo modo que existem diversos hoje em dia debulhando seu predecessor de maneiras nunca imaginadas por seus programadores.
Experimentar realmente é o segundo nome desse jogo, da mesma maneira que foi para o anterior. Só que desta vez há ainda mais possibilidades. Pura loucura. Dito isso, os que não gostaram de Breath of the Wild devem ser alertados que sua continuação segue o mesmo conceito geral, e que, apesar das inovações e das muitas melhorias apresentadas em Tears of the Kingdom, ele permanece. Ambos são jogos não-lineares, com um amplo mundo e seus céus que o esperam de braços abertos, mas também com o porrete ao alcance das mãos, prontos para te dar aquele tapinha amigo no cocuruto.
Mesmo assim, pode não agradar a todos
Para os que amaram o primeiro jogo como eu, com toda a sua natureza livre e sem compromisso, há isso e ainda mais em sua continuação. Você terá que encontrar templos a fim de derrotar seus chefes, sim, claro, afinal mesmo aberto, há um fim para o jogo. O que o diferencia, é o tanto que há para se fazer entre o início e esse fim, e mais importante, o como você o faz.
Nisso, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom tem muito em comum com um GTA da vida, em que as ferramentas que o jogo lhe dá se é capaz de se divertir à beça sem sequer ver o final preparado. Por sorte de Zelda, no entanto, há uma razão para a gente querer avançar no que é o caminho programado e salvá-la, por assim dizer, por mais sutil que ela seja desenhada, para completar a história. Isso, visto que ela continua a ser cativante o suficiente para se querer acompanhar, sem exagerar na dose. Fora que é sempre legal ver quais formas o inimigo no final da trilha irá tomar, e mais importante, como iremos dar cabo dele. Porque sempre acabamos com o infeliz, não importa quão poderoso ele julgue ser.
Muito se falou das limitações do Nintendo Switch nos anos desde seu lançamento. Sim, é o mais defasado dentre os consoles atuais, isso é fato inegável. O que o diferencia dos outros são seus jogos e o esmero com o qual a Nintendo os programa. The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom não é exceção à regra, e estoura a boca do balão tratando da maestria que a Big N tem não só na direção de arte como também no modo como ela consegue extrair o máximo de seu híbrido portátil, girando a chavinha pro 11, como no clássico Isto É Spinal Tap.
Deixar-se levar não é suficiente, se deixe perder
“Lindo” é pouco para descrever o jogo, e “incrível” acaba perdendo o sentido quando paramos para analisar a obra do catálogo do console como um todo. Visto que a Nintendo acaba sempre tirando água de pedra no campo técnico de uma plataforma pouco poderosa como o Switch, exaltando seus fortes com títulos cuja jogabilidade é de uma criatividade imbatível. Eles podem não rodar a 60 quadros por segundo nem se gabarem por serem 4K, mas quero ver alguma outra desenvolvedora conseguir o que a Nintendo consegue com suas franquias. Estou esperando…
The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom é um verdadeiro desbunde em forma de jogo. Ele dificilmente deixará seu Switch tão cedo. Vale a pena simplesmente se perder nele, fuçar nele de corpo e alma em busca das respostas para seus muitos quebra-cabeças, sem recorrer a guias e detonados na Internet. Trate-o como uma recompensa pelo esforço do raciocínio, em que cada pequena descoberta e sucesso é uma vitória dentre muitas a conquistar. Há os Zeldas do passado, que não deixam de ser clássicos e excelentes, mas não é exagero dizer que esse é o Zelda definitivo desta geração.
NOTA: 5 de 5
Ficha Técnica:
Nome: The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Desenvolvedora: Nintendo Entertainment Planning & Development
Publicadora: Nintendo
Gênero: Aventura
Lançamento: 10 de Maio de 2023
Nossos sinceros agradecimentos à assessoria da Nintendo por nos fornecer uma cópia de cortesia do jogo para teste e para a produção desta matéria.
[…] que foi assim com a série Zelda, sucesso absoluto da empresa para qual trabalha, pois foi das suas lembranças de infância de brincar nas grutas […]