quarta-feira, dezembro 25, 2024
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Crítica | Ainda Temos o Amanhã

Existem filmes que precisam ser assistidos, para nos lembrar que somos melhores hoje do que ontem. Um destes filmes é com certeza o “Ainda Temos o Amanhã” da diretora Paola Cortellesi. Aqui somos levados à Roma pós-guerra dos anos 40, numa Itália sendo reconstruída com presença de soldados americanos, e um cenário de desafios, onde Delia (interpretada pela própria diretora Paola Cortellesi) é uma mulher a frente do seu tempo, sendo multifacetada, assumindo diversos trabalhos, além de ser uma dona de casa, oprimida pelo marido tirano e machista, Ivano. 

Drama italiano não suaviza e nem normaliza a violência das mulheres naquele período, o filme traz uma reflexão, sobre aquela realidade, e nos faz pensar quantas conquistas foram feitas nas últimas décadas. Numa sensação de revolta diversas vezes, pelas ações dos personagens masculinos em cena, lembramos que “Ainda Temos o Amanhã” é necessário. Não sendo à toa que o filme é tão aplaudido e indicado pela Itália ao Oscar deste ano.

A história

Conhecemos a Delia, uma mulher sofrida, casada e com 3 filhos. Vivendo na casa com um marido extremamente violento, Ivano, Delia ainda precisa cuidar do sogro e tentar ainda trazer renda para casa.

Num recorte que mostra a versatilidade da Delia em fazer costuras, montar guarda-chuvas, aplicar injeções, entre outros trabalhos que trazem uma renda que muitas vezes o seu marido pega o dinheiro para pagar as contas, mas também beber com os amigos e até frequentar prostíbulo. Ivano ainda tem usa o subterfúgio de ter passado por duas guerras, como desculpa de bater na sua esposa, algo irreal a ser aceito nos dias de hoje. 

Vendo se refém ali de sua própria história, Delia às vezes encontra o seu antigo amigo que é um mecânico ali perto. Em lamúrias sobre Ivano ter casado com Delia antes dele, essas confissões fazem parte de um cotidiano que também envolve a amizade com um soldado americano.

Delia e sua família

Uma das realizações da Delia, está na sua filha Marciella que está para ficar noiva do Giulio Moretti, herdeiro de uma família rica que tem um café ali na região. Assim, a grande realização de Delia em guardar um dinheiro escondido para o vestido de noiva da sua filha.

Acontece que o almoço entre as famílias não acontece como esperado, mostrando uma família rica e que trata ela com um certo deboche, além de fazer a própria Delia lembrar de sua história, ao ver Marciella tendo que abrir mão de seus sonhos para se tornar uma dona de casa. Vendo que Giulio lembra todo lado machista do seu próprio marido, Delia não consegue imaginar que não deseja o mesmo destino para a sua filha.

Paralelo a isso, temos uma carta misteriosa que abre caminho para questionamentos profundos sobre seu papel na família e na sociedade. Esta reviravolta não apenas revela sua coragem interior, mas também desafia as normas sociais da época, oferecendo a ela uma nova perspectiva de liberdade e autonomia.

É neste momento que temos o momento mais importante da história, em que os dias 2 e 3 de junho, às mulheres poderão votar pela primeira vez na Itália. Isso gera uma inquietude na Delia, com uma série de planos que irão mudar a sua família para sempre.

Premiações

Premiado com o Prêmio “Il Biglietto D´Oro” na Itália e com seis estatuetas no Prêmio David di Donatello 2024, “Ainda Temos o Amanhã” é um sucesso de crítica e de bilheteria. Com uma recepção calorosa do público italiano, o filme teve uma bilheteria de 24 milhões de euros (125 milhões de reais), fazendo história. 

Opinião

Não nego que “Ainda Temos o Amanhã” gera desconforto, desde os primeiros minutos, quando Delia recebe um tapa de seu marido, ainda na cama pela manhã. Numa mistura da cultura italiana tradicional com a sagacidade da personagem muito à frente do seu tempo, Delia vai se revolucionando e quebrando aquele mundo que ela vive.

Se por um minuto, ela tem um sentimento de culpa em esconder dinheiro que ela mesmo trabalhou do seu marido, o seu objetivo é nobre, em querer um futuro melhor para a sua filha. 

E se muitas vezes, sua própria filha, o faz questionar se deve continuar tão passiva e complacente ao marido, Delia não é boba, mas precisa calcular bem para sair do script da sociedade tradicional daquela época.

Todo rodado em preto e branco, o filme é belíssimo e reproduz bem a época, mas não se deixa enganar que é um filme atual, ao trazer uma trilha sonora atual nas cenas que a Delia está andando sozinha com os seus pensamentos pela cidade.

O sentimento de desconforto do começo do filme, vai ficando em segundo plano, quando percebemos que Delia tem um plano maior do que viver ali com o seu marido. E é o que torna a motivação principal em entender qual é a ambição da diretora Paola Cortellesi ao trazer um recorte da personagem vivendo um dos momentos mais importante para as mulheres na Itália. O que torna “Ainda Temos o Amanhã” obrigatório de ser assistido nos cinemas.

Nota

4/5

Ainda Temos o Amanhã

Título Original: C’È ANCORA DOMANI

Direção: Paola Cortellesi

Roteiro: Furio Andreotti, Giulia Calenda, Paola Cortellesi

Elenco: Paola Cortellesi, Valerio Mastandrea, Romana Maggiora Romano

Música: Lele Marchitelli Fotografia: Davide Leone

Edição: Valentina Mariani

País: Itália Ano: 2023 Duração: 118 minutos

Gênero: Drama

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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