A memória histórica tem sido um tema recorrente no cinema, e filmes que abordam eventos trágicos, como golpes militares e ditaduras, são ferramentas poderosas para revisitar o passado e refletir sobre o presente. Com essa premissa, o filme Prisão nos Andes estreia nos cinemas brasileiros no dia 19 de setembro, trazendo à tona os horrores do Golpe Militar de 1973 no Chile e suas consequências, 51 anos depois.
O Golpe de 1973 e a Ditadura de Pinochet
O golpe que derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, é o pano de fundo do filme. Naquele dia, o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, foi bombardeado e invadido pelas forças militares lideradas por Augusto Pinochet, dando início a um regime autoritário que duraria 17 anos. Esse período foi marcado por repressão extrema, com a suspensão de direitos civis, perseguições políticas, tortura, desaparecimentos forçados e execuções.
A ditadura de Pinochet também promoveu uma série de reformas econômicas neoliberais que, apesar de dinamizarem a economia chilena, aumentaram drasticamente as desigualdades sociais e continuam a dividir a sociedade até hoje. Mesmo após o retorno à democracia em 1990, as feridas deixadas por esse período sombrio da história chilena ainda são sentidas.
A Visão de Felipe Carmona: Um Longa que Questiona o Presente
Dirigido por Felipe Carmona, em seu primeiro longa-metragem, Prisão nos Andes revisita esse passado trágico com uma abordagem que vai além da simples recriação histórica. O filme também questiona como o legado da ditadura ainda ecoa na sociedade chilena contemporânea, uma reflexão que torna a obra extremamente relevante.
O ponto central do filme é a controvérsia em torno de presídios como Punta Peuco, que foram construídos para abrigar ex-militares condenados por crimes de tortura cometidos durante o regime de Pinochet. Essas prisões são conhecidas por oferecerem condições de luxo a seus prisioneiros, como piscinas e jardins, algo que revoltou grande parte da população chilena.
Em 2013, uma entrevista com Manuel Contreras, ex-chefe do serviço de inteligência de Pinochet, transmitida sem edições, reacendeu essa indignação ao expor os privilégios desfrutados pelos responsáveis por crimes contra a humanidade. Prisão nos Andes mergulha nesse universo de poder e impunidade, ao mesmo tempo em que mostra o impacto psicológico de uma possível transferência desses prisioneiros para cadeias comuns.
Participação e Reconhecimento Internacional
O filme já fez sua estreia em diversos festivais internacionais, onde foi amplamente elogiado pela crítica. Entre os eventos em que foi exibido estão o Festival de Londres, a Mostra de São Paulo, o Festival de Cinema Latino de Chicago e o Festival de Marrakesh. Em sua trajetória pelos festivais, Prisão nos Andes acumulou prêmios importantes, como o Fipresci Award no Festival de Kerala e o prêmio de Melhor Elenco no Festival de Huelva.
A produção, que é uma coprodução entre Brasil e Chile, também foi destacada pela sua cinematografia, assinada por Mauro Veloso, e pela trilha sonora original de Mariá Portugal, que contribui para a atmosfera tensa e melancólica que permeia o filme.
Um Filme para Refletir
Com 105 minutos de duração, Prisão nos Andes não é apenas um filme sobre um período sombrio da história chilena, mas uma reflexão sobre a forma como os eventos do passado moldam o presente. O diretor Felipe Carmona constrói uma narrativa que, ao mesmo tempo que expõe as injustiças e atrocidades cometidas durante a ditadura de Pinochet, também propõe uma discussão sobre memória, justiça e impunidade.
Para os fãs de cinema que buscam uma obra provocativa, que vai além do entretenimento e faz pensar sobre temas políticos e sociais, Prisão nos Andes é uma estreia imperdível. No dia 19 de setembro, prepare-se para revisitar os fantasmas da ditadura chilena e refletir sobre o legado deixado por um dos períodos mais violentos da história da América Latina.
Prisão nos Andes
Direção e Roteiro: Felipe Carmona
Elenco: Andrew Bargsted, Hugo Medina, Bastián Bodenhöfer, Mauricio Pešutić, Alejandro Trejo, Óscar Hernández, Daniel Alcaíno
Produção: Daniel Pech, Omar Zúñiga, Dominga Sotomayor Fotografia: Mauro Veloso
Trilha Sonora: Mariá Portugal
Direção de Arte: Francisca Correa
Montagem: Olivia Brenga Som: Carlos Arias