Se diz que são poucas as obras que ficam gravadas em nossa memória. Quando isso acontece, estamos lidando com um verdadeiro clássico do meio. Este é o caso de Paper Mario: The Thousand-Year Door, jogo lançado originalmente em 2004 para o GameCube e que semana passada recebeu um relançamento para o Switch. Se The Legend of Zelda: A Link to the Past é o indiscutível marco para essa outra série da Nintendo, podemos dizer com toda a tranquilidade que para Paper Mario, The Thousand-Year Door ocupa o mesmo lugar.
Um livro de recortes em forma de jogo
Iniciada no Nintendo 64, a franquia do nosso querido bigodudo em duas dimensões já conquistou uma legião de fãs com Paper Mario 64, graças ao charme e a qualidade de história e construção de mundo que foi vista naquele jogo, mas The Thousand-Year Door simplesmente arrasou quarteirões quando chegou ao GameCube alguns anos depois, trazendo consigo um elenco inesquecível com toda fofura e charme que só um jogo do Super Mario é capaz de ter.
O game repetiu a dose não só com toda a personalidade de seu antecessor e ainda um pouco mais, mas também com uma maturidade narrativa pouco vista até então, não só para o personagem de Mario, como nos jogos em geral. Isso veio a configurar um dos elementos que tornaram a jornada do herói encanador em busca das Estrelas de Cristal tão memorável e querida entre os jogadores. Para muitos jogadores, este Paper Mario não é só o melhor jogo da série, mas um dos mais bem falados de todos os tempos.
E a Nintendo, que não é boba nem nada, aproveitou o momento, o 20o aniversário do jogo, para trazê-lo de volta, dando a oportunidade para um novo público de curtí-lo e para saudosistas relembrar o que faz dele um jogo tão especial. Esta versão de Paper Mario: The Thousand-Year Door vem sendo tratada como um jogo por si só, sem o usual “sobrenome” de remake ou remaster, mas todo o resto mostra que é sim uma repaginada, trazendo algumas poucas novidades que fazem da aventura que já era incrível em 2004 entrar nos conformes da atualidade.
Tudo começa quando Mario recebe uma carta da Princesa Peach convidando-o a se juntar a ela em uma caçada a um tesouro. Acontece que a moça descobriu um misterioso mapa durante suas férias na vila de Rogueport, apontando à enigmática e titular Thousand-Year Door, que quando aberta, diz-se, trará recompensas inimagináveis para quem o fizer. Tão difíceis de descrever que ninguém sabe de fato o que são.
Chegando ao lugar, o baixinho descobre que sua amiga está desaparecida. Com o mapa em mãos, resta a Mario dar início à caçada e, com sorte, salvar Peach do perigo. Com a ajuda de um elenco incrível de novos amigos que se juntam às lutas ao seu lado, o bravo bigodinho bidimensional nos leva em um tremendo passeio repleto de ação, personagens carismáticos e muito bom humor.
É tudo um show, do começo ao fim
Em termos de jogabilidade, Paper Mario: The Thousand-Year Door pode ser considerado um dos mais tradicionais da série, mas isso não quer dizer que seja um RPG qualquer. Suas batalhas tomam a forma de apresentações teatrais com direito a um público, e as mecânicas de luta são uma evolução do que foi visto no primeiro jogo lançado no Nintendo 64 e que vieram a ser repetidas em outra sequência de excelentes jogos, os hilários Mario & Luigi, do Game Boy Advance, DS e 3DS, onde os ataques são realizados por meio de sequências de botões e há uma ênfase em seu timing.
A grande pegada agora é a necessidade de agradar quem está assistindo à peça, para que eles concedam ao encanador pontos com os quais ele pode invocar o poder das Estrelas de Cristais, que trazem os mais variados efeitos em campo. Por outro lado, nem sempre quem está vendo a ação é amigo de Mario, e volta e meia você vai precisar afugentar um encrenqueiro antes que ele prejudique o baixinho em combate. E como qualquer teatro que se preze, o palco do jogo apresenta efeitos especiais e trocas de cenário conforme o ritmo da luta.
