Crítica | O Corvo traz o emo de volta ao cinema em 2024 

A nova produção baseada nas HQs de sucesso dos anos 1990 conta com uma história sem muitas surpresas e é regada por muita violência.

Dentre os produtos que saíram das páginas dos gibis de James O’Barr, sem qualquer sombra de dúvida, a que mais causou alvoroço foi o primeiro filme, lançado em 1994. No entanto, a razão para tal não é a esperada, já que não se trata de um longa com uma trama incrível nem nada. 

Isso se dá pelo fato do ator principal, Brandon Lee, filho do lendário Bruce, ter morrido por acidente durante as filmagens da obra. Por causa disso, os produtores tiveram que se virar com o que tinham para terminar o filme e lançá-lo, o que fizeram até que bem, levando em conta as dificuldades. E, por muito tempo, essa versão de O Corvo, a original, foi considerada a melhor adaptação.

O desafio de O Corvo de 2024, que chega exatos 30 anos após o original, não chega a ser grande em termos de superar o que veio antes dele em termos de roteiro, efeitos ou até elenco, e em questão de vir a se tornar uma lenda do cinema como o filme de 1994, bom, isso só o tempo dirá. 

Em comparação direta, as duas adaptações tratam da mesma temática, a vingança, tratam dela de maneira bastante similar, trazem quilos de maquiagem dark, e, claro, doses cavalares de violência gráfica e muita música melodramática para temperar ambas. Mas tal não quer dizer que o novo filme não consegue se diferenciar, porque, sim, faz de tudo para justificar a jornada brutal do protagonista e executa habilmente tanto as cenas de ação quanto as de desenvolvimento de personagens. 

O que falta para ele é uma identidade própria, já que, convenhamos, muito se passou desde 1994 no entretenimento como um todo e já não é novidade termos uma figura obscura fatiando tudo a seu caminho, não é mesmo? John Wick que o fale! Então, deixando claro esse, que é o maior dos problemas de O Corvo, será que mesmo assim podemos recomendá-lo a você, caro leitor?

Intensidade a torto e direito

Estrelado por Bill Skarsgard, FKA Twigs e Danny Huston, o filme abre com a encarceração de Shelly, uma garota problemática que se vê metida em uma enrascada, quando uma amiga dela acaba sendo raptada por misteriosos vilões em busca de uma gravação que ela fez em seu celular. A menina acaba parando em um complexo de reabilitação, onde fica conhecendo Eric, outra figura de passado enigmático e tantos problemas quanto às tatuagens que permeiam seu corpo.

O casal logo se vê loucamente apaixonado, e basta aparecer no lugar que está atrás da moça, os pombinhos fogem para longe, onde são capazes de viver seu romance em uma montagem tão açucarada que nem toda a droga que rola solta nela é capaz de lavar do sistema deles. Por se tratar de um filme de vingança, no entanto, não demora para que os problemas de Shelly cheguem à soleira de Eric, e os dois são brutalmente mortos pelos bandidos.

Esse não é o fim para Eric, no entanto. No mundo além ele recebe uma oferta irrecusável, a de poder voltar a viver para que possa se vingar de quem os fez mal, enquanto seu amor pela namorada permanecer puro. Descobertos os paradeiros dos malfeitores, Eric, agora um revivido, parte para o ataque, onde, para todos os sentidos, acontecem as cenas mais intensas e violentas de O Corvo, até os momentos finais dele.

Por mais que as balas e outros ferimentos não sejam capazes de detê-lo por muito tempo, a falta de habilidade se torna um obstáculo intransponível para o anti-herói, que de volta ao mundo além se vê obrigado a deixar mais da sua alma para trás para enfim dar à amada mais tempo na Terra. É aí que a cobra fuma de verdade, e quando Eric finalmente chega perto do grande malvado, Roeg, personagem de Huston, seguem vários minutos de pura matança, tanta que a roupa do nosso amigo fica vermelha e cheia de furos de bala.

Vale salientar que toda a trama do filme gira em torno do tal vídeo gravado pela amiga de Shelly, que revela-se uma prova concreta dos poderes de Roeg, capazes de influenciar as pessoas a cometerem os mais odiosos dos atos, conferindo ao bandidão uma vida além da convencional. Nada disso o ajuda a dar cabo do vingador, mas isso não chega a ser spoiler, afinal, estamos falando do motherfucking Corvo, queridos.

Produção bela, do lar, pingando hemoglobina

Pois bem, resta comentar sobre a produção como um todo, já que a história é o que é, o desenvolvimento segue num ritmo até que bom e as atuações são bastante intensas, especialmente se tratando de Skarsgard. Os efeitos especiais são, bem, um dos fatores especiais do filme, bem convincentes e viscerais, colocados a muito bom uso durante as lutas no decorrer do longa. E por mais que piegas muitas das escolhas da trilha sonora possam ser, conversam bastante com o vai e vem da trama, muitas vezes até literalmente, como se o filme procurasse traduzi-las em imagens, como um videoclipe das antigas.

Em termos gerais, O Corvo cumpre bem a proposta de levar à telona uma versão da história bolada por O’Barr, mas tem muita dificuldade de sair debaixo da sombra da produção de 1994. Levando em conta as circunstâncias que levaram o primeiro filme a tal status, a meta de se estabelecer algo que fosse além à fama dele é uma das mais mirabolantes, já que ninguém – que eu saiba – morreu ou sofreu danos irreparáveis durante as filmagens da refilmagem, e não há muito o que se falar quanto ao que ele faz melhor que o que vimos 30 anos atrás.

Dito isso, tirando essa comparação entre filmes, O Corvo é competente no quesito diversão e vai agradar a aqueles em busca do que ele provém, e para fãs das HQs, não vão faltar razões para ficarem felizes quando se fala de respeito à obra, não só no quesito dramaticidade quanto no de atmosfera e voz narrativa. É um filme com pouco humor, com uma sequência direta e inviolável tingida de vermelho e preto, tal qual sua inspiração. Só não vá ao cinema se estiver esperando um filme de herói.

NOTA: 3,5

Direção: Rupert Sanders

Roteiro: James O’Barr, Zack Baylin e William Josef Schneider

Produção:  Victor Hadida, Molly Hassell, John Jancks e Edward R. Pressman

Elenco: Bill Skarsgard, FKA Twigs, Danny Huston, Isabella Wei, Laura Birn, Jordan Bolger e Sami Bouajila

Direção de Fotografia: Steve Annis

Trilha Sonora: Volker Bertelmann

Montagem: Chris Dickens e Neil Smith

Gênero: ação, terror e drama

País: Estados Unidos

Ano: 2024

Duração: 111 min.

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