SALOMÉ, o segundo longa do diretor pernambucano André Antônio, fará sua estreia mundial na mostra competitiva do 31º Festival Internacional de Cine de Valdivia, no Chile, entre 14 e 20 de outubro. Com um elenco majoritariamente formado por pessoas trans, o filme reinventa a figura da célebre princesa bíblica, trazendo-a para as ruas de Recife e conectando-a à cultura queer brasileira.
Recife como cenário de contrastes
A narrativa gira em torno de Cecília, uma jovem modelo interpretada por Aura do Nascimento, que retorna a Recife, sua cidade natal, para passar o Natal com a mãe (Renata Carvalho). Essa volta provoca um choque com o ambiente conservador que deixou para trás. O filme explora o conflito entre a modernidade cosmopolita de Cecília e as tradições de sua família, traçando um paralelo com muitas existências queer que enfrentam desafios semelhantes. A escolha de Recife como cenário é significativa, pois a cidade, repleta de contradições culturais, se torna o pano de fundo ideal para a história de Cecília.
Uma releitura queer de Salomé
André Antônio não se propõe a adaptar diretamente a peça de Oscar Wilde, mas usa sua história como ponto de partida. Ele traz a figura de Salomé para o mundo contemporâneo, utilizando o melodrama clássico como forma de expressar a complexidade das identidades queer. O culto pagão que Cecília encontra em sua jornada traz à tona a magia e o erotismo, fundamentais para a construção da narrativa. O diretor destaca que, em seus filmes, sempre busca personagens em busca de seus próprios paraísos, algo que permeia toda a sua filmografia.
Representatividade além dos estereótipos
Um dos aspectos mais marcantes de SALOMÉ é a escolha de um elenco trans para protagonizar a história, que não se limita a narrativas sobre transição de gênero ou violência. Renata Carvalho e Aura do Nascimento, ambas figuras de destaque na cena artística brasileira, mostram a força e a diversidade das experiências trans. André Antônio observa que o filme traz uma representação mais ampla e complexa, permitindo que essas artistas explorem novas dimensões em suas atuações.
Uma jornada estética e mística
SALOMÉ também é uma ode ao cinema como experiência sensorial. O diretor se inspira em cineastas como José Mojica Marins e Derek Jarman, buscando uma estética que vai além do realismo. O resultado é um filme que mistura elementos de magia, erotismo e simbolismo, criando uma atmosfera que desafia as convenções do gênero.
O lançamento do filme no Brasil será realizado pela Vitrine Filmes, trazendo para o público uma narrativa que explora o corpo, a identidade e a busca por liberdade em um mundo repleto de normas e expectativas. SALOMÉ promete ser uma experiência cinematográfica única, que reflete a riqueza e a diversidade da cultura queer brasileira.