O Penitente (The Penitent), dirigido por Luca Barbareschi, que também assina o roteiro e protagoniza o filme, é um dos destaques do Festival de Cinema Italiano que começa nesta semana. Com um tom teatral e cenas focadas no diálogo, o filme traz embates raramente vistos, expondo uma complexa discussão moral e religiosa após o ataque de um jovem em uma universidade, no qual toda a culpa recai sobre seu psicólogo, que também é professor no local.
Ambientado em Nova York, o filme explora questões sobre orientação sexual, religião e escolhas que poderiam ter evitado a tragédia. Centrado em poucos personagens e cenários, o longa possui uma atmosfera claustrofóbica que aprofunda a busca por um culpado. A história é inspirada em fatos reais, com base no caso Tarasoff.
A Trama
Após um ataque cruel que tira a vida de várias pessoas, um jovem LGBTQIA+ acaba morto, e sua ligação com o psicólogo Carlos David Hirsh (Luca Barbareschi) desperta atenção da mídia. O professor Hirsh é acusado de ter escrito um livro em que considera homossexuais como aberrações. Em resposta, ele afirma que houve uma interpretação equivocada da imprensa e que não foi ele quem escreveu tais declarações, mas mesmo assim, a sociedade exige que ele revele detalhes sobre sua relação com o paciente, o que ele considera um absurdo ético.
Hirsh enfrenta dificuldades para separar a vida profissional da pessoal, o que gera tensões com sua esposa, Kath Hirsh (Catherine McCormack). Em discussões acaloradas, Kath discorda da insistência do marido em manter o sigilo, especialmente porque o paciente está morto. Hirsh, contudo, sustenta que não pode abrir mão dos valores profissionais, aumentando ainda mais o conflito e levando o casal a se refugiar na praia.
Enquanto isso, o advogado Richard Marlow (Adam James) tenta persuadir Hirsh a reconsiderar suas decisões. Em um ponto crítico, a única prova que poderia esclarecer a ligação do professor com o crime são os cadernos de anotação do próprio psicólogo. Hirsh considera destruí-los, temendo ser preso, mas os entrega a Richard, que, ao invés de apenas guardá-los, lê os registros e desvenda o mistério.
Surge então um confronto entre o professor e o promotor de justiça (Adrian Lester), que desafia os valores de Hirsh em relação ao tratamento de seus pacientes. Defendendo seus princípios religiosos como judeu, Hirsh tenta explicar até onde vai sua fé e sua postura em não condenar comunidades como a LGBTQIA+. O promotor busca, a todo custo, mostrar como as convicções morais de Hirsh podem ter influenciado o paciente, levando o professor a um profundo questionamento.
Em uma situação insustentável, Kath tenta tirar a própria vida, e Hirsh a encontra dias depois em um hospital. Nesse ponto, o filme revela que a pressão em casa era intensa e que o casamento trazia infelicidade, com Kath tentando encontrar sentido em outro lugar.
Por se recusar a colaborar com a justiça, Hirsh perde a licença para exercer a psicologia, percebendo que a perseguição não cessará. Ao final, Kath revela o que Richard encontrou nos cadernos de Hirsh e a natureza da relação entre ele e o paciente.
Opinião
“O Penitente” impressiona ao trazer discussões em tantas camadas que o espectador não consegue parar de assistir, tentando entender se o professor é, de fato, culpado pelo crime de seu paciente.
Ao optar pelo sigilo profissional, os embates vão se tornando cada vez mais acalorados, tornando a discussão cada vez mais “real”. As trocas entre Lucas Barbareschi e Catherine McCormack trazem uma sensibilidade e intensidade que impressionam pela entrega dos dois neste filme.
Com poucos personagens e totalmente focado nos diálogos, o filme conta ainda com Adam James e Adrian Lester, que brilham em suas breves cenas. No entanto, devido à sua curta duração, faltam detalhes que ajudariam a entender ainda mais o que está acontecendo.
Entrando no terreno dos spoilers: quando Kath revela no final que Richard leu sobre o encontro entre o professor e o paciente momentos antes do crime, percebemos que, às vezes, guardamos segredos que gostaríamos que nunca fossem descobertos.
Ao optar por um elenco enxuto e foco no diálogo, o filme acaba se perdendo em alguns momentos. Ainda assim, seu principal papel é propor uma reflexão moral: quem é o verdadeiro monstro?
Trailer
Nota: 4 (de 5)
O Penitente
Nome original: The Penitent
Direção: Luca Barbareschi
Elenco: Luca Barbareschi, Catherine McCormack, Adam James, Adrian Lester
País: Itália
Ano: 2023
Duração: 120 minutos
Gênero: Drama
Acho que no filme, pouco importa a questão LGBTQIAP+ ou a de violência com armas, mas a arapuca que o psiquiatra se meteu e as cascas de banana que enfrenta pelo caminho.
O protagonista é todo religioso, mas a questão da fé só é introduzida mesmo na segunda metade, quando ele é interrogado pelo procurador. Senti falta de uma base anterior mais sólida.
Condena-se a imprensa por definição, como uma coisa só. Pensei que haveria uma questão de um profissional dela ou dono de jornalão contra Charles, mas não há nada. Há um respeito máximo pela lei dos homens. Pelo final apresentado, o mesmo não pode ser dito da religião.
O médico é muito prolixo, criando um labirinto para responder simples questões. Me deu raiva a discussão inicial com a esposa, meio escanteada, para servir de ferramenta narrativa mais tarde. Essa sua dita inteligência é anulada totalmente pelo emocional e por certa arrogância. Em vez de responder sim ou não, como orientado, ele prefere ficar se explicando e cair em ciladas. Estava avisado.
Ele ficou desconfiado das ligações da mulher com o outro lá no início, sem a gente saber o motivo. Se provou correto, mas ele negligencia isso, entregando as anotações a pessoa menos indicada. Quer dizer, ele confiava mais no sujeito e menos na esposa.