Crítica | 13 Sentimentos

Desde “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, o diretor Daniel Ribeiro chamou atenção do público, mostrando uma visão leve e doce do universo LGBQIAP+. E descobrir que ele estava disposto a fazer uma trilogia de sentimentos e relacionamentos, considerando o filme, mas explorando agora novos personagens em “13 Sentimentos” e continuando no futuro “Amanda e Caio”, mostra que fãs da produção anterior teriam deleite de ver mais um pouco do recorte particular do diretor na nova produção.

O direito de resposta

Só que “13 Sentimentos” vai um pouco mais além, por ser uma produção que é inspirada em uma experiência pessoal do diretor, especialmente seu relacionamento com o também cineasta Rafael Gomes. E o filme “45 Dias Sem Você” (2018), de Rafael, já havia explorado a visão dele, sendo aqui a visão do próprio Daniel, numa resposta ao filme de 2018.

A história

Aqui temos o jovem João (Artur Volpi) que é cineasta que, após o término de um relacionamento de 10 anos, mantém uma amizade com o seu ex-namorado. Perdido, depois de tantos anos de relacionamento, o João está em busca de um novo amor, mas ao seguir o caminho de entrar em aplicativos, ele irá entender que priorizar laços afetivos não será nada fácil. Seu primeiro encontro que vê realmente potencial a se tornar um novo namorado é Vitor (Michel Joelsas) e se apaixona à primeira vista. Ao tentar controlar o novo relacionamento como se fosse um filme, João irá entender da pior forma que não é tão fácil assim segurar as rédeas da realidade.

É neste ponto que João se apega muito às figuras que estão presentes na sua vida, seja nos diálogos com a sua mãe, ou com os seus dois melhores amigos, o que gera diversos pontos altos do roteiro. Mostrando que encontrar um par no mundo atual não será nada fácil.

Para piorar ainda, João que tinha quase certo um filme para chamar de seu, acaba recebendo um balde de água fria ao saber que a produtora dará prioridade a filmes mais comerciais. O que exige dele atenção para reescrever o roteiro e tornar atrativo para um edital do governo, fazendo se questionar em como irá pagar as contas.

Correndo atrás de pequenos trabalhos, João acaba virando editor de vídeos para uma construtora e tenta a todo custo, conseguir outros trabalhos. O que ele não esperava é que um de seus encontros em aplicativos, se transformaria em trabalho, assim um casal do aplicativo sugere ele filmar um curta deles, o que agrada e chama atenção de amigos do casal, caindo no boca a boca, fazendo com que o João filmasse diversos curtas de estranhos.

Paralelamente, o João ainda se imagina namorando, seja trocando por alguém que ele ficou afim, ou até mesmo uma pessoa idealizada, quando seus amigos tentam dar sugestões de pessoas para novos encontros.

Roteiro e Superação

A narrativa do filme reflete essa abordagem ao retratar João, que utiliza seu talento como roteirista para criar uma versão idealizada de sua vida. Este escapismo, caro ao cinema, serve como uma ferramenta de mediação e compreensão de seus sentimentos. E foi exatamente este processo que o Daniel Ribeiro explica que o processo passado por ele, permitindo uma visão mais completa e compreensiva dos caminhos percorridos para estar aberto a uma nova relação. 

Você pode perceber isso diversas vezes, quando João transforma partes da realidade que o desagradam, revive cenas do passado como gostaria que tivessem ocorrido e reescreve finais para torná-los mais felizes. 

Leve e solto

João chegou no título de “13 Sentimentos” ao lembrar que a diferença de altura entre ele e o ex-namorado era de 13 centímetros. E isso acaba sendo um sinal para ele, para pessoas que ele venha a conhecer, esperando que tenha um relacionamento tão longo quanto.

Em um momento, ele acaba encontrando um bilhete de um outro ex-namorado, dentro de uma jaqueta antiga. Isso faz com que correndo atrás dele, perceba o quão conturbado foi o final daquele relacionamento e como os caminhos da vida fez com que seu ex estivesse feliz agora.

Encontrando o seu último ex, João acaba descobrindo que a diferença de altura entre os dois, não era de 13 centímetros, o que ele também acaba achando que era um sinal que não seriam felizes.

Opinião

O ator Artur Volpi foi uma grande surpresa no filme, fazendo com que “13 Sentimentos” se mostrasse tão leve quanto “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. É claro que são momentos da vida totalmente diferentes, e aqui no mundo adulto, as coisas não são tão leves e doces assim, porém o ator conseguiu mostrar o quão perdido é o seu personagem sem ter alguém, fazendo nos reconhecer quando acaba um relacionamento.

Os amigos dele e todo aquele choque de realidade sobre os solteiros é o que rouba o filme, mostrando quão natural são diálogos e que fluem muito bem na história. Mesmo o papel da mãe do João e como ficam as conversas, quando namoros acabam, são bem próximos da verdade de cada um, o que funciona muito bem no filme.

A produção de pornôs, acabou sendo uma grande surpresa no filme, porém faz com que você ria do choque do João em aceitar, por estar pagando as contas. Além de ter uma satisfação bem maior do que editar filmes institucionais sem graça e que demoram pra serem pagos.

Assumo que os caminhos que o filme traça para encerrar, não me agradaram, por fazer que o João encontre alguém, num momento que estava se encontrando sozinho. Além disso, a escolha mesmo que ecoada algumas vezes na história, fecharam a história de forma satisfatória, porém teve outros personagens interessantes ali apresentados, que por um momento achei que faria um final diferente.

Leve e divertido, podemos dizer que “13 Sentimentos” apresenta um trabalho mais maduro do diretor Daniel Ribeiro. Com elenco carismático e diverso, temos uma história que funciona bem na tela, sendo um ótimo exemplo de filme para assistir e descansar.

Semelhante ao “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, o “13 Sentimentos” dá um gostinho de querer ver um pouco mais daquele mundo, o que mostra que ele cumpriu seu papel de ser divertido e se tornando um bom filme a ser assistido e reassistido.

NOTA

4/5

13 Sentimentos

Direção: Daniel Ribeiro
Roteiro: Daniel Ribeiro
Produção: Daniel Ribeiro, Diana Almeida e Fernando Sapelli
Elenco: Artur Volpi, Julianna Gerais, Marcos Oli, Michel Joelsas, Bruno Rocha, Daniel Tavares, Fabricio Pietro, Helena Albergaria, Maitêe Schneider, Sidney Santiago Kuanza, Igor Cosso, Cleomácio Inácio, Rafael Americo, Marco Barreto, João Victor Toledo, Arthur Alfaia, Pither Lopes, Fábio Kow, Heron Leal, Hugo Kenzo
Direção de Fotografia: Pablo Escajedo 
Direção de Arte: João Vitor Lage 
Trilha Sonora: Arthur Decloedt 
Montagem: Cristian Chinen 
Gênero: comédia romântica
País: Brasil
Ano: 2024
Duração: 100 minutos

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Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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