O longa-metragem “Alma do Deserto”, dirigido por Mônica Taboada-Tapia, será uma das grandes estreias do Festival do Rio 2024, trazendo à tona uma história poderosa de luta por identidade e reconhecimento. A coprodução entre Brasil e Colômbia será exibida na Première Latina, no próximo sábado, 5 de outubro, às 21h30, no Net Gávea 1. A presença da equipe do filme na sessão reforça a importância deste momento, que marca o início da trajetória pública da obra no Brasil.
Um Olhar Sobre a Resistência Trans e Indígena
O enredo de “Alma do Deserto” acompanha Georgina, uma mulher trans da etnia Wayúu, que enfrenta a perda de seus documentos após um incêndio criminoso provocado pelos próprios vizinhos, que rejeitam sua presença por ela ser trans e indígena. A partir desse ponto, o filme se desenrola como uma jornada de resiliência, em que Georgina busca recuperar sua identidade e, com ela, direitos civis fundamentais, como o voto nas eleições colombianas.
A narrativa transcende as questões individuais de gênero e identidade, explorando as interseções entre opressão racial e marginalização social, ao mesmo tempo em que toca em um contexto político e cultural particular das comunidades indígenas na América Latina. “Alma do Deserto” é uma história de sobrevivência, mas também de luta por direitos que são negados de maneira silenciosa e violenta a muitas pessoas como Georgina.
A Importância da Representação Queer no Cinema
“Alma do Deserto” não só se insere em uma discussão contemporânea sobre identidade queer, como também reforça a necessidade de dar visibilidade às narrativas trans e indígenas. Essa combinação de temas confere ao filme um caráter urgente. A obra já foi descrita pela International Cinephile Society como “um documentário poderoso, comovente e cativante… um dos filmes mais marcantes sobre a identidade queer dos últimos anos”. Taboada-Tapia utiliza a trajetória de sua protagonista para criar uma crítica sutil, porém contundente, sobre a exclusão social e as barreiras impostas às minorias.
A crescente presença de filmes com temáticas LGBTQIA+ em festivais internacionais, como o Queer Lion, tem oferecido mais espaço para reflexões sobre essas identidades. “Alma do Deserto” se encaixa nesse movimento, que não se limita a contar histórias de superação, mas também a provocar discussões sobre a complexidade da experiência humana e o impacto de normas sociais excludentes.
A Estética da Resistência
Visualmente, “Alma do Deserto” constrói sua narrativa a partir da vastidão das paisagens desérticas da Colômbia, que reforçam o sentimento de isolamento da protagonista. A fotografia de Tininiska Simpson e Rafael David González Granados utiliza o espaço natural como um contraponto à luta íntima e emocional de Georgina, criando um contraste entre a imensidão da natureza e a restrição de seus direitos. A montagem de Will Domingos mantém o ritmo contemplativo do filme, permitindo que a jornada de Georgina seja vivida de maneira pausada, quase como uma meditação sobre a perda e a reconstrução de si mesma.
A Trajetória de “Alma do Deserto” no Festival e Além
Após sua estreia no Festival do Rio, “Alma do Deserto” será distribuído nos cinemas brasileiros pela Retrato Filmes, que se dedica a obras independentes e de perfil autoral. A presença do filme no festival e sua futura distribuição indicam um momento promissor para o cinema latino-americano, que cada vez mais tem se voltado para histórias de resistência e diversidade. Filmes como esse se destacam não apenas por seu valor artístico, mas também por seu impacto social, ao dar voz a personagens que raramente são ouvidas nas grandes produções.
O Festival do Rio se confirma, mais uma vez, como um espaço de abertura para filmes que dialogam com questões urgentes e universais, e “Alma do Deserto” surge como uma das obras mais impactantes desse ano, não só por seu enredo, mas pela relevância de sua mensagem.