terça-feira, janeiro 14, 2025
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Crítica | Encontro com o Ditador não poupa esforços e choca a quem o assiste

A produção cambojana chegou aos cinemas este mês e é um forte candidato ao Oscar.

Lançado no último dia 2 e dirigido por Rithy Panh, Encontro com o Ditador é candidato ao Oscar 2025 como Melhor Filme Estrangeiro. Tal consideração não é por nada, já que se trata de um filme sensível e extremamente pontual, trazendo para as telas o período sangrento pelo qual o país asiático passou durante os anos 1970.

Baseado em uma história real retratada no livro When The War Was Over, de Elizabeth Becker, o filme conta a história de três jornalistas franceses que foram convidados para viajar ao Camboja em 1978 e entrevistar o então líder do Khmer Vermelho, Pol Pot. 

Tudo o que o trio encontra lá deixa dois deles atônitos, enquanto um, Alain, amigo de Pot da época em que ele esteve em Paris e simpatizante dos supostos ideais da “revolução”, faz o possível e impossível para acreditar que seu antigo colega, no fundo, está tentando trazer o bem à população de seu país.

O regime, no entanto, fez tudo menos o bem ao povo, matando quase 2 milhões de pessoas em um genocídio brutal durante os seus cinco anos de duração. Tal devastação é muito bem retratada da produção, por meio de filmagens da época e por singelas passagens por maquetes e bonequinhos de madeira, representando os personagens e seus arredores. 

A viagem pela qual os jornalistas passam escancara a situação lastimável da população sob o jugo de Pol Pot, sempre trabalhando até os ossos racharem à mira das armas das tropas leais ao ditador. Os jovens, na escola, sofrem lavagem cerebral, repetindo a esmo os bordões do Kampuchea Democrático, o nome que substituiu o oficial durante esse período.

Já revoltados com o que vêem ao seu redor, o fotógrafo, Paul, muito próximo da ponta de lança francesa, Lise, acaba escapando dos olhos atentos dos soldados encarregados de vigiar o grupo, e tem a oportunidade de ver de perto o sofrimento dos cambojanos, famintos e doentes, sem recursos, excluídos da abundância que seu líder gozava dentro de seu palácio, intocado pela destruição causada na capital do país, Phnom Penh. 

Não demora muito para os cupinchas de Pol Pot arranjarem desculpas para apertar o cerco aos três, e sem nos poupar da barbárie pelo qual o Camboja passou nesses últimos momentos da passagem do Khmer Vermelho no poder, o que antes foi uma viagem a trabalho torna-se um inferno. Mesmo finalmente conseguindo ter a entrevista com Pol Pot, fica claro que sua segurança está longe de garantida nesse ninho de cobras, e até mesmo Alain passa a se sentir ameaçado.

Sem querer estragar o resto do longa, não é preciso ter muita imaginação para saber que ele não acaba bem. E por se tratar de uma história que realmente aconteceu, mostra que por baixo das aveludadas palavras de revoluções armadas, há a dura e crua realidade dos oprimidos. É um filme pertinente para o momento pelo qual o mundo está passando, em que os que estão no poder e têm a chance de melhorar as vidas de seus compatriotas fazem o contrário, e pior, com o apoio dos próprios, lastimavelmente.

Encontro com o Ditador é apresentado em formato 4:3, emulando o visual de uma filmagem em 8 mm, como se tivesse sido produzido no momento histórico que retrata. Isso dá ao drama/documentário uma personalidade séria, com uma mensagem a passar, sem rodeios. Mesmo as partes em que temos as maquetes e bonecos, não há irreverência, mas a retirada da humanidade tanto dos responsáveis pela barbárie quanto dos que estão lá para espalhá-la ao mundo exterior.

A direção de Rithy Panh é única, realizada da maneira que só alguém que esteve lá para vivenciar diariamente essas atrocidades poderia fazê-la. É um fortíssimo concorrente à estatueta, onde irá disputá-la com a produção brasileira, Ainda Estou Aqui, que, por sua vez, também conta um acontecimento verídico, só que sob o ponto de vista tupiniquim. 

O que podemos tirar de conclusão de ambas as obras? Olhar para o passado e aprender com ele, não cometendo os erros que levaram a tanto sofrimento e tratar do presente e futuro como oportunidades de melhorar a realidade em que vivemos. Filmes como eles são excelentes maneiras de fazer o público colocar as mãos na consciência e pensar, vendo, literalmente, a história passada, nua e crua, na sua frente. 

NOTA: 5,0

Elenco: Irène Jacob, Grégoire Colin, Cyril Guei, Bunhok Lim, Somaline Mao

Direção: Rithy Panh

Roteiro: Pierre Erwan Guillaume e Rithy Panh, baseado em When The War Was Over de Elizabeth Becker

Direção de fotografia: Aymerick Pilarski, Mesa Prum

Montagem: Rithy Panh, Matthieu Laclau

Técnico de som: Nicolas Volte, Tu Duu-Chih, Eric Tisserand, Tu Tse-Kang

Cenografia: Mang Sareth, Sou Kimsan, Chanry Krauch

Figurino: Ariane Viallet

Direção de Produção: Sovichea Cheap

Trilha sonora original: Marc Marder

Trilha sonora co-produzida e gravada por: Mitch Lin, Shao-Ting Sun

Direção de som: Yu-An Chang

Produção: CDP e Anupheap, TAICCA, Doha Film Institute, TRT Sinema, LHBx An attitude, Obala Centar

Gênero: Drama/Documentário

País: Camboja, França, Turquia, Taiwan e Catar

Ano: 2024

Duração: 112 min

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