A mostra Regresso ao Brasil acontece de 11 de setembro a 11 de outubro no Centro Cultural da Justiça Federal (RJ), trazendo uma retrospectiva imperdível da obra do cineasta Sérgio Tréfaut. Radicado na Europa desde 1975, Tréfaut apresenta uma seleção que contempla 11 sessões de seus filmes, sempre seguidas por debates com grandes nomes do cinema nacional. Para quem curte uma boa narrativa histórica misturada com memórias pessoais, essa é a chance de se aprofundar no trabalho de um dos cineastas mais sensíveis da atualidade.
Filmes de abertura
A mostra começa com o documentário Outro País (1999), que será exibido no dia 11 de setembro. Esse é o filme de estreia de Tréfaut e revisita a Revolução dos Cravos em Portugal (1974-75) com uma abordagem única. Através dos olhares de fotógrafos e cineastas renomados, como Sebastião Salgado e Glauber Rocha, o diretor explora os sonhos e as expectativas que marcaram essa época. Após a sessão, haverá um debate com Amir Labaki, crítico de cinema e fundador do Festival É Tudo Verdade, que vai discutir a relevância e o impacto da obra.
Na sequência, será exibido Fleurette (2002), um documentário no qual Tréfaut investiga o passado de sua mãe, Fleurette. Aos 79 anos, ela revela segredos de uma vida marcada pela ocupação nazista na França, a ditadura no Brasil e a Revolução dos Cravos. Para Tréfaut, o filme é uma viagem intensa ao seu próprio passado, refletindo memórias dolorosas de uma infância vivida sob vigilância constante da ditadura militar no Brasil. A exibição será seguida por um debate com a cineasta Helena Solberg, conhecida por suas contribuições ao Cinema Novo.
Uma programação rica e diversificada
Além dos filmes de abertura, a mostra Regresso ao Brasil oferece uma programação variada, que inclui obras como Raiva (2017), um conto sombrio sobre revolta no Alentejo dos anos 1950, e Lisboetas (2004), um documentário que explora a onda de imigração em Portugal no início do século XXI. Cada sessão será acompanhada por debates, oferecendo ao público a chance de mergulhar nos temas abordados e interagir com especialistas.
Outro destaque é Treblinka (2016), um ensaio visual que toca no horror dos campos de extermínio nazistas, filmado entre a Rússia, a Ucrânia e a Polônia. O filme será debatido pela cineasta Sandra Kogut e promete ser uma experiência impactante para quem gosta de reflexões profundas.
Onde e quando acompanhar
As sessões da mostra Regresso ao Brasil acontecem no Centro Cultural da Justiça Federal, localizado no centro do Rio de Janeiro, todas as quartas-feiras, às 17h30 e às 19h. A entrada é gratuita, então não tem desculpa para perder essa chance de conhecer mais a fundo a obra de Sérgio Tréfaut e participar das discussões que seus filmes provocam.
REGRESSO AO BRASIL
Local: Centro Cultural da Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro)
Data: De 11 de setembro a 11 de outubro
Mostra gratuita
Mais informações sobre o cineasta e os filmes, acesse: https://faux.pt/pt/
Programação
11/09
OUTRO PAÍS (1999, 70’, documentário). Debate com Amir Labaki
Com: Sebastião Salgado, Glauber Rocha, Robert Kramer, Thomas Harlan, Pea Holmquist, Guy Le Querrec, Dominique Issermann
A Revolução Portuguesa (1974-75) vista por alguns dos maiores fotógrafos e cineastas internacionais que testemunharam o evento. Quais eram os seus sonhos e expectativas? O que ficou do sonho da revolução? Um documentário que revela arquivos históricos excepcionais.
FLEURETTE (2002, 80’, documentário). Debate com Helena Solberg
Uma história de família invulgar. Será que conhecemos as pessoas que nos são próximas? Será que queremos conhecê-las? Sérgio tenta compreender o passado de sua mãe, Fleurette, de 79 anos. Apesar da sua resistência inicial, pouco a pouco, Fleurette vai revelando quase uma outra vida, onde o amor esteve intimamente relacionado com a política – da França ocupada e da Alemanha nazista até à ditadura brasileira e à Revolução dos Cravos.
18/09
RAIVA (2017, 85’, ficção). Debate com Karen Harley
Com Isabel Ruth, Leonor Silveira, Hugo Bentes, Diogo Dória, Catarina Wallenstein
Alentejo, 1950. Nos campos desertos do Sul de Portugal, marcados pelo vento, pela miséria e pela fome, a violência explode de repente: vários assassinatos a sangue frio sucedem-se numa única noite. Por quê? Raiva é um conto negro sobre o abuso e a revolta.
