O documentário “Ocupa SP”, dirigido por Gustavo Ribeiro e produzido por Ana Cláudia Streva, chega à 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com uma proposta instigante: convidar o público a refletir sobre a cidade de maneira crítica e sensível. A produção não só revela a luta de comunidades por espaço e direitos, mas também explora novos olhares sobre a ocupação da metrópole. Em tempos de grandes transformações sociais, o filme provoca uma discussão urgente sobre quem tem o direito de ocupar São Paulo.
Uma Cidade de Todos?
São Paulo, uma cidade de enormes contrastes, oferece um cenário vibrante, mas também marcado por segregação e desigualdade. “Ocupa SP” mergulha nessa complexidade, abordando as iniciativas de grupos que resistem à exclusão e lutam para transformar seus espaços. Entre os exemplos mostrados no filme estão as ruas coloridas do Jardim da União, a horta comunitária das Mulheres do GAU, o teatro comunitário da Cia Mungunzá no centro da cidade, e a preservação da ancestralidade indígena no Pico do Jaraguá.
Para Gustavo Ribeiro, a ideia inicial do filme era mais leve, focada no lazer e na diversão em São Paulo. Contudo, o cenário social e político mudou radicalmente durante o processo de produção. “A cidade é de todos, mas o controle sempre esteve nas mãos de poucos”, comenta o diretor, que percebeu que era necessário explorar um viés mais crítico. O documentário passou a tratar da ocupação urbana como uma questão de direitos, um espaço de disputa por pertencimento.
Uma Produção Feita em Coletivo
A realização de “Ocupa SP” reflete o espírito coletivo que é o próprio tema central do filme. A produtora Ana Cláudia Streva, junto com a pesquisadora Stela Grissoti e a roteirista Juliana Borges, ajudaram a escolher quais iniciativas de ocupação seriam retratadas, com base em uma pesquisa que considerava diferentes aspectos, como moradia, alimentação saudável, cultura e lazer.
Além disso, o trabalho da fotógrafa Carol Quintanilha e do técnico de som Michel Benício foi essencial para capturar a cidade em toda a sua complexidade. O processo de montagem, que durou quatro meses, ficou a cargo de Larissa Figueiredo, que colaborou com Ribeiro para encontrar o ritmo e a sensibilidade que o documentário exigia. O resultado é uma obra que não só documenta a cidade, mas também a faz pulsar na tela.
Histórias de Resistência
Cada história mostrada em “Ocupa SP” revela a resiliência das comunidades paulistanas. Mais do que uma simples ocupação física, o filme demonstra que essas ações são uma forma de afirmar pertencimento e identidade. A horta comunitária, por exemplo, não é apenas uma forma de cultivar alimentos, mas também de criar laços e fortalecer a convivência. O teatro comunitário da Cia Mungunzá transforma o centro de São Paulo em um espaço de cultura acessível, mostrando que a arte pode e deve ser uma ferramenta de resistência.
O documentário também se debruça sobre a ancestralidade preservada no Pico do Jaraguá, evidenciando a luta dos povos indígenas para manter sua presença em uma cidade que, historicamente, tem os excluído. Essas histórias são um lembrete constante de que a luta pela cidade é, na verdade, uma luta pela vida, pelos direitos e pela dignidade.
Sessões na Mostra Internacional de Cinema
Quem quiser assistir a “Ocupa SP” terá três oportunidades durante a 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo:
- 21 de outubro no Espaço Augusta 2, às 20h50
- 24 de outubro no Reserva Cultural 2, às 16h
- 29 de outubro no Cineclube Cortina, às 21h20
Com 96 minutos de duração, o filme não é apenas um documentário, mas um convite à reflexão sobre a cidade que habitamos. Afinal, ao ocuparmos os espaços, também estamos reivindicando nossos direitos. “Ocupa SP” não oferece respostas fáceis, mas levanta questões fundamentais sobre o futuro da metrópole e os rumos que ela pode tomar nas mãos daqueles que, diariamente, lutam para pertencê-la.