Embarque em uma aventura em busca de suas memórias perdidas e uma luta contra uma ameaça sinistra em FANTASIAN Neo Dimension.
Há décadas, a Square Enix vem encantando o mundo dos videogames com a série Final Fantasy, que teve seu início em meados dos anos 1980, reunindo uma talentosa equipe cujo líder era Hironobu Sakaguchi. Diz a lenda que, a princípio, o jogo inicial da série seria uma última tentativa da então Squaresoft a sair do vermelho, após uma sequência de lançamentos que não vinham vendendo bem. O resto você já deve saber, afinal, há três décadas a gente vem jogando capítulo após capítulo, num épico sem fim aparente.
Mas nem tudo foi flores para Sakaguchi. No começo dos anos 2000, após o fracasso comercial da extremamente custosa adaptação para as telonas da franquia de ouro da empresa, Hironobu acabou deixando a Squaresoft e, em 2004, fundou a Mistwalker. Lá, junto de sua equipe, o pai de Final Fantasy trouxe alguns dos RPGs mais queridos da geração do Xbox 360, como o inigualável Lost Odyssey e The Last Story, do Wii. Agora, é a vez de FANTASIAN Neo Dimension tentar encantar o público novamente.
Lançado pela primeira vez nos celulares Apple em 2021, o RPG com combate em turnos nos moldes dos jogos da Square Enix no PS1 chega aos consoles atuais e ao PC. FANTASIAN traz uma história repleta de emoção e personagens com nuances a serem exploradas no decorrer da aventura. É um jogo com raízes firmes na geração dos maiores sucessos da gigante japonesa do entretenimento, o que acaba sendo tanto algo muito positivo quanto negativo.
Uma premissa familiar desenvolvida de maneira singular
A trama tem início em uma dimensão muito estranha onde o protagonista, Leo, acorda sem memórias e desorientado, na companhia de dois simpáticos robôs, os únicos, por sinal, que não querem matá-lo. Ao fugir de lá e chegando em Vibra, Leo inicia sua jornada em busca de respostas, dando de cara com muitas pessoas de sua vida anterior, além de muitas novas amizades, descobrindo aos poucos mais sobre o perigo do deus da destruição, Vam, o Malévolo, que vem assolando os mundos, levando consigo uma epidemia tecnológica misteriosa.
Apesar de ser uma premissa um tanto quanto familiar, é a maneira com que FANTASIAN a desenvolve que faz o jogo ir além do clichê ao qual muitos RPGs, especialmente do Japão, acabam recorrendo. Isso porque, sim, a gente vai descobrindo mais sobre o passado de Leo ao jogar, ao mesmo tempo em que ele mesmo testemunha seus erros e procura ser uma pessoa melhor no processo.
A cada pessoa que ele encontra, ou local já percorrido que atiça a sua memória, Leo ou outro personagem tem uma epifania, transmitida pelo jogo em forma de lindos slides que narram histórias curtas relacionadas a eles. É uma maneira singela de transmitir a ideia de que não só Leo tem algo a arremeter, mas também as pessoas que ele conhece ou revê.
Nisso, o novo RPG da Mistwalker acerta na mosca na entrega, transmitindo muita emoção de modo sincero e sem exageros, mostrando que Sakaguchi ainda tem tato para criar narrativas comoventes, como as que fez em especial durante a era dos 16-bits, com Final Fantasy IV e VI, especialmente, e, mais pra frente, com os jogos repletos de cenas pré-renderizadas em mídia em disco no PS1.
Visuais que remetem ao passado do selo da Square
Falando em pré-renderizado, vale comentar sobre a apresentação do jogo. Ela lembra muito os títulos da Square daquela época, com telas estáticas e com câmera fixa que são percorridas por Leo, com lutas aleatórias contra todo tipo de inimigo. Os cenários são simples graficamente, bem como os personagens, que mesmo assim “saltam” ao olhar, igualzinho ao que quem jogou um Final Fantasy VIII da vida em 1998.
Por um lado, esse estilo é muito, mas muito nostálgico. Me senti de volta aos dias de colégio, jogando no meu PlayStation enquanto devia estar estudando, o que foi muito gostoso de reviver. No entanto, para os padrões de hoje em dia, isso faz com que Neo Dimension pareça um tanto ultrapassado, já que, ao contrário de jogos com gráficos em pixel art, modelos formados por poucos polígonos não envelhecem tão bem.
Dá para entender o porquê dessa decisão por parte da Mistwalker, afinal, o jogo começou como um download para aparelhos móveis, o que requer uma abordagem diferente de algo a ser solto nos consoles atuais. Claro, não é uma desculpa, e sim a principal razão pela qual este RPG tem a cara que tem, não só graficamente, mas também em termos de sua interface: tudo é simples, de alto contraste e as fontes de bastão não contam com muita personalidade.
O combate traz algumas novidades, mas é um tanto repetitivo
No assunto de batalhas, FANTASIAN Neo Dimension traz novidades um tanto quanto curiosas. A primeira é o Dimengeon, um dispositivo criado por Leo que é um meio de pular as lutas aleatórias contra tipos de inimigos já derrotados, ao toque de um botão. Ele absorve os monstros e os transporta a uma outra dimensão. Acumulando um certo número deles, você tem que encará-los todos de uma vez, uma maneira diferente de tentar evitar o cansaço de lutar a cada dois passos dados.
Mesmo com esse aparelho, não tem como contornar o fato de que o sistema de combate do jogo é um tanto simplório. Mesmo com a habilidade de mirar ataques especiais para que eles acertem mais inimigos – alguns dos quais podem até serem curvados! – o vai e vem das brigas, mesmo contra chefões, deixa um pouco a desejar.
Ao longo do jogo, outros fatores são apresentados e incluídos nas batalhas, como a barrinha de tensão, que aumenta conforme você leva porrada e retribui, por sua vez destravando ataques especiais e ultra poderosos, o que ajuda a agilizar o andar das coisas, muito porque as lutas tendem a se prolongar um pouco.
Apesar de elementos como a tela de habilidades, onde você gasta pontos para liberar novos poderes para Leo e seus companheiros e um modo de forjar novas armas e itens secundários e armaduras, não há muito que diferencie a ação presente aqui das outras opções, tanto novas quanto das antigas.
A história é o ponto principal do jogo
A história acaba sendo o principal incentivo para avançar em FANTASIAN, que junto da trilha sonora pensativa composta por outro veterano da franquia Final Fantasy, o lendário Nobuo Uematsu, levam o jogo para frente, os dois aspectos se aparando conforme o trem anda. Ele leva consigo temas atuais como conflitos armados e imbróglios políticos, sem falar nas relações humanas e sua influência positiva, mas principalmente negativa no mundo em que vivem. Nisso, Neo Dimension voa alto.
Este se trata de outro jogo que a Square Enix deixou de oferecer uma opção para jogadores brasileiros, contando apenas com os idiomas Inglês e Japonês, com textos e narração em ambas, sem tradução para o nosso idioma. É uma pena, porque o que há aqui é uma história que merecia ser contada no Português do Brasil, com certeza aumentando o número de consumidores do produto por aqui.
No final, FANTASIAN Neo Dimension acaba sendo uma boa pedida para aqueles em busca de uma trama comovente e uma boa dose de nostalgia, sem dar muita bola para um sistema de luta mais contido e sem tanta variedade. O que há de novo não é o suficiente para mudar o rumo do jogo, e sua apresentação pode desagradar a quem estiver em busca do próximo bombástico Final Fantasy.
NOTA: 3,5 de 5
Ficha técnica:
Nome: FANTASIAN Neo Dimension
Desenvolvedora: Mistwalker
Publicadoras: Mistwalker e Square Enix
Gênero: RPG
Plataforma: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC
Lançamento: 5 de dezembro de 2024
Agradecemos a assessoria da Square Enix no Brasil por ter nos enviado uma cópia do jogo para a produção desta matéria.