O documentário Salão de Baile: This Is Ballroom chega aos cinemas em 5 de dezembro, trazendo uma imersão inédita na cena ballroom do Rio de Janeiro. O filme é o primeiro longa-metragem brasileiro a explorar em profundidade essa cultura, que mistura dança, moda e performance em uma celebração vibrante das identidades LGBTQIAPN+ e negras. Dirigido por Juru e Vitã, integrantes da própria cena, o documentário apresenta um olhar íntimo sobre os bailes e a comunidade que mantém viva essa tradição.
Raízes e Significados da Cultura Ballroom
A cultura ballroom nasceu nos Estados Unidos como resposta à exclusão enfrentada por pessoas LGBTQIAPN+ não brancas em concursos de beleza drag. Nos anos 1970, eventos como o Primeiro Baile Anual da Casa de LaBeija estabeleceram as bases para uma cena que mistura competição e acolhimento comunitário. Casas lideradas por “mães” ou “pais” oferecem suporte e espaço para que jovens enfrentem adversidades e explorem suas potencialidades.
No Brasil, o movimento ganhou força a partir de 2015, e atualmente, os bailes acontecem quase semanalmente, reunindo talentos de diferentes expressões artísticas. Voguing, dança que simula poses de revistas de moda, é uma das modalidades mais emblemáticas da cultura, amplamente popularizada por obras como o documentário Paris Is Burning e a série Pose.
Um Filme Feito de Dentro para Fora
Diferente de um olhar externo ou antropológico, Salão de Baile: This Is Ballroom foi concebido em colaboração com a comunidade ballroom. A maior parte da equipe técnica e artística é formada por membros dessa cena, incluindo direção de arte, roteiro e produção. Juru, diretore do filme, reforça a importância dessa proximidade: “A escolha de trazer a ballroom para dentro da equipe permitiu que construíssemos um retrato singular da cena, reconhecido tanto pela crítica quanto pelo público.”
O filme retrata uma “ball” carioca, onde pessoas negras e LGBTQIAPN+ encontram liberdade para desafiar padrões e celebrar suas existências. Entre as categorias em destaque nos bailes, estão moda, dança, música e performance. Para Juru, os bailes são mais que competições: são espaços de resistência e celebração da vida.
Reconhecimento Internacional
Desde sua estreia mundial no Festival Internacional de Documentários de Copenhague (CPH), em março de 2024, o documentário vem acumulando prêmios em festivais ao redor do mundo. Ele recebeu o Prêmio de Público no Queer Porto (Portugal), Melhor Documentário no Oslo/Fusion (Noruega) e o Diversity Award no Afrika Film Festival (Alemanha). No Brasil, venceu o prêmio de Melhor Montagem no Festival do Rio e recebeu uma Menção Honrosa no Prêmio Félix, dedicado a produções de temática LGBTQIAPN+.
Essas conquistas refletem não apenas o impacto artístico da obra, mas também sua relevância cultural. Vitã, que assina a direção ao lado de Juru, destaca que o objetivo do filme é proporcionar ao espectador uma experiência imersiva. “Mais do que contar a história da ballroom, queríamos criar algo que fosse uma extensão dela, um olhar de dentro.”
A Força da Cena Carioca
O documentário também ilumina a singularidade da cena ballroom carioca, considerada uma das expressões culturais mais radicais e autênticas do underground fluminense. Luis Carlos de Alencar, produtor do filme, descreve o movimento como uma força de resistência e criatividade, capaz de transformar os subterrâneos da cidade.
Salão de Baile: This Is Ballroom não apenas documenta essa cultura, mas a celebra como uma arte viva. Ao longo de seus 94 minutos, o filme se transforma em um espaço de afirmação, permitindo ao público testemunhar a beleza, a força e a resiliência de corpos dissidentes.
Um Olhar Que Resiste
Mais do que um documentário, Salão de Baile: This Is Ballroom é um ato de resistência e uma ode à criatividade. Com sua estreia nacional, o filme convida o público a descobrir um universo onde dança e identidade se encontram para criar algo revolucionário. Através do olhar de quem vive a cena, a obra reafirma o poder do cinema como um espaço de memória, expressão e transformação.