Emblemas achados ou comprados em todos os cantos do mundo do jogo servem para equipar Mario e seu parceiro com todo o tipo de benefícios, e quanto mais pontos você colocar nesse quesito quanto passa de nível, melhores são os poderes que esses apetrechos destravam. Os amiguinhos do bigodudo também passaram por uma revisão para esta nova versão do jogo, ficando muito mais fácil trocá-los em campo, para fazer uso de suas habilidades únicas sem a necessidade de ficar entrando em uma série de telas, como acontecia no GameCube.
Bem como Paper Mario: The Origami King, que a gente resenhou já faz um tempinho, The Thousand-Year Door conta com uma apresentação primorosa regada de muita personalidade e vida. Cor é o que não falta neste jogo, e o que já era muito bem no GameCube salta aos olhos agora no Switch, graças às muitas atualizações gráficas que o jogo recebeu. A resolução e definição estão pau-a-pau com a última aventura que jogamos do mascote da Nintendo e realmente levam o sistema ao seu limite em termos de processamento.
Tirando raros momentos de queda de quadros, é um título extremamente polido e gostoso de jogar, mesmo que não tendo a mesma fluidez técnica da versão original, visto que este relançamento roda a 30 quadros por segundo ao invés dos 60 que vimos 20 anos atrás. Dizer que se trata de um dos jogos mais belos do Switch é meio que chover no molhado, já que a Nintendo em especial vem trazendo lançamentos belíssimos para seu console, o mais fraco tecnologicamente da geração. Esse é o poder da maestral direção de arte da querida Casa do Cogumelo.
Paper Mario: The Thousand-Year Door traz um roteiro muito engraçado e inteligente, com uma história repleta de referências à longa trajetória de Mario nos games e muitas situações inusitadas tanto para o herói quanto para Peach e até o vilão Bowser. Não é à toa que este é considerado um dos melhores jogos de todos os tempos, algo que os fãs vêm pedindo por um relançamento há muito tempo: trata-se de uma pérola gamística que faz jus à fama. O mundo do jogo é tranquilamente um dos mais repletos de personalidade e peso para o enredo, a começar por Rogueport, por onde Mario e seus amigos passam uma boa parte de sua jornada correndo de um lado para o outro.
O vilarejo costeiro é repleto de figuras das mais variadas para interagir e cada vez que você passa por lá, há algo novo e divertido para descobrir, seja por meio das histórias malucas de Luigi, que passa o jogo inteiro em sua própria odisséia – diga-se de passagem, não deixe de falar com ele sempre que o vir, você não vai se arrepender – ou dos segredos esperando para serem descobertos ao usar novos poderes e itens achados nas diferentes fases do jogo. Nisso, este relançamento se dá muito bem, trazendo consigo uma boa novidade: canos que ligam o subterrâneo de Rogueport a todas elas, facilitando demais a vida do jogador.
A localização faz falta…
Um ponto negativo a se levantar, infelizmente, é que The Thousand-Year Door não foi agraciado com uma localização para o nosso idioma, algo que a Nintendo vem trabalhando para fazer com os mais recentes lançamentos do Switch como Pikmin 4, Super Mario Bros. Wonder e Kirby Return to Dreamland Deluxe e que seria muito bem-vindo neste jogo repleto de texto cheio de humor e piadas em inglês. A tradução realmente faz falta e como jogos no naipe de Like a Dragon: Infinite Wealth vieram a provar, há valor em se dar ao trabalho de converter jogos para o português, por mais trabalhoso que seja o processo, visto o potencial que o país tem em consumir videogame.
Tirando essa ausência, Paper Mario: The Thousand-Year Door é um jogo impecável e obrigatório para todos os donos de Nintendo Switch Brasil afora. O que antes era uma pedida quase que impossível por se tratar de um dos jogos mais caros do mercado retrô pode ser aproveitado por um preço muito mais atraente e com melhorias inéditas, exclusivas desta versão. Apesar da página do Switch estar para ser virada com seu vindouro sucessor no horizonte, jogos como este daqui mostram que o aparelhinho híbrido da gigante dos games ainda tem muito combustível no tanque.
NOTA: 4,5
Ficha técnica:
Nome: Paper Mario: The Thousand-Year Door
Desenvolvedora: Intelligent Systems
Publicadora: Nintendo of America
Gênero: RPG
Plataformas: Nintendo Switch
Lançamento: 23 de maio de 2024