Crítica | O Bastardo é um dos grandes candidatos ao Oscar 2025 

O Bastardo nos leva à inóspita Jutlândia em um drama ligeiro estrelado por Mads Mikkelsen.

Kongens Land – Zentropa – Nikolaj Arcel

Mads Mikkelsen é um ator multifacetado. Já esteve em papéis marcantes, como o do serial killer Hannibal Lecter e como o vilão do excelente 007: Cassino Royale, tanto quanto como personagens mais fundados e cotidianos, o mais marcante recentemente, o protagonista de Druk: Mais uma Rodada

Nessa segunda categoria é onde o cara brilha um pouco mais, já que tem que trabalhar para sair da alcunha conquistada de vilão caricato e se tornar um homem comum, cujo único traço que deseja elevar é a sua personalidade, e não o semblante reconhecidamente único do ator dinamarquês. 

Em O Bastardo, isso fica bem claro, pois se trata de um filme dolorosamente determinado em fazê-lo ser ninguém mais que um soldado comum, de origem humilde, mas com ambições fora da norma da época em que se passa, nos meados do século XVIII no reino da Dinamarca.

Em sua volta da guerra na Alemanha, Ludvig Kahlen, um capitão do exército do rei vai ao palácio pedir permissão para cultivar nas terras impróprias da Jutlândia, onde todas as tentativas passadas de dominar o solo bruto do urzal foram fracassadas. Motivo de piada dos nobres, Kahlen se propõe a custear a aventura por seu próprio bolso, e é com isso que ele consegue a tão desejada autorização.

Com muito sofrimento e labuta, ele enfim consegue algo e, lenta e calmamente, encontra outros para se juntar ao seu projeto, incluindo uma garotinha cigana e um casal de fugidos de um barão local, que vem a se tornar o principal algoz do protagonista. O que segue é uma verdadeira sequência de tentativas de sabotagem por parte do vilão da história, visto que não só o capitão quer ir contra os seus propósitos, mas acaba caindo nas graças de sua contrariada noiva.

O filme em si traz uma cinematografia absurdamente bela, filmado em locações desertas da Dinamarca que contam com vegetação e topografia únicos.Mas nem tudo fica a conta dessas vistas, já que o pouco que é trazido em termos de construções da época também são muito bem detalhados. Isso além do figurino, que em uma cena é ironizado pelos personagens secundários, já que o herói da trama começa o filme ainda vestindo o uniforme de um país de fora. 

O ritmo de O Bastardo é surpreendentemente rápido, saltando meses e até anos em poucos minutos, a fim de nos poupar a monotonia do desenvolvimento lento e sofrido da fazenda, sem falar nos dos poucos jogadores de relevância para a história, o que faz da produção algo que não cansa de se ver, contrariando as expectativas para um filme desses, com uma premissa que só de ouvir já imaginamos onde vai dar. E mesmo nisso, ele ainda consegue trazer algumas surpresas bem-vindas.

Dito tudo isso, resta falar um pouco do elenco. O ator de mais prestígio com o público mundial é certamente o próprio Mikkelsen, que entrega uma atuação excelente, trazendo ao protagonista um ar de dignidade, mas que possui suas dúvidas e se vê em conflito com seus ideais no decorrer do longa. Esse é certamente um papel que vai contra o usual do ator, sem recorrer ao usual aproveitamento de seu semblante enigmático, somente em seu talento em se transformar no personagem.

Melina Hagberg, a atriz mirim que faz par com Mads, é outro destaque, trazendo uma dose de fofura que quebra a camada de tristeza da história sem faltar com o drama de sua origem sofrida dentre os nômades que fazem da floresta ao redor das terras cultivadas seu lar temporário. Para Schinkel, o malvado, pouco conhecido Simon Bennebjerg atua de modo exagerado, repleto de soberba e muita crueldade, resultando em uma pessoa que adoramos odiar no decorrer do filme.

O Bastardo já está na lista dos concorrentes ao Oscar 2025 na categoria de filme estrangeiro e se depender do que vimos, tem grandes chances de levar para casa a estatueta. Cabe agora ficar de olho para as eventuais estreias das outras produções por aqui, para que possamos ter uma ideia do que irá disputar com ele a consagrada premiação. Mas mesmo que ele não ganhe, continua sendo uma boa história com atuações fortes, visuais muito belos, outra excelente pedida dentro do catálogo cada vez maior de produções dinamarquesas que chega ao nosso alcance.

NOTA: 4,5

Direção: Nikolaj Arcel

Roteiro: Nikolaj Arcel e Anders Thomas Jensen

Produção:  Louise Vesth

Elenco: Mads Mikkelsen, Amanda Collin, Simon Bennebjerg e Melina Hagberg 

Direção de Fotografia: Rasmus Videbæk

Trilha Sonora: Dan Romer

Montagem: Olivier Bugge Coutté

Gênero: Drama

País: Dinamarca

Ano: 2023

Duração: 127 min

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