quinta-feira, novembro 21, 2024
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Review | Dragon Quest III HD-2D Remake é uma repaginada belíssima de um dos mais tradicionais RPGs da geração 8 bits

Outro excelente remake de um dos maiores sucessos da Square Enix chega para trazer de volta uma trilogia de peso entre os RPGs dos anos 1980.

Parando para perguntar a qualquer fã de RPGs da Square Enix qual das séries da produtora tende a ser a mais confusa, a grande maioria com certeza diria “Final Fantasy” em resposta, mas, na realidade, há outra que a supera. Trata-se da igualmente longeva franquia Dragon Quest, que teve seu início no Nintendinho, desenvolvida pela Enix, muito antes de se fundir com a então chamada Squaresoft.

Dragon Quest, para os não-fanáticos, é uma série de jogos extremamente influente no gênero que pertence, sendo um dos primeiros a utilizar batalhas em turno e implementar mecânicas que hoje são corriqueiras nos RPGs atuais. Claro, ela e Final Fantasy foram moldadas a partir do brilhante Wizardry, mas essa história fica para uma outra matéria. O que importa agora é comentar o quão confusa a série é em termos cronológicos!

Isso porque, se pegarmos os seis primeiros jogos, mesmo que à primeira vista não  aparentam ter relação alguma, eles têm, e muita. Os três primeiros, por exemplo, são interligados não só quanto à trama, mas também mitológicos e geográficos. Mas é aí que o caldo entorna, porque tudo não começou no primeiro jogo e sim no terceiro. Dragon Quest III: Seeds of Salvation, de 1989, trouxe a origem da linhagem de heróis que carregam o título de Erdrick, sendo os dois jogos iniciais sequências diretas do terceiro.

É por essa razão que, entre os fãs, os três jogos compõem a “Trilogia Erdrick”, e é a partir daí que a Square Enix decidiu explorar mais um meio de relançar seus jogos sob roupagem nova, no estilo dos excelentes Octopath Traveller e Star Ocean: The Second Story R. Lindíssimo e repleto de novidades, Dragon Quest III HD-2D Remake é joia de se jogar, sem fugir dos moldes da época que veio, o que pode ou não agradar novos jogadores, jogo que nós tivemos o prazer de jogar antecipadamente para cobertura aqui no Jwave. 

O nascimento de uma fórmula de sucesso

Tudo começa no reino de Aliahan, onde o rei acaba dando como missão para um jovem, filho do herói local há muito desaparecido: derrotar o demônio Baramos, que ameaça destruir a tudo e a todos. Antes de partir, o garoto recruta uma equipe de aventureiros e parte em sua jornada, uma viagem que o leva a todos os cantos do charmoso mundo do jogo e a conhecer muitos novos amigos, além, claro, de batalhas alucinantes e masmorras complexas, repletas de monstros.

Antes de taxar a premissa do jogo como clichê, precisamos lembrar que este daqui veio, originalmente, de meados dos anos 1980, quando os RPGs como conhecemos hoje estavam tomando forma. Mesmo assim, Dragon Quest III inovou ao trazer tantas conexões entre ele e os que vieram antes, que para os mais atentos foi mais que suficiente para continuarem jogando e descobrindo esses elos. E mesmo com um ponto de partida muito conhecido, a trama traz surpresas legais, muitas das quais também bastante influentes no futuro do nicho gamístico, sem falar no da série, que até hoje os adaptam dentro de seus próprios enredos.

Falando de jogabilidade, Dragon Quest III HD-2D Remake conta o mesmo amado sistema de batalha da série, onde as lutas acontecem em turnos, com seu time de guerreiros podendo atacar um só inimigo ou mais de um mesmo tipo, dependendo do comando escolhido. E, para travar essas batalhas, basta andar pelo mapa do jogo ou em calabouços, que elas são iniciadas aleatoriamente. Nisso, a série já havia mudado bastante desde o relançamento do oitavo jogo, onde os inimigos podiam ser vistos e, se necessário, evitados, mas aqui a coisa ficou bem às antigas, um tanto maçante, algo que nós teríamos preferido que fosse mudado, visto as melhorias em outras áreas no remake.

O negócio aqui é tenso!

Outros fatores que podem ser considerados problemáticos por aqueles que não têm muito costume de jogar RPGs mais velhos, como a morte de personagens, de início, que só pode ser revertida correndo de volta à igreja mais próxima, e a curva de nível dos monstros que salta sem qualquer aviso, dizimando seu grupo, também fazem parte desta aventura. Cabe a gente saber se precaver, mas vendo que tais questões poderiam afastar novos jogadores do relançamento, a Square Enix trouxe algumas melhorias muito bem-vindas. 

Essas novidades ajudam a aliviar um pouco o fator de dificuldade, mas não livram o jogo por completo de algumas frustrações por parte de quem o joga. A maior é a possibilidade de mudar o nível do desafio antes e durante a jogatina. No mais fácil, seus personagens podem tomar o dano que quiserem e não morrem, o que ajuda a percorrer as complicadas fases de Dragon Quest III com mais tranquilidade, enquanto que o estilo de jogo mais tradicional fica com a opção “normal”, e uma ainda mais desafiadora, só para os loucos de plantão.

