Direto ao ponto, Conclave é afiado em sua história e narrativa, mostrando os bastidores da escolha do próximo papa. Com direção de Edward Berger, o filme é uma adaptação do livro de 2016 de Robert Harris, com roteiro de Peter Straughan, e não hesita em expor falas preconceituosas, brigas por votos e um suspense de tirar o fôlego.
Premiado em diferentes festivais e agora indicado ao Oscar, Conclave agrada por ser um ótimo filme, mas também enfrenta críticas de religiosos e instituições religiosas ao abordar um dos assuntos mais sensíveis: a eleição do próximo papa. Com resoluções nada ortodoxas, o filme tem despertado a fúria de alguns, enquanto é elogiado e premiado por outros.
Deixando a religião de lado, podemos dizer que Conclave é impecável no que se propõe a fazer.
A história
O filme começa com o papa sendo encontrado morto em seus aposentos. Após a constatação do óbito, a equipe, de maneira fria, remove o anel de seu dedo, simbolizando o fim de uma era e o início de outra.
É nesse contexto que conhecemos o cardeal-decano Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), que inicia o processo de comunicação e reunião dos cardeais para a eleição do próximo papa.
Com o quarto do papa falecido agora lacrado, uma investigação revela que seu último encontro foi com o cardeal Joseph Tremblay (John Lithgow), que afirma ter sido apenas uma reunião corriqueira. Pressionado pela urgência do conclave, Thomas não consegue aprofundar a investigação, mas percebe que algo não está certo.
Às vésperas do conclave, Thomas é informado de que o papa havia destituído Joseph de suas funções. Sem provas concretas, ele decide apenas ficar atento às ações do cardeal.
A tensão aumenta com a chegada inesperada do cardeal Vincent Benitez (Carlos Diehz), vindo do Afeganistão. Pela primeira vez, a comunidade descobre que o papa mantinha um cardeal no Afeganistão em segredo, algo que agora seria revelado ao mundo por causa do conclave. Thomas, embora cauteloso, respeita o desejo do papa e comunica a presença do novo cardeal, explicando sua residência no Afeganistão.
Nas primeiras votações, torna-se claro que a escolha do novo papa está entre quatro candidatos: Aldo Bellini (Stanley Tucci), dos Estados Unidos; Joshua Adeyemi (Lucian Msamati), da Nigéria; Joseph Tremblay (John Lithgow), do Canadá; e Goffredo Tedesco (Sergio Castellitto), da Itália.
A trama revela as ambições e os segredos de cada um deles. Joseph esconde informações importantes, Aldo, por seguir a linha do papa anterior, representa pouca renovação, e Joshua enfrenta preconceitos devido à sua cor e a segredos de seu passado. Já Goffredo, o candidato italiano, exibe um discurso retrógrado e preconceituoso, criticando abertamente colegas e exaltando o abandono do latim como símbolo de degradação.
Durante uma discussão acalorada entre os cardeais, um atentado próximo ao Vaticano, que deixa mais de 50 feridos, eleva ainda mais a tensão. Goffredo aproveita o incidente para culpar a liberdade concedida à religião muçulmana.
Num cenário em que as escolhas parecem cada vez mais inadequadas, Conclave mantém o mistério e a adrenalina, mesmo concentrando boa parte de sua trama no claustrofóbico ambiente de deliberação dos cardeais.
Opinião
Existem filmes que suavizam ou evitam críticas diretas, mas Conclave não é um deles. As falas dos cardeais expõem preconceitos e visões conturbadas que revelam os riscos de um possível retrocesso para a Igreja e o mundo.
O filme aborda o peso da Igreja Católica em pé de igualdade com o poder de grandes líderes mundiais, trazendo mistérios e conflitos políticos à tona. Há até mesmo revelações surpreendentes, como cardeais tentando esconder escândalos do passado, incluindo uma gravidez escondida décadas atrás. Questões contemporâneas, como o casamento gay, também são abordadas e tornam-se fatores decisivos na escolha do próximo papa.
O que Joseph Tremblay conversou com o papa antes de sua morte? Essa é apenas uma das muitas perguntas que o filme responde ao longo de uma trama que, longe de ser monótona, é de tirar o fôlego.
Ralph Fiennes brilha como Thomas Lawrence, transmitindo toda a paciência e sagacidade necessárias para lidar com um processo tão delicado. John Lithgow, por sua vez, rouba a cena como o traiçoeiro Joseph Tremblay, cuja postura deixa claro que ele não é confiável. Sergio Castellitto, no papel do preconceituoso Goffredo Tedesco, entrega uma performance tão convincente que sua presença em cena desperta repulsa quase que imediata.
Apesar de Conclave manter o público intrigado com seus mistérios, é o elenco que sustenta o filme tranquilamente. Cada ator entrega uma interpretação tão autêntica que é fácil acreditar que estamos realmente observando cardeais discutindo o futuro da Igreja.
Embora alguns segredos sejam previsíveis, outros, como a relação do cardeal Vincent Benitez com o papa e sua presença no Afeganistão, certamente surpreenderão o público.
O desfecho de Conclave pode chocar, mas também reforça a coerência e ousadia de sua narrativa. É um filme que não apenas atende às expectativas, mas as supera, tornando-se uma experiência imperdível para quem busca emoção e profundidade no cinema.
Nota: 5 (de 5)
Conclave
Lançamento: 23 de janeiro de 2025
Direção: Edward Berger
Roteiro: Edward Berger, adaptado do romance Conclave de Robert Harris
Elenco: Ralph Fiennes (Cardeal Lawrence), Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini, Sergio Castellitto, Carlos Diehz
Gênero: Thriller, Drama, Suspense
Duração: Aproximadamente 120 minutos (estimativa)
Distribuição: Diamond Films
Agradecimentos a Diamond Films pelo convite para produção deste conteúdo