O cinema brasileiro segue sua trajetória de inovação e profundidade, e Kasa Branca, o mais recente trabalho do diretor Luciano Vidigal, é uma prova disso. O longa-metragem estreia internacionalmente no Festival de Torino, na Itália, em 28 de novembro, marcando uma nova fase para o filme. Aclamado em diversos festivais nacionais, Kasa Branca já conquistou uma série de prêmios, incluindo Melhor Direção no Festival do Rio, além de Melhor Ator Coadjuvante para Diego Francisco, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora. O filme também passou pela 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Festival Janela do Recife, e está programado para ser exibido em outros importantes eventos, como o Festival de Brasília e o Fest Ruanda, antes de sua estreia comercial, prevista para 2025.
A história de Dé e o olhar periférico de Vidigal
Com um roteiro de Vidigal, Kasa Branca acompanha Dé, interpretado por Big Jaum, um jovem negro da periferia de Chatuba, no Rio de Janeiro. Ao descobrir que sua avó, Dona Almerinda (Teca Pereira), está na fase terminal de Alzheimer, Dé se vê diante da missão de aproveitar os últimos momentos com ela, acompanhado por seus amigos Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco). A narrativa mistura elementos de drama e comédia, proporcionando uma abordagem sensível e profundamente humana sobre a convivência com a doença e as relações familiares.
Vidigal, que também assina a direção, vê o projeto como uma realização pessoal, um desejo de contar uma história com forte carga emocional, mas com uma perspectiva única da periferia. “Este é um filme feito por pessoas negras da periferia, com protagonistas negros tanto no elenco quanto na criação”, afirma o diretor. O filme, portanto, é um reflexo da vivência e da cultura negra, abordando uma realidade muitas vezes negligenciada pelo cinema mainstream, mas com uma visão autêntica e universal.
Elenco diversificado e a força da produção independente
O elenco de Kasa Branca é outro ponto forte do filme, reunindo talentos como Big Jaum, Teca Pereira, Diego Francisco e Ramon Francisco, ao lado de estreantes como o rapper L7nnon e o DJ Zullu. A produção conta ainda com a participação de grandes nomes do cinema brasileiro, como Babu Santana, Roberta Rodrigues, Otavio Muller e Guti Fraga, que contribuem com suas performances para o poder da narrativa.
A produção do filme é assinada pela Sobretudo Produção, com coprodução de Riofilme, Canal Brasil, Telecine e Globo Filmes. A equipe técnica é igualmente qualificada, com o diretor de fotografia Arthur Sherman, que imprime uma estética sensível ao filme, e o compositor Fernando Aranha, cuja trilha sonora é essencial para a construção emocional da obra. Kasa Branca é, sem dúvida, uma produção que aposta na força do cinema independente, com uma visão criativa e coletiva.
A potência cultural de um cinema autêntico
O maior trunfo de Kasa Branca está em sua capacidade de capturar a essência de uma realidade marginalizada, sem recorrer a estereótipos ou melodrama exagerado. O filme é uma reflexão sobre amizade, amor e a luta pela sobrevivência nas periferias, mas também uma crítica à falta de representação no audiovisual brasileiro. Luciano Vidigal aponta que, ao fazer um filme protagonizado e criado por pessoas negras, ele busca construir um cinema que se conecta diretamente com o povo e suas realidades.
A abordagem de Vidigal é tão cuidadosa quanto audaciosa, criando uma obra que dialoga com o público brasileiro de forma profunda, mas também com uma universalidade que pode ser apreciada em qualquer lugar do mundo. Kasa Branca não é apenas um drama sobre Alzheimer, mas uma celebração da vida e da resistência, com uma visão honesta sobre a dinâmica social das periferias.
Com sua estreia internacional em Turim e uma estreia comercial planejada para 2025, Kasa Branca tem o potencial de se consolidar como uma das produções mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo, colocando em evidência uma perspectiva marginalizada e essencial para a construção de um cinema mais inclusivo e diversificado.