terça-feira, abril 22, 2025
spot_img

Onda Nova | Censurado pela ditadura militar, filme é restaurado e reestreia nos cinemas em março

Quatro décadas após ser censurado pela ditadura militar, Onda Nova retorna aos cinemas em uma versão restaurada e remasterizada em 4K. O longa de 1983, dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia, ganhará seu relançamento no dia 27 de março, em uma codistribuição entre a Vitrine Filmes e a Tanto Filmes. Após um percurso de sucesso em festivais como Locarno e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme ressurge como testemunho de uma época e manifestação do vigor do cinema nacional.

Entre a censura e a resistência

Produzido no fervilhante cenário da Boca do Lixo, Onda Nova é o segundo título da chamada “trilogia do desejo” assinada pelos diretores. A trama acompanha as jogadoras do fictício Gayvotas Futebol Clube, um time feminino criado no ano em que o futebol para mulheres foi finalmente regulamentado no Brasil, após quatro décadas de proibição. Em meio à repressão da ditadura, as protagonistas enfrentam preconceitos de gênero e sexualidade dentro e fora de campo, enquanto se preparam para um simbólico confronto internacional contra a seleção italiana.

O elenco conta com Carla Camurati e Cristina Mutarelli, além de participações de Regina Casé, Caetano Veloso e do icônico locutor Osmar Santos. No gramado, as jogadoras recebem o apoio de figuras históricas do futebol brasileiro, como Casagrande, Wladimir e Pitta, expoentes da Democracia Corintiana.

Subversão e liberdade em cena

Frequentemente associado à pornochanchada por sua origem na Boca do Lixo, Onda Nova subverte esse gênero ao rejeitar o moralismo sexista e celebrar o desejo como um motor de liberdade. Considerado “amoral” pela censura militar, o filme foi integralmente interditado após sua exibição na 7ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1983. O diretor Ícaro Martins reflete sobre o impacto da obra:

“É um filme onde o desejo assume o protagonismo, define e conduz as personagens e a narrativa. Mesmo sem abordar a política diretamente, ao colocar o desejo como afirmação de identidade e de vida, Onda Nova se tornou a própria negação da ditadura vigente na época. Por isso, sua censura foi total”, comenta o cineasta.

O processo de restauração

A redescoberta do filme só foi possível graças a um minucioso trabalho de restauração liderado por Julia Duarte, Aclara Produções Artísticas e a família de José Antonio Garcia, com apoio da Cinemateca Brasileira, Zumbi Post e JLS Facilidades Sonoras. A nova versão conta com uma cópia remasterizada em 4K, além da recriação do cartaz e trailer. O pôster, em especial, é assinado por Helena Garcia, filha do cineasta falecido em 2005.

Um filme à frente de seu tempo

Em 1984, José Antonio Garcia declarou em entrevista a Leon Cakoff: “Nosso filme é de vanguarda, só será entendido daqui a dez anos”. O tempo se encarregou de provar sua relevência. Onda Nova ressurge em 2024 como um marco do cinema brasileiro, uma obra que dialoga com questões de gênero, liberdade e resistência. Mais do que um resgate histórico, o relançamento reafirma a força do cinema como espaço de transgressão e memória.

Onda Nova chega aos cinemas em 27 de março, prometendo reconquistar públicos antigos e novos com sua irreverência e ousadia.

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo, Nintendo World e Jornal Nippon Já.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Veja também