quinta-feira, janeiro 16, 2025
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Crítica | Entre desafios e superação, Sol de Inverno traz a beleza em sua simplicidade

Chegando aos cinemas brasileiros, Sol de Inverno é o segundo trabalho do diretor Hiroshi Okuyama, que vem sendo comparado a Hirokazu Kore-eda. Esse tipo de elogio chama nossa atenção para seus filmes, especialmente quando a trama, com toques que lembram filmes emblemáticos como Billy Elliot, mas com patinação artística no lugar da dança, desperta curiosidade sobre os caminhos que a história seguirá.

Passando por grandes festivais e recebendo elogios, Sol de Inverno não se propõe a inovar e, sinceramente, nem deveria. A história simples de Takuya (Keitatsu Koshiyama), um garoto que, deslocado ao praticar beisebol e hóquei, se fascina pela patinação artística que ocorre na mesma pista, é contada com delicadeza. Observado pelo treinador Arakawa (Sosuke Ikematsu), ele começa a ser introduzido à patinação artística, com o simples gesto de emprestar-lhe patins, distintos dos usados no hóquei, sinalizando o começo de uma nova jornada para o jovem.

Amizade e Preconceito

Takuya que joga beisebol e hóquei, mas se sente bem ao treinar patinação artística

O segredo de Sol de Inverno está em sua simplicidade. Enquanto Takuya, de amador, se encontra no esporte, há também a prodígio Sakura (Kiara Nakanishi), que treina com Arakawa e sente ciúmes da chegada do novo aluno. Com sonhos de uma carreira profissional, ela acaba aceitando a presença de Takuya e até se tornam amigos. Contudo, a dúvida sobre o favoritismo de Arakawa em relação a ela mantém o espectador atento ao rumo que a história tomará.

Além do enredo principal, a relação entre Arakawa e Takuya se aprofunda, com o treinador vendo muito de si no garoto e incentivando-o a explorar mais a patinação. O sucesso de Takuya faz com que Arakawa enxergue na Sakura e no Takuya, uma possível dupla para representar o país, o que fortalece a amizade e o respeito entre os três. Embora Takuya e Sakura estejam em momentos diferentes de suas trajetórias, Arakawa acredita no potencial deles juntos, e é essa amizade que é tão bem trabalhada ao longo do filme.

O curioso é que Arakawa confia tanto em Takuya que oferece as aulas gratuitamente, algo que incomoda os pais de Takuya, que, ao descobrirem isso durante um jantar, se preocupam, mas em nenhum momento questionam a escolha do filho. Eles apenas perguntam se ele realmente deseja seguir por esse caminho, e se for o caso, pagarão as aulas, mostrando um relacionamento saudável e sem preconceitos.

Lições de Vida em Sol de Inverno (contém spoilers)

Sakura e Takuya se descobrem como dupla

No entanto, há uma camada mais complexa na história quando somos apresentados que Arakawa ser gay e estar em um relacionamento que pode ser visto como prejudicial para os alunos. Sakura não só descobre esse relacionamento, mas também demonstra um preconceito hostil e retrógrado, deixando as aulas e não comparecendo a um campeonato, o que desencadeia o fim de sua jornada, como se tudo tivesse sido apenas um inverno que chegou ao fim. Devo confessar aqui que a resposta da Sakura para o Arakawa, por mais que esconda um ciúmes juvenil de predileção, é um discurso homofóbico que incomoda e machuca com tamanha hostilidade.

O fim deste ciclo não só o tempo passa, como Takuya, está começando no ensino médio, ele retorna ao hóquei, e segue sua vida, ainda tímido, mas transformado pela experiência na patinação artística. Por outro lado, Arakawa, ciente dos riscos de sua orientação exposta em uma cidade de interior, precisa deixar aquele lugar e os alunos, se quiser ter uma carreira. Isso envolve grandes sacrifícios, até mesmo deixar para trás quem ama, mas faz parte do inverno que chega ao fim. Chuto dizer aqui que seu relacionamento na obra está mais para algo que se completava naquele instante, mas tava longe ser um amor para toda vida e é por isso que nada segurará ele de ir embora dali.

Sol de Inverno não faz rodeios e, de certa forma, parece um filme de outra época, como se ainda não estivéssemos tão esclarecidos quanto hoje. Porém, seu carisma e a simplicidade de seu elenco fazem a história funcionar tão bem que nos envolvemos com ela e nos tornamos fãs de sua narrativa.

Takuya, de um garoto extremamente tímido, que nem conseguia falar direito no começo, se transforma em um jovem mais extrovertido e animado, mostrando que, mesmo seguindo caminhos diferentes, o esporte o fez uma pessoa melhor. Keitatsu Koshiyama é uma grande revelação no filme como Takuya e tem tudo para se destacar em filmes e séries nos próximos anos.

Com seus clichês, Sol de Inverno aborda as sutilezas dos desafios cotidianos e o quanto as relações humanas são frágeis e passageiras. No fim, o que nos resta é guardar os bons momentos e seguir em frente e é exatamente isso que vemos no desfecho das jornadas de Takuya, Sakura e Arakawa.

Ao final, Sol de Inverno é uma história que nos lembra da beleza da simplicidade e das transformações que o esporte e as relações humanas podem trazer. Através de seus personagens, o filme nos leva a refletir sobre os desafios pessoais, a superação de preconceitos e a importância de se manter fiel aos próprios sonhos, mesmo diante das adversidades. Com uma narrativa sensível e cativante, ele deixa uma marca profunda, mostrando que, mesmo em tempos difíceis, a amizade e o crescimento pessoal podem florescer como a promessa de um novo começo.

Nem sempre as coisas saem como previsto

Nota: 3,5 (de 5)

Sol de Inverno

Direção e Roteiro: Hiroshi Okuyama

Produção: Toshikazu Nishigaya

Elenco Principal: Keitatsu Koshiyama, Kiara Nakanishi, Sosuke Ikematsu

Cinematografia e Edição: Hiroshi Okuyama

Música: Humbert Humbert

Produção: Tokyo Theaters

Lançamento: 16 de janeiro

Duração: 100 minutos

País: Japão

Agradecimentos a Michiko Filmes e a Sinny pelo convite para assistir o filme para produção deste conteúdo.

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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