O novo trabalho de Robert Zemeckis é diferente de tudo que você já viu no cinema. Trazendo um ângulo fixo, descobrimos a história de diferentes famílias que passaram pelo mesmo lugar durante os anos, para não falar séculos. Baseado na graphic novel de Richard McGuire, Aqui é uma reunião de amigos, com uma pitada de experiência, ao trazer tudo pelo mesmo ângulo.
Trazendo passado, presente e futuro, tudo ao mesmo tempo, Aqui tem roteiro assinado por Eric Roth e Robert Zemeckis, sendo que o maior tempo de tela está nos personagens de Tom Hanks e Robin Wright, Paul Bettany e Kelly Reilly.
Se Robert Zemeckis é conhecido por obras como a trilogia De Volta para o Futuro, quando o assunto é viagem no tempo, Aqui traz soluções criativas de avançar e voltar no tempo utilizando quadros em tela no mesmo cenário os movendo de acordo com a história que será contada. Mostrando que, mesmo diversas famílias vivendo no mesmo local em tempos diferentes, existem pontos em comum que trazem certas semelhanças entre elas.
Ao apresentar uma narrativa que encontra estas semelhanças e não em sua cronologia, Aqui ainda conta com rejuvenescimento digital feito por inteligência artificial. Trazendo resultados bem interessantes, vemos Tom Hanks e Robin Wright, Paul Bettany e Kelly Reilly envelhecendo e rejuvenescendo em cena, trazendo lembrança de antigos filmes dos anos 80.
Mas com tamanha experimentação e novidade, fica o desafio em tentar explicar uma história cuja graça está em sua ousadia em tela. Será possível, sem ser pelo jeito tradicional?
A História
Aqui se apresenta da maneira mais tradicional possível, mostrando a era dos dinossauros, seguida da era glacial e da volta à vida. E é nessa evolução das espécies que vemos os primeiros humanos, da tribo Lenape, que viveram nos EUA e no Canadá.
Em seguida, temos as florestas se tornando propriedades, com William Franklin, filho de Benjamin Franklin, sendo o primeiro proprietário daquela área. Entre cotidianos, vemos árvores centenárias indo embora para a construção da casa que se torna protagonista. Assim, John Carter (Gwilym Lee) e Pauline (Michelle Dockery) se tornam os primeiros moradores de uma casa que ecoará pelos próximos 200 anos.
O tempo avança e temos o inventar de cadeiras reclináveis, Leo (David Fynn) e Stella Beekman (Ophelia Lovibond), uma modelo pin-up. Sua leveza e a forma como levam o dia a dia são um show à parte como casal.
Mas os verdadeiros protagonistas da nossa história chegam em 1945, quando Al e Rose Young (Paul Bettany e Kelly Reilly, respectivamente) compram a casa depois da guerra. Construindo uma família, o filho deles, Richard Young (Tom Hanks), se casa com Margaret (Robin Wright) na própria casa, tornando-se também moradores. É nesse momento que vemos as maiores interações na trama, com anos passando, Al e Rose se mudando para Miami, Margaret querendo sair daquela casa, mas aceitando viver ali. Segue-se a morte de Rose, o retorno de Al, e sua vida solitária na sala da casa. O desgaste da relação faz com que Richard decida vender a casa dos pais, mas isso não significa o fim da história.
Ainda temos mais uma família assumindo a casa, mas a história de Richard e Margaret naquele lugar não havia acabado. Numa última visita de ambos à casa, descobrimos que, às vezes, mesmo que não queiramos viver mais naquele lugar, aquele espaço é o que torna nossa conexão e nosso lar.
Opinião
Por se apoiar em uma narração não linear, Aqui não apresenta histórias muito complexas, o que facilita ir para o passado, presente e futuro. A decisão de usar quadrados como molduras de momentos nos mesmos cenários facilita o entendimento e torna interessante conhecer todos os personagens presentes.
É fato que, em toda a comunicação, o filme se apoia na família Young, mas a produção vai muito além deles, o que às vezes confunde e não agrega muito à história. Então, arcos como o do primeiro casal da casa, Harris, e o último, família Harter, não agregam e até confundem. Já histórias como a de Leo e Stella, por ter um tom mais leve, conseguem agregar tanto quanto a da família Young, mostrando que não foi tão errado trazer outras famílias para a mesma casa e história.
Em termos de efeitos visuais, a tecnologia utilizada no filme realmente impressiona ao não só rejuvenescer os atores, mas mudar os corpos deles para diferentes estruturas em cada idade, apresentando um Tom Hanks alto e esguio que lembra muito seus filmes da década de 1980. Ao mesmo tempo, Robin Wright, em alguns momentos, não convence como jovem, mas isso vai se corrigindo em cenas seguintes. Outro ponto é que rejuvenescer fisicamente não rejuvenesce a voz dos atores. Assim, ouvir a voz atual de Tom Hanks enquanto o vemos jovem pode confundir os desavisados, embora o efeito funcione para aqueles que já conhecem o ator mais jovem.
Ainda falando na família Young, por mais que a história comece com o casal Al e Rose Young, é na história de Richard Young e Margaret que passamos o maior tempo em tela. Mostrando o casal jovem, casando, tendo filhos, se divorciando e, por fim, visitando a casa nos dias atuais. Com uma Margaret debilitada pelo Alzheimer, Aqui traz a cena mais bela de todo o filme, em que ela consegue lembrar de seus dias na casa com a ajuda de Richard. (Confesso que fiquei surpreso ao ver esta cena no trailer do filme, o que acaba estragando a surpresa dela no longa.)
Aqui consegue trazer uma história cativante e, mesmo mostrando a casa do mesmo ângulo por duas horas, suas transições driblam o marasmo que normalmente se sentiria em casos assim. Mas, ao mesmo tempo, a escolha do filme é tão única que é improvável que vejamos outros longas com esse tipo de abordagem num futuro próximo.
Entregando uma boa história e boas surpresas, Aqui apresenta acontecimentos do passado que repercutem em cenas no futuro, com décadas de diferença, trazendo uma proposta bastante original. Existem ressalvas em algumas escolhas narrativas e efeitos visuais, mas, por ser tão fora da casinha, Aqui vale a experiência de assistir a uma história sendo contada de maneira tão diferente.
Robert Zemeckis tem um histórico de inovações no cinema, como a ousadia da trilogia De Volta para o Futuro, o sucesso da animação com live action em Uma Cilada para Roger Rabbit, a narrativa de Forrest Gump, as técnicas de animação em Expresso Polar e agora a forma de contar história em um só ângulo e usar rejuvenescimento por IA em Aqui. Visionário, o diretor mais uma vez consegue trazer frescor e novidade ao cinema, o que é o principal motivo para dar uma chance a Aqui.
Nota: 4,5 (de 5)
Aqui
Título Original: Here
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis e Eric Roth
Baseado em: Graphic novel Here, de Richard McGuire
Elenco: Tom Hanks, Robin Wright, Paul Bettany, Kelly Reilly, Gwilym Lee, Michelle Dockery, David Fynn, Ophelia Lovibond
Gênero: Drama
Duração: 1h40
Distribuição: Imagem Filmes
Estreia: 16 de janeiro
Agradecimentos a Imagem Filmes e a Sinny Assessoria pelo convite para produção deste conteúdo.