Lançamento da Sessão Vitrine Petrobras, está chegando aos cinemas brasileiros a produção O Melhor Amigo. Intitulado musical tropical, a produção homenageia o curta homônimo de 2013, trazendo uma releitura da amizade “paixonite” de Lucas e Felipe, trocando o ambiente do primeiro amor da adolescência por reencontros na fase adulta.
De Allan Deberton, premiado mais recentemente por Pacarrete, aqui em O Melhor Amigo, ele entrega uma obra que abraça a cultura brasileira como um todo, trazendo ícones, em especial dos anos 80 e 90, numa história que não só se traduz na tela, mas conversa contigo por dialogar com um universo que você (perto dos 40 anos) conhece tão bem.
E se você viveu nos anos 90, Mateus Carrieri, Cláudia Ohana e a própria Gretchen não só participam do filme, mas evocam uma época em que você via uma televisão muito diferente da de hoje em dia. No caso de Mateus Carrieri, isso vai ainda mais longe, considerando que naquele momento a informação não era tão democrática como hoje e o ator estampou ensaios sensuais em um mercado brasileiro que só enxergava publicações com mulheres na capa.
Não podemos deixar de citar a cultura de Fortaleza, tão presente no cinema hoje em dia, aqui representada também com atores e atrizes cearenses. Encabeçados por Dênis Lacerda, que traz às telas a Drag Queen Deydianne Piaf, também completam o elenco: Souma, Muriel Cruz, Rodrigo Ferrera (Mulher Barbada), Solange Teixeira, Patrícia Dawson, Walmick de Holanda, Gabriel Arthur e Adna Oliveira.
Mas antes de falar do filme, vamos falar do curta

De 2013, o curta com os atores Jesuíta Barbosa e Victor Sousa, no papel de Lucas e Felipe, ao lado de curtas, como Não Quero Voltar Sozinho (2010), foram obras que estouraram a bolha, mostrando adolescentes LGBTQIA+ descobrindo seu primeiro amor por alguém do mesmo gênero.
Em O Melhor Amigo de 2013, temos o primeiro dia de férias de dois amigos de infância, e enquanto Felipe (Victor Sousa) segue com a amizade normalmente, temos um Lucas (Jesuíta Barbosa) introspectivo, que tenta entender seus sentimentos pelo amigo e saber se é ou não correspondido. Com o amigo dando um perdido no restaurante para ficar com uma mulher mais velha que o cantou pelo telefone correspondente secreto, Lucas acaba pensando na vida e retornando mais tarde. Uma das cenas mais icônicas é a do brigadeiro, em que Felipe lambe a colher e Lucas a pega, também lambendo o chocolate, no que seria o mais próximo de um beijo. Mas aquele beijo de Felipe em Lucas durante o sono foi real? Fica a pergunta, enquanto Lucas vai dormir, apenas sabendo que seu amigo é hétero e que não existe nenhuma chance real de um final feliz para ambos.
E se você olhar os comentários no YouTube do curta, verá que muitos jovens se identificam com a história de O Melhor Amigo, mostrando que não só é comum se apaixonar por um melhor amigo hétero, como é algo que simplesmente acontece e que reforça o sucesso da obra de Allan Deberton.
Numa época em que a internet ainda era mato na produção cultural LGBTQIA+ brasileira (e restrita a festivais), O Melhor Amigo, ao lado de obras como Não Quero Voltar Sozinho (2010), trouxe representações longe do caricato tradicional da televisão, com as quais muitos se identificaram. Seja por uma paixão não correspondida ou pelo amor inesperado.
Ainda no caso de Não Quero Voltar Sozinho, tivemos o filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), que expandiu a obra original com o mesmo elenco. Também da Vitrine Filmes, o filme fez história no Brasil e no mundo, mostrando não só o sucesso dos curtas, mas da obra também nas telas do cinema.
E quando falamos de O Melhor Amigo, agora, 12 anos depois, ele está de volta, com um elenco diferente, uma história em outro momento da vida, trazendo um Lucas na vida adulta (que não é o mesmo personagem), mas com ecos do curta original. Trazendo uma nova jornada que, ainda assim, conversa com aquele jovem que viu o curta original.
E quando falamos de O Melhor Amigo, agora, 12 anos depois, ele está de volta, com um elenco diferente, uma história em outro momento da vida, trazendo um Lucas na vida adulta (que não é o mesmo personagem), mas com ecos do curta original. Uma nova jornada que, ainda assim, conversa com aquele jovem que viu o curta original.
A história

