O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, conhecido por seu espaço a debates intensos e novas perspectivas do cinema nacional, será palco da estreia nacional de Salomé, segundo longa-metragem do diretor pernambucano André Antônio. O filme, protagonizado por um elenco trans e produzido pelo coletivo Surto & Deslumbramento e pela Ponte Produtoras, integra a mostra competitiva do festival, que acontece entre 30 de novembro e 7 de dezembro. Distribuído pela Vitrine Filmes, Salomé reforça a representatividade trans e queer no cinema brasileiro, além de homenagear o estilo visual e os temas subversivos que definem o coletivo de André Antônio.
Um Encontro Perigoso e Misterioso
A narrativa de Salomé gira em torno de Cecília, uma modelo que volta a Recife, sua cidade natal, para o Natal. Em meio a essa visita, ela reencontra João, um antigo vizinho que lhe apresenta um misterioso frasco de substância verde e tóxica. Aos poucos, Cecília se apaixona por João, mas descobre que ele faz parte de uma seita que idolatra a figura bíblica de Salomé, personagem infame por exigir a cabeça de João Batista. Esse relacionamento complexo leva Cecília a um universo sombrio, onde as fronteiras entre devoção e destruição são constantemente desafiadas.
A Mítica de Salomé: Uma Ícone Queer em Recife
A figura de Salomé é resgatada aqui em um contexto moderno e local. Para André Antônio, o desafio de transportar a personagem para o ambiente de Recife permitiu abordar temas como a alienação e o deslocamento de personagens queer. André vê a luta de Cecília entre seu estilo cosmopolita e o conservadorismo da família como uma metáfora para a experiência queer em contextos opressores. Inspirado pela peça homônima de Oscar Wilde, o diretor evita fazer uma adaptação literal, mas toma a figura de Salomé como um ponto de partida para sua narrativa.
Direção Queer e o Coletivo Surto & Deslumbramento
André Antônio, conhecido pelo olhar artístico ousado, começou sua carreira com o coletivo Surto & Deslumbramento, que explora temas e estéticas queer de maneira lúdica e provocativa. O cineasta afirma que Salomé busca elementos de melodrama e um toque de artificialismo “camp”, inspirando-se em cineastas como José Mojica Marins, Derek Jarman e Kenneth Anger. Salomé também explora a presença de uma comunidade queer real de Recife, que é retratada no filme de maneira autêntica e glamorizada.
Diretor já é um nome conhecido no circuito de cinema queer, com filmes como A Seita (2015) e Vênus de Nyke (2021). Seus projetos trazem personagens que buscam prazer e liberdade, desafiando tabus e normas sociais. Em Salomé, ele continua essa trajetória ao explorar a complexidade das experiências queer em cenários locais, sempre com um olhar místico e fantástico que lembra o underground dos anos 70.
A Importância da Representatividade
Salomé se destaca ao colocar personagens trans em uma trama que não gira em torno da transição de gênero ou da violência do preconceito, abordando a experiência trans de forma complexa e diversificada. A produtora Dora Amorim comenta sobre a importância de ter o longa no Festival de Brasília: “Voltar a Brasília no ano em que o festival retoma sua força total é maravilhoso. Salomé é uma história queer de amor, cheia de cor e música. É um grande passo para o cinema queer brasileiro”.
Um Elenco Trans Brilhante e Singular
O elenco de Salomé conta com importantes nomes da cena artística queer brasileira, incluindo Aura do Nascimento, Renata Carvalho e Everaldo Pontes. Para André, trabalhar com artistas que representam a luta trans e queer, sem limitar-se aos estereótipos ou temas comuns, foi uma oportunidade de celebrar a diversidade com autenticidade.
Salomé será lançado em circuito nacional pela Vitrine Filmes, prometendo trazer um novo fôlego ao cinema queer brasileiro e abrir espaço para mais histórias transgressoras e autênticas.