O cinema sul-coreano sempre teve uma habilidade ímpar de transformar momentos históricos em narrativas potentes. Com 12.12: O Dia, dirigido por Kim Sung-soo, essa tradição ganha um novo capítulo. O filme estreia no Brasil em 24 de abril, distribuído pela Sato Company, e resgata uma noite decisiva na história do país: o golpe militar de 1979, quando a Coreia do Sul vivia sob o peso da lei marcial.
Mais que uma reconstrução histórica, 12.12: O Dia estabelece um diálogo urgente com o presente. Em 2024, a Coreia do Sul viveu um episódio político controverso com a declaração de lei marcial pelo então presidente Yoon Suk-yeol, seguido do fechamento do parlamento e restrição à imprensa. Ainda que a medida tenha sido revogada, o eco daquele decreto ressoou como um alerta, reacendendo o debate sobre democracia e o frágil equilíbrio entre segurança e liberdade. Assim, o filme de Kim Sung-soo chega em um momento em que a ficção quase parece espelhar a realidade.
A equipe do JWave assistiu o filme em janeiro a convite da própria Sato Company e você pode ler a crítica aqui.
Uma Noite Fria, Um País em Suspenso
A trama do longa se passa logo após o assassinato do Presidente Park, quando o Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), tenta assumir o poder com o apoio de outros oficiais. Do outro lado, está o Comandante da Defesa da Capital, Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), que acredita que o exército deve permanecer neutro. Com o Ministro da Defesa desaparecido e os altos comandos em dúvida, o destino de Seul se decide numa noite marcada por tensão, silêncio e tiros.
Essa é a primeira vez que o golpe de 1979 é retratado em um filme de ficção, e Kim Sung-soo mergulha no episódio com olhar detalhista e visceral. A produção recria com precisão locais históricos, como o Bunker B2 e a sala de comando da 30ª Divisão, além de usar arquivos e fotografias reais como base para o design de produção. O resultado é um retrato fiel da atmosfera de instabilidade daquele período — e da luta moral travada dentro do próprio exército.
Um Filme Pessoal e Coletivo

Kim Sung-soo, conhecido por filmes como Asura: The City of Madness e The Flu, dirige 12.12: O Dia com um senso de urgência emocional. Em 1979, ele tinha 19 anos e presenciou os eventos retratados no longa. Em suas palavras: “Fiquei por mais de 20 minutos sentindo o ar gelado daquela noite de inverno, ouvindo os tiros ecoando pelo céu. Sempre me perguntei: quem estava lutando contra quem, e por quê?”.
Esse questionamento atravessa o filme, que mistura realidade e ficção não para suavizar os fatos, mas para torná-los ainda mais humanos. As dúvidas dos personagens são reflexos de um país em conflito interno — e, de certa forma, ainda são perguntas que ecoam na Coreia atual.
Um Elenco de Peso e Reconhecimento Internacional

O elenco reúne alguns dos maiores nomes do cinema coreano, como Hwang Jung-min, Jung Woo-sung, Lee Sung-min, Park Hae-joon e Kim Sung-kyun. Também se destaca a presença de Jung Hae-in, popular entre fãs de doramas por seu trabalho em séries como Love Next Door da Netflix.
Com uma bilheteria impressionante em 2023, 12.12: O Dia foi o filme mais assistido na Coreia do Sul e escolhido como representante oficial do país no Oscar 2025. Mais do que números, isso reflete o impacto cultural e emocional da obra.
Quando o Cinema é um Ato de Resistência
12.12: O Dia não é apenas um filme sobre um golpe de Estado. É um lembrete de que a democracia exige vigilância constante, e que a liberdade — especialmente a de expressão — é uma conquista que precisa ser defendida. Em tempos em que discursos autoritários ganham espaço ao redor do mundo, o cinema coreano nos entrega mais uma vez uma obra que emociona, educa e provoca.
A partir de 24 de abril, o passado volta às telonas. Mas o que ele nos diz não está preso a 1979 — está nas entrelinhas do presente.

12.12: O Dia
Classificação Indicativa: 12 anos
Direção: Kim Sung-soo
Elenco: Hwang Jung-min, Jung Woo-sung, Lee Sung-min, Park Hae-joon, Kim Sung-kyun
Produção: Hive Media Corp.
Produtor: Kim Won-kuk
Direção de Fotografia: Lee Mo-gae
Design de Produção: Jang Geun-young
Design de Figurino: Kwak Jung-ae
Duração: 141 minutos
Com estreia marcada para 24 de abril, 12.12: O Dia promete trazer aos cinemas brasileiros um relato intenso e emocionante de um dos momentos mais marcantes da história coreana.