Retratando um dos momentos mais perigosos da história da Coreia do Sul, 12.12: O Dia aborda o golpe militar que desestabilizou o país, reconfigurando sua política e sociedade. Esses eventos levaram a uma série de mudanças que culminaram na exposição cultural global nas Olimpíadas de 1988 e no crescimento econômico que definiu a Coreia moderna.
Dirigido por Kim Sung-su, o filme é o representante sul-coreano no Oscar 2025, competindo com obras como Ainda Estou Aqui. Tanto o Brasil quanto a Coreia do Sul enfrentaram transições políticas caóticas no mesmo período, permitindo traçar paralelos entre os contextos históricos e as transformações de ambos os países.
Entender o impacto de 12.12: O Dia exige conhecer a história da Coreia do Sul, que, apesar de fragmentada em produções no Ocidente, revela lições importantes.
O Contexto Histórico
No final dos anos 1970, a Coreia do Sul vivia um momento de extrema tensão. Após décadas de ocupação japonesa (1910-1945) e a devastação da Guerra das Coreias (1950-1953), o país se reergueu com influência dos Estados Unidos, enquanto a Coreia do Norte recebia apoio da China e da União Soviética. Sob o regime autoritário de Park Chung-hee, que governou com mão de ferro desde 1961, a Coreia do Sul avançou economicamente, mas à custa de severas restrições políticas e sociais.
Em 1979, Park foi assassinado por seu próprio chefe de inteligência, mergulhando o país em uma grave crise política. O filme começa nesse ponto, com a política em frangalhos e uma lacuna de poder que abriu caminho para o golpe que moldaria o futuro do país. Embora conhecer esses eventos facilite a compreensão da obra, também pode antecipar partes da narrativa. O filme, ao usar nomes fictícios e inserir elementos ficcionais, mistura fatos e interpretações artísticas.
O Filme (tem spoilers)
A trama volta a 1979, apresentando o embate entre o Major General Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), baseado na figura histórica Chun Doo-hwan, e o Major General Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), inspirado em Jang Tae-wan. Enquanto Chun busca consolidar seu poder por meio de ações autoritárias, Lee, idealista, tenta seguir protocolos e preservar a estabilidade política sem interferência militar.
A virada acontece em um jantar entre generais, onde Chun, como chefe do Comando de Segurança da Defesa, orquestra a prisão do General Jeong Sang-ho (inspirado em Jeong Seung-hwa), acusado de envolvimento no assassinato de Park Chung-hee. O plano de Chun depende da aprovação do ministro da Defesa Nacional e do presidente Choi Han-gyu (inspirado em Choi Kyu-hah), mas enfrenta resistência e dificuldades logísticas.
No dia 12 de dezembro, o golpe é desencadeado, gerando caos entre os militares, com ordens contraditórias e tropas mobilizadas em Seul. Tropas como o 29º Regimento da 9ª Divisão e a 1ª e 3ª Brigadas de Forças Especiais são enviadas à capital para apoiar as forças leais a Chun. Enquanto isso, Lee Tae-shin, inicialmente relutante, assume a responsabilidade de resistir ao golpe, enviando tropas para proteger pontes e tentando controlar a situação, mesmo à custa da segurança nas fronteiras com a Coreia do Norte.
A escalada de conflitos leva a confrontos diretos entre Chun e Lee, culminando na captura do ministro da Defesa Nacional por Chun. Esse movimento é decisivo para consolidar o plano, e, apesar dos esforços de Lee, sua resistência é esmagada. O desfecho, fiel aos fatos históricos, mostra o presidente Choi Han-gyu assinando de forma retroativa, oficializando a investigação que resulta em Chun ascender ao poder, enquanto Lee é destituído e investigado, em uma reviravolta que desafia as expectativas do público.
Um Retrato Intenso e Reflexivo
Filmes baseados em fatos reais sempre enfrentam o dilema de equilibrar narrativa e história. 12.12: O Dia consegue entregar um retrato intenso e emocional, com performances marcantes de Jung Woo-sung, que humaniza Lee, e Hwang Jung-min, que faz de Chun uma figura desprezível e poderosa.
A direção de Kim Sung-su, baseada em suas memórias da época, captura a paranoia e a incerteza do período, trazendo autenticidade ao filme. Optando por escolher usar nomes fictícios, o diretor conseguiu trazer uma maior liberdade narrativa, sem perder o impacto histórico. (evitando polêmicas de retratar figuras históricas de maneira leviana)
O sucesso do filme, a maior bilheteria da Coreia do Sul em 2023, reflete o desejo do público de revisitar sua história e compreender as figuras que marcaram esse momento trágico. E, para muitos espectadores, a obra desperta interesse em estudar a história da Coreia do Sul, um mérito que compartilha com filmes como Ainda Estou Aqui.
O impacto de 12.12: O Dia vai além da experiência do cinema, mostrando os perigos da ambição desmedida e o preço de lealdades extremas. Para quem conhece a história, o golpe liderado por Chun Doo-hwan o levou à presidência em 1980. Apesar de seu governo ter impulsionado a economia, ele foi julgado na década seguinte por seus crimes, mostrando que, mesmo após um dos piores dias da Coreia do Sul, a justiça prevaleceu.
Por fim, vale destacar a excelente tradução de Natália Queiroz e a revisão de Gustavo Iracema, que tornam o filme acessível ao público brasileiro sem perder sua complexidade.
Nota: 4,5 de 5
12.12: O Dia
Direção: Kim Sung-soo
Elenco: Hwang Jung-min, Jung Woo-sung, Lee Sung-min, Park Hae-joon, Kim Sung-kyun
Produção: Hive Media Corp.
Produtor: Kim Won-kuk
Direção de Fotografia: Lee Mo-gae
Design de Produção: Jang Geun-young
Design de Figurino: Kwak Jung-ae
Duração: 141 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Estreia: 23 de janeiro
Agradecimentos a Sato Company e a Sinny pelo convite para produção deste conteúdo