Outras servem para facilitar a vida de quem joga, desde a setagem de velocidade de batalhas e caixas de diálogo ao modo como o combate pode ser realizado por meio das táticas escolhidas para seu time, sem haver necessidade de sua participação, muito útil em locais com muitas batalhas repetitivas. Há agora salvamentos automáticos são constantes durante a exploração, além de uma a função de descanso – herança dos jogos da série nos portáteis – que possibilita a saída do jogo sem perder seu progresso. Pra gente, a melhoria favorita é poder se teleportar de dentro dos calabouços até qualquer local previamente visitado, o que antes só podia ser feito do lado de fora!

Relaxe e aproveite, há muito o que fazer

Mas há mais conteúdo para jogar fora o que veio mais bonito de 1989?, você perguntaria. Sim, e muito. Inúmeras batalhas contra chefes fortíssimos escondem novos detalhes sobre a origem do pai do protagonista, Ortega, cimentando ainda mais a lenda que dá nome à trilogia da qual Dragon Quest III HD-2D Remake faz parte, sem falar, também, da arena de monstros, onde você pode participar de batalhas amigáveis entre os bichinhos que você encontra no decorrer de sua jornada ao redor do mundo. 

Esse centro de combate, em especial, é espelhado nas escolhas de classe do jogo, já que há uma nova, sob a forma do domador de feras, onde o personagem dá uma de treinador Pokémon, por assim dizer, colocando monstrinhos para batalhar em seu lugar. Conforme você sobe de nível, outras dessas classes são liberadas, multiplicando as cartas no leque de opções de composição de equipe, um dos grandes fortes da série.

Outra força da franquia vem de todo o estilo visual do traço do grande mestre dos mangás e animes, o saudoso Akira Toriyama. Dragon Quest III HD-2D Remake não é diferente, trazendo personagens, dos menores aos maiores, com a cara única do trabalho de Toriyama, enaltecidos pelo poder da Unreal Engine e coloridos até seus olhos dizerem chega. É sério: este jogo é lindo de se ver e é tranquilamente um dos remakes mais caprichados nesse quesito. O “HD” do nome não é à toa.

E, dentro dele, podemos falar muito bem inclusive de seu lado sonoro. A trilha clássica da franquia foi toda regravada em alta qualidade, orquestrada e gostosa de se ouvir a cada segundo de jogo. Vale falar em conjunto disso sobre as atuações de voz que são pontualmente tocadas durante a história, com interpretações excelentes de certos personagens, algo que nós nem esperávamos ouvir aqui. Efeitos sonoros emblemáticos de Dragon Quest estão de volta e são igualmente agradáveis.

Batemos na mesma tecla a cada nova matéria de review aqui no site e desta vez não tem como não falar da falta de localização para o português brasileiro em Dragon Quest III HD-2D Remake. A própria Square Enix já mostrou que sabe fazer muito bem o serviço com a antologia de Final Fantasy, Final Fantasy I-VI Pixel Remaster, então porque não oferece o mesmo aqui, para nós, os fãs do Brasil? Não dá para entender uma omissão dessas, ainda mais agora, com lançamentos mais e mais comuns de grandes franquias em nosso idioma. A torcida fica para que isso venha acontecer com Dragon Quest também, a gente merece, não é verdade?

E então, bora embarcar em uma viagem daquelas?

Dragon Quest III HD-2D Remake, apesar das muitas melhorias e novidades, continua sendo um RPG enraizado nas tradições que ajudou a estabelecer há décadas atrás. Mesmo sendo possível aliviar alguns de seus pontos mais teimosos e chatinhos, ainda é o jogo que fez com que uma geração de japoneses ficassem misteriosamente doentes, para não irem à escola e poderem ficar em casa jogando, uma aventura que em vários momentos repete a esmo as mesmas batalhas e mecânicas.

Nisso, pela mesma razão, é emblemático, repleto de personalidade, oferece horas e mais horas de diversão e também de irritação. É do tipo de coisa que mesmo com farpas aparentes, continua a te contagiar, provocando você a querer continuar, para ver o que vem em seguida. Sabendo que haverá ainda mais um lançamento em 2025, trazendo tanto Dragon Quest I quanto o II em um mesmo pacote, a garantia dada pela Square Enix é clara: a série continua firme e forte, sem perigo algum de acabar.

NOTA: 4 de 5

Ficha técnica:

Nome: Dragon Quest III HD-2D Remake

Desenvolvedoras: ARTDINK e Square Enix

Publicadora: Square Enix

Gênero: RPG

Plataforma: Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC

Lançamento: 14 de novembro de 2024  

Agradecemos a assessoria da Square Enix no Brasil por ter nos enviado uma cópia do jogo antecipadamente para a produção desta matéria.

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