O curta-metragem brasileiro NILO, que aborda com sensibilidade a perda gestacional, foi selecionado para a 32ª edição do Hot Docs Canadian International Documentary Festival, um dos mais importantes festivais de documentários do mundo. A obra, dirigida por Isadora Carneiro e concebida por Daniella Dantas e Flávio Donasci — pais do bebê que dá nome ao filme —, parte de uma vivência íntima para oferecer uma reflexão profunda sobre a dor, o amor e a permanência.
Uma despedida transformada em arte

Filmado durante o isolamento imposto pela pandemia da covid-19, NILO é fruto de uma experiência real e dolorosa: o nascimento de um bebê que, ainda na gestação, já se despedia da vida. Para Daniella, atriz e palhaça, e Flávio, pianista, a perda do filho não poderia ser silenciada. A decisão de registrar o momento foi também um ato de resistência contra o tabu que envolve o luto gestacional. “É como se ele nunca tivesse existido”, diz Daniella, ao destacar como a sociedade apaga a presença desses filhos.
A narrativa do curta se constrói a partir de materiais íntimos — áudios com a parteira, boletins médicos, registros do parto — entregues à diretora Isadora Carneiro, que tem vasta experiência com temas ligados ao nascimento. Com delicadeza, a cineasta costura esses elementos a imagens captadas especialmente para o projeto, entre elas performances de Daniella como sua palhaça “Sous-titre”, cenas de imersão na natureza e momentos de introspecção espiritual do casal.
Um retrato sensível do luto

“A gente faz um plano pra vida. A vida faz um plano pra gente”, diz Flávio Donasci em uma das falas mais marcantes do curta. Essa frase guia o tom da narrativa, que não busca respostas, mas sim espaço para sentir. A trilha sonora original, assinada por Talita Collado, funciona como elo entre o mundo físico e o imaterial, dando voz àquilo que não se pode dizer. O som das águas, presente em diversas cenas, simboliza a passagem do tempo e a fluidez do luto, que nunca é linear.
A montagem de Juliana Munhoz evita o caminho do melodrama e propõe uma experiência quase meditativa. NILO não quer provocar lágrimas fáceis, mas sim convidar à escuta, à presença e ao reconhecimento da existência de vidas que, embora breves, foram intensamente sentidas.
Cinco motivos para assistir NILO:
- Abordagem inédita e sensível sobre o luto gestacional: um tema ainda invisibilizado na sociedade, tratado com autenticidade e beleza.
- Narrativa poética e imersiva: ao unir imagens, som e performance, o filme cria uma linguagem própria para lidar com o inominável.
- Testemunho íntimo e universal: a história de Daniella e Flávio ressoa com quem já viveu perdas profundas, mas também oferece acolhimento a quem não passou por isso.
- Direção de Isadora Carneiro: reconhecida por trabalhos sobre parteiras e tradições de nascimento, ela traz uma visão sensível e respeitosa à obra.
- Reconhecimento internacional: a seleção para o Hot Docs confirma a força e a relevância do curta em contextos globais.
Sobre a diretora
Isadora Carneiro é diretora, fotógrafa e montadora formada em Audiