O curta-metragem de animação “A Menina e o Pote”, dirigido e produzido por Valentina Homem, está prestes a fazer sua estreia mundial na 77ª edição do Festival de Cannes. O filme será exibido na mostra competitiva da Semana da Crítica, com sessões agendadas para o dia 21 de maio, às 14h15 e às 20h, no Cinéma Miramar. O trailer oficial acaba de ser lançado, aumentando as expectativas para a exibição.
Uma História Pessoal e Cultural
Baseado em um conto escrito por Valentina Homem em 2012, “A Menina e o Pote” é uma parábola que traduz experiências do início da vida adulta da cineasta. “Alguns dos símbolos que organizam a narrativa são metáforas de episódios bastante íntimos: o pote, o seu rompimento, o vazio que o preenchia, a perda de contornos, a busca por uma tampa e a integração final com o vazio dentro do pote”, explica Valentina. A história evoluiu ao longo dos anos, incorporando elementos da cosmogonia ameríndia e influências das Plantas Sagradas Amazônicas, estabelecendo uma conexão com rituais xamânicos de iniciação.
Trailer
Colaboração e Consultoria Cultural
Para garantir a autenticidade cultural da narrativa, Valentina contou com a consultoria da antropóloga indígena Francy Baniwa. O roteiro foi uma colaboração entre Valentina, Francy, Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph, e inclui referências à cosmologia Baniwa e à mitologia Yanomami, como descrito no livro “A Queda do Céu” de Davi Kopenawa Yanonmi.
Produção e Técnica
A realização de “A Menina e o Pote” foi um processo colaborativo, com Nara Normande na direção de animação e Eva Randolph na edição. Tati Bond, além de ser a única animadora, assumiu a direção artística e a codireção ao lado de Valentina. O curta utiliza a técnica de pintura sobre vidro, escolhida por sua capacidade de representar a fluidez e a transformação contínua da jornada da Menina.
Língua e Projeto Social
Um aspecto marcante do filme é o uso da língua Nheengatu, falada pela Menina. Esta escolha homenageia a herança de Francy Baniwa e a ligação de Valentina com a comunidade da antropóloga. A parceria entre Francy e Valentina também gerou um projeto na aldeia natal de Francy, Assunção do Içana: AMARONAI – dignidade menstrual e geração de renda para mulheres indígenas, uma iniciativa que se conecta simbolicamente e politicamente ao filme.
Uma Reflexão Sobre a Crise Ambiental
“A Menina e o Pote” aborda a crise ambiental atual e a necessidade de preservação da Amazônia. “O filme é fruto do nosso sonho coletivo: sonhar com a floresta, ser floresta – resgatar memórias ancestrais, que conservam também o que está por vir”, conclui Valentina. “Espero que o filme possa ser um portal para um futuro possível.”
Em um mundo distópico, uma menina quebra o seu pote, objeto que guarda um segredo em seu interior. A quebra do pote abre portais para universos paralelos e a menina adentra um tempo de transformação em que a criação de um novo mundo é finalmente possível.
A estreia de “A Menina e o Pote” em Cannes promete trazer uma reflexão profunda sobre a interconexão entre mitologia, identidade cultural e a crise ambiental atual, destacando-se como uma obra de arte que transcende o entretenimento para abordar questões vitais do nosso tempo.
A Menina e o Pote
Direção & Produção: Valentina Homem
Roteiro: Valentina Homem, Francy Baniwa, Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph
Elenco: Francy Baniwa
Gênero: Drama
País: Brasil
Ano: 2024
Duração: 12 min.