O jovem Lucas (Vinícius Teixeira), na faculdade, tinha amizade com Felipe (Gabriel Fuentes) e namorava mulheres até então, mas um dia beijou Felipe. Sabendo que era gay e tendo baixa autoestima (por estar acima do peso e inseguro), Lucas até procurou Felipe, mas ele simplesmente sumiu da faculdade, já se passando bons anos desde então.
Os anos passam, Lucas se tornou um jovem arquiteto de sucesso, que namora o melhor amigo, Martin (Léo Bahia), mas vive uma crise na relação. Com um amor que não fazia sentido, Martin tenta reconquistar Lucas com aqueles carros de mensagem de amor, o que não só revolta Lucas, por ser reservado e não gostar de surpresas, mas escancara seu desejo de sair dali.
Partindo para Canoa Quebrada, Lucas vai a um lugar paradisíaco para colocar a cabeça no lugar, encontrando Estrela Dalva (Claudia Ohana), que promete trazer o “amor” de volta. E olha que funciona, porque ele acaba encontrando Felipe. Anos depois, ele se tornou bugueiro na região. Numa conversa intensa, Felipe quer levar Lucas às dunas, mas, antes, precisa comer em um restaurante ali perto (e olha só… é o mesmo restaurante do curta, com os telefones nas mesas).

Abraçando o musical, Felipe começa a cantar Amante Profissional, clássico dos anos 80 do Herva Doce, com os refrões “Amor sem preconceito (Sigilo total) Sexo total Amante profissional!”. Todos os personagens saem cantando com Felipe, inclusive o próprio Lucas, numa sequência que mostra o quão grandiosas serão as próximas cenas a seguir.
Só que a música, que poderia ser um flerte entre Lucas e Felipe, acaba com o telefone na mesa tocando e Felipe saindo com outra moça, pedindo para Lucas esperar mais um dia para o passeio na região.

Percebendo que algumas coisas nunca mudam, Lucas vai à casa de shows Sal e Pimenta, que terá uma apresentação especial da Gretchen em alguns dias. É aqui que entra Deydianne Piaf, cantando Doce Mel (Bom Estar com Você), abertura do Xou da Xuxa de 1988/1989, numa reapresentação dela com direito a paquita barbada e à nave clássica, numa sequência hilária que destaca o humor tão característico da região.
Deydianne Piaf anuncia que está se aposentando do Sal e Pimenta, pois vai se casar, e que sua festa de despedida será no show da Gretchen. Mas, até lá, ela promete dar o melhor show que aquela cidade já viu.
Enquanto isso, Lucas abre um aplicativo de encontros (com toda cara de Grindr) e acaba esbarrando com o “De passagem” lá dentro, num começo de date. O mais engraçado é que os garçons da casa, Sal e Pimenta, servem temperos de forma sensual nas mesas, e Lucas identifica que Pimenta é ninguém menos que o próprio Felipe, o que o desespera e o faz sair correndo da mesa.

E o que poderia fechar melhor a noite do que um karaokê? Aqui, Lucas acaba sendo levado ao palco e vestido de Zizi Possi, cantando (na sua mente) Perigo. Travado e vendo só Felipe na plateia, ele corre desesperado, com Deydianne Piaf indo atrás dele para recuperar a peruca e os adereços.
Deydianne Piaf se torna amiga e conselheira de Lucas, pontuando coisas que tanto ela quanto ele sabem que faltam em suas vidas. Ela comenta que não está acostumada com as coisas dando certo para ela, mas que sente falta de algo. Será que Lucas não sente o mesmo ao namorar Martin, acreditando que tudo está indo bem, mas percebendo que algo falta?
Tomando coragem, Lucas visita o quarto 3 e sai com o casal José (Mateus Carrieri) e Juan (Diego Montez). Se libertando das amarras e tentando se divertir enquanto não encontra o amor, Lucas acaba dormindo ali, sendo acordado por Felipe, que já está no hotel esperando para o passeio de bugue.

Passando o dia com Felipe, Lucas não só conhece os amigos dele, como se sente cada vez mais próximo de seu antigo amor. De volta ao hotel, Felipe se convida para entrar no quarto de Lucas, prova um chocolate proteico (pegou a referência?) e, depois, os dois vão para a piscina. Ao encontrar os vizinhos do quarto 3, Felipe descobre que Lucas teve uma noite inesperada e, numa brincadeira, se assume namorado dele, levando os dois a fazerem amor pela primeira vez.
Na manhã seguinte, Lucas é acordado por batidas na porta, porque o Martin está ali. Isso faz Felipe fugir pela janela. Na praia, enquanto ouvem Pé na Areia (que você deve conhecer por Day-O (The Banana Boat Song), famoso em Beetlejuice), Martin descobre um chupão no pescoço de Lucas e percebe que seu momento na relação já passou. Bravo, ele deixa o anel de noivado e decide curtir Canoa Quebrada, enquanto Lucas tenta entender o que sente por Felipe, que some.
No auge com a Gretchen (contém spoilers)