TREBLINKA (2016, 61’, ficção, ensaio). Debate com Sandra Kogut
Com Kirill Kashlikov, Isabel Ruth
Filmado entre a Rússia, a Ucrânia e a Polônia. Um trem-fantasma a caminho dos campos de extermínio. As vozes dos sobreviventes relatam o que não é possível mostrar. “Houve um tempo em que sonhei que este passado de horror nunca mais voltaria. Estava enganada. O passado está sempre aqui. É como se ainda hoje todos os trens me levassem para Auschwitz, Dachau, Treblinka.”
25/09
LISBOETAS (2004, 100’, documentário). Debate com Consuelo Lins
Um documentário musical sobre a onda de imigração que mudou Portugal no virar do século. Falado em 14 idiomas, Lisboetas é uma janela aberta para novas realidades: modos de vida, mercados de trabalho, direitos, cultos religiosos, identidades da imigração. Uma viagem a uma Lisboa desconhecida. Este filme foi o primeiro documentário a estrear em salas de cinema em Portugal e esteve mais de três meses em cartaz.
VIAGEM A PORTUGAL (2011, 75’, ficção). Debate com Edgar Moura
Com Maria de Medeiros, Isabel Ruth, Makena Diop, Rebeca Close
24 horas num aeroporto português. Entre todos os passageiros do seu avião, Maria, uma jovem ucraniana, é a única a ser detida pela polícia. A situação transforma-se num pesadelo quando a polícia percebe que o homem que a espera é senegalês. Imigração ilegal? Tráfico humano? Tudo é possível. Inspirado em um caso real, Viagem a Portugal é um retrato kafkiano da experiência da imigração.
02/10
A CIDADE DOS MORTOS (2009, 62’, documentário). Debate com Beth Formaggini
A Cidade dos Mortos, no Cairo, é a maior necrópole do mundo. Um milhão de pessoas vivem dentro dos cemitérios, onde há de tudo: padarias, cafés, escolas, teatros de fantoche. A Cidade dos Mortos é gigante mas funciona como uma pequena aldeia, onde as mães procuram o melhor partido para as suas filhas, os rapazes correm atrás das garotas e os vizinhos brigam todos os dias.
WAITING FOR PARADISE (2009, 14’, curta-metragem).
Todas as semanas celebram-se casamentos na Cidade dos Mortos. São festas que duram vários dias, sempre dentro do cemitério. Começam de manhã, no momento em que se prepara o colchão dos noivos. Dias mais tarde o processo culmina numa festa com músicos, regada a álcool, haxixe e dinheiro voando entre os túmulos. Exibido na mesma sessão que A Cidade dos Mortos.
ALENTEJO, ALENTEJO (2013, 98’, documentário). Debate com Quito Pedrosa
Com Grupos Corais do Alentejo
Este filme contribuiu para que o Cante Alentejano fosse declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No Sul de Portugal, dezenas de grupos corais amadores reúnem-se para entoar antigos cantos polifônicos. Nascido nas tabernas e nos campos, o Cante transmitiu-se ao longo de várias gerações. Alentejo, Alentejo é uma viagem musical e apaixonada pelos seus intérpretes.
09/10
PARAÍSO (2021, 85’, documentário). Debate com Ana Rieper
Um grupo de cantores amadores reúne-se todos os dias nos jardins do Palácio do Catete, antiga sede da Presidência do Brasil. Ao cair da tarde, homens e mulheres quase centenários revelam o sentido da vida através de antigas canções de amor. As filmagens deste documentário foram subitamente interrompidas pela pandemia e o filme se transformou numa homenagem a uma geração dizimada.
ALCIBIADES (1992, 26’, curta-metragem) + novos projetos. Debate com Marcelo Gomes
Com Maria de Medeiros, Pedro Fradique e a voz de Luís Miguel Cintra
Fábula musical inspirada no Banquete de Platão. Num monólogo sem pudor, o jovem aristocrata Alcibíades confessa as suas estratégias para conquistar o filósofo Sócrates – certo de que o saber pode ser transmitido por contato físico.
11/11
A NOIVA (2022, 81’, ficção). Debate com Lucia Murat
Com Joana Bernardo, Hugo Bentes, Lola Dueñas
Uma adolescente europeia foge de casa para casar com um guerrilheiro do Daesh. Torna-se uma noiva da Jihad. Três anos mais tarde a sua vida mudou dramaticamente. Vive num campo de prisioneiros no Iraque. É mãe de dois filhos e está grávida outra vez. Mas agora é uma viúva de 20 anos e será brevemente julgada pelos tribunais iraquianos. Quem é esta adolescente, após três anos de guerra e de lavagem cerebral?
Um encontro com a história e a memória
A mostra Regresso ao Brasil não é só uma retrospectiva, mas um convite para refletir sobre temas essenciais como memória, história e identidade. Sérgio Tréfaut, através de sua filmografia, oferece uma perspectiva única sobre os eventos que moldaram o mundo e a vida de tantas pessoas.