O Festival do Rio 2024 encerrou sua edição premiando duas obras que refletem sobre identidade, pertencimento e resistência em diferentes contextos. O documentário “Salão de Baile”, de Juru e Vitã, e o drama “O Deserto de Akin”, de Bernard Lessa, saíram consagrados em uma cerimônia realizada no icônico Cine Odeon.
“Salão de Baile” e a força do movimento ballroom carioca
Com o Troféu Redentor de Melhor Montagem e uma Menção Honrosa no Prêmio Félix, “Salão de Baile” conquistou destaque no festival com sua abordagem sensível sobre o movimento ballroom no Rio de Janeiro. Dirigido por Juru e Vitã, o filme é o primeiro documentário a explorar esse universo no Brasil, retratando os bailes como espaços de expressão, celebração e resistência para a comunidade negra e LGBTQIAPN+.
O documentário acompanha uma típica “ball” da cena carioca, onde competições de dança, moda, beleza e música são realizadas com uma energia única. Mais que uma vitrine artística, essas festas são espaços de construção de identidade e liberdade. “A ballroom é um lugar de resistência, criado por e para pessoas trans e pretas”, conta Juru, que também faz parte do movimento.
Para Vitã, o filme foi uma oportunidade de apresentar o ballroom sob uma perspectiva interna: “Nós queríamos mostrar o que é essa cultura a partir do nosso olhar, de dentro da cena”. A autenticidade é um dos trunfos do documentário, que envolve os próprios membros da comunidade na produção. Com isso, “Salão de Baile” ganha ainda mais força, transcendendo o formato tradicional de um documentário e tornando-se uma experiência imersiva.
“O Deserto de Akin” e a solidão do imigrante
Outro grande vencedor da noite foi o filme “O Deserto de Akin”, que rendeu a Reynier Morales o prêmio de Melhor Ator na competição Novos Rumos. Dirigido por Bernard Lessa, o longa explora o dilema vivido por Akin, um médico cubano do programa Mais Médicos, que se vê diante de uma difícil escolha: voltar para Cuba ou permanecer no Brasil e tentar se reinventar.
A jornada de Akin, interpretada com intensidade por Morales, toca em questões importantes de imigração, solidão e pertencimento. O filme questiona as relações de identidade quando se está em uma terra estrangeira, e o prêmio de Melhor Ator para Morales reflete a profundidade com que o ator conseguiu capturar essa experiência.
Festival do Rio e a diversidade de vozes
A edição de 2024 do Festival do Rio reuniu 51 filmes nas mostras principal e Novos Rumos, além de 35 concorrentes ao Prêmio Félix, que celebra obras com temáticas LGBTQIAPN+. A cerimônia foi apresentada por Fabíola Nascimento e Juan Paiva, destacando o cinema nacional contemporâneo e suas diversas narrativas.
Ao premiar “Salão de Baile” e “O Deserto de Akin”, o festival reafirmou seu compromisso com histórias que não apenas entretêm, mas também promovem reflexões sociais profundas. Seja na energia vibrante do ballroom carioca ou na solidão silenciosa de um imigrante cubano, os dois filmes mostram como o cinema brasileiro continua a ser uma plataforma potente de debate e expressão.