Lucas decide procurar Felipe e descobre que ele mora com “Sal”, do Sal e Pimenta. No apartamento, encontra Deydianne Piaf e, mais uma vez, entende como Felipe pensa. Ele canta a icônica Mais Uma de Amor (Geme Geme), do Blitz, numa das melhores apresentações do filme.
O momento decisivo acontece no show da Gretchen. Será que Lucas vai encontrar Felipe? Será que a felicidade está ligada a estar com uma única pessoa? Ao som de Melô do Piripipi e Conga Conga, você irá descobrir.
Opinião


Entregando uma obra que é um verdadeiro show de referências dos anos 80 e 90, O Melhor Amigo é uma ótima surpresa no ano. Sendo fã de musicais, ver que clássicos da nossa música pop ganham vez e são redescobertos mostra o quão assertiva foi a escolha de seu repertório. De Zizi Possi, Blitz, Sandra de Sá, Rita de Cássia, Gretchen e até Irene Cara (com seu Flashdance… What a Feeling), a trilha ganha um tom viciante, e, ao sair do cinema, você quer apenas lembrar e ouvir novamente.
O curta de 2013 trouxe sentimentos sinceros sobre a juventude, e aqui não é diferente, mas o filme também se permite tentar entender a si mesmo e errar (muito). Divertido e com um ótimo texto, O Melhor Amigo tem uma história direta ao ponto, e muitas vezes é Deydianne Piaf quem entrega as respostas ao público e ao próprio Lucas.

Vinícius Teixeira traz um Lucas tímido e cativante, sendo difícil não torcer para que seu personagem encontre o que tanto busca. Ele ainda não tem todas as respostas para si e, mesmo vivendo seu melhor momento, precisa não só aceitar e deixar ir aqueles que estão ao seu redor. Além disso, musicalmente, Vinícius surpreende, trazendo interpretações que espero que sejam indicativos para outros projetos no futuro.
Já Gabriel Fuentes apresenta um Felipe cativante, mas é evidente que ele é um clássico personagem de amor de verão. Seja como bugueiro, como Pimenta ou como antigo amigo de faculdade, seu Felipe traz camadas de um cara longe de ser perfeito, mas cujas inseguranças fazem com que ele sempre queira pular para o próximo barco.

Quem rouba a cena a todo momento é Deydianne Piaf, que, seja cantando, se apresentando ou sendo conselheira do amor, demonstra a sabedoria de quem pode explicar a muitos o que fazer no próximo capítulo da vida. Toda cena em que aparece chama atenção para si, mostrando uma personagem que não só é popular regionalmente, mas também em todo o Brasil.
Acho muito difícil que alguém que não goste da cultura LGBTQIA+ assista O Melhor Amigo, mas, se você gosta e conhece as músicas, os atores convidados e aquela atmosfera que transformou o filme em um musical tropical, tenho certeza de que sairá encantado com a produção. É fato que não é preciso ser LGBTQIA+ para gostar do filme, mas, no mínimo, é necessário estar aberto a conhecer o universo em que os personagens vivem. E, se você conhece, certamente aproveitará ainda mais a história.
Por fim, O Melhor Amigo não é uma história de amor, mas uma história sobre entender a si mesmo e estar seguro sobre o que está por vir. Jamais pensei que Flashdance… What a Feeling fosse me ensinar que você pode chorar sozinho, mas deve ter orgulho de si mesmo. Tenho certeza de que não só Lucas e os demais personagens entenderam isso, como também ficou claro que, mais uma vez, Allan Deberton acerta ao trazer sua mensagem em uma história tão leve e divertida.

Nota: 5 (de 5)
O Melhor Amigo
País: Brasil Ano: 2025 Duração: 94 min.
Produção: Allan Deberton e Marcelo Pinheiro
Direção: Allan Deberton
Roteiro: Allan Deberton, Raul Damasceno, Otavio Chamorro e Pedro Karam
Elenco: Vinicius Teixeira, Gabriel Fuentes, Léo Bahia, Mateus Carrieri, Cláudia Ohana, Gretchen, Deydianne Piaf, Souma, Muriel Cruz, Mulher Barbada, Patrícia Dawson, Diego Montez, Walmick de Holanda, Solange Teixeira, Adna Oliveira, Gabriel Arthur
Gênero: Comédia Romântica
Direção de fotografia: Beto Martins
Direção de arte: Rodrigo Frota
Figurino: Chris Garrido
Maquiagem: Elen Barbosa
Som Direto: Guma Farias
Edição de Som e Mixagem: Érico Paiva (Sapão)
Trilha Sonora Original: Herlon Robson
Assistência de Direção: Breno Baptista
Coreografia: Rômulo Vlad
Montagem: Germano de Oliveira e Victor Costa Lopes
Produtora Associada: Ariadne Mazzetti
Produção Executiva: Patrícia Baia e César Teixeira
Agradecimentos a Sessão Vitrine Petrobras pelo convite para produção deste conteúdo