A cineasta Letícia Simões apresenta, na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, uma reflexão profunda sobre o Brasil de ontem e de hoje com o filme A Vida Secreta de Meus Três Homens. A obra será exibida na próxima sexta-feira, 31, às 20h, no Cine Tenda, dentro da Mostra Olhos Livres, e promete oferecer uma abordagem única ao investigar as camadas históricas que formaram o Brasil contemporâneo.
Simões, uma premiada realizadora, roteirista, poeta e artista visual, traz ao público uma narrativa que mistura história, memória e poesia. Com um estilo visual experimental e instigante, o filme convida os espectadores a repensarem a identidade brasileira por meio de três personagens centrais: Fernando, Arnaud e Sebastião.
O Encontro de Três Fantasmas
Os protagonistas do filme são figuras do passado que se reúnem para refletir sobre o presente. Fernando, um boêmio colaborador da ditadura militar; Arnaud, um jovem justiceiro; e Sebastião, um fotógrafo negro e gay que perdeu o amor de sua vida, formam uma espécie de fábula histórica. Juntos, discutem questões como classe, raça e gênero, explorando suas interseções ao longo do século XX até se refletirem no Brasil contemporâneo.
Letícia Simões revela que o projeto nasceu em 2019, durante o primeiro ano do governo Bolsonaro, motivado por uma inquietação: como lidar com a violência e os fantasmas do passado que ainda assombram o país? As imagens de Sebastião, descobertas enquanto produzia seu anterior filme Casa, foram o ponto de partida para a investigação das narrativas silenciosas que moldaram a história do Brasil.
Entre a Poesia e a Imagem
Combinando o experimental e o poético, A Vida Secreta de Meus Três Homens é o resultado de uma colaboração intensa entre Simões e uma equipe de profissionais que compartilham sua visão artística. A diretora explica que sua prática como poeta e artista visual influencia diretamente o processo criativo do filme, que se destaca pela construção estética, pela relação entre imagem e som e pela forma como os elementos se entrelaçam para criar uma narrativa sensorial e reflexiva.
“A costura do poema se relaciona com o cozer da montagem; e a pesquisa que faço enquanto artista visual inevitavelmente toca à investigação sobre como alinhavar visualmente essas três histórias,” diz Letícia. O filme, portanto, vai além de contar uma história; ele provoca uma reflexão sobre como a memória e o passado permanecem vivos no presente.
O Processo Criativo e a Recriação do Mundo
Para Letícia, fazer um filme é um processo de dar espaço ao mistério da criação, da amizade e da invenção. Em A Vida Secreta de Meus Três Homens, ela e sua equipe buscaram novas formas de narrar a violência histórica e cotidiana do Brasil, tentando recriar o mundo através do cinema. A cineasta destaca o processo colaborativo como fundamental para que o filme se tornasse uma obra aberta e em constante reinvenção.
“Durante o processo, compartilhamos, descobrimos, nos reinventamos. E talvez essa seja a grande resposta: está em nós (e nunca saiu) a possibilidade de recriar o mundo, o tempo todo,” reflete a diretora.
Ficha Técnica
- Direção e Roteiro: Letícia Simões
- Elenco: Nash Laila, Guga Patriota, Giordano Castro, Murilo Sampaio
- Produção: João Vieira Jr., Nara Aragão, Letícia Simões
- Produção Executiva: Tarsila Tavares
- Direção de Fotografia: Ivo Lopes Araújo
- Montadores: Quentin Delaroche e Eduardo Chatagnier
- Música Original: O Grivo
- Assistente de Câmera: Wanessa Malta
- Figurino: Maria Esther e Thais Carneiro
- Correção de Cor: Pablo Nóbrega
- Animações: La Colemba FX
- Gênero: Drama, Experimental
- País: Brasil
- Ano: 2026
- Duração: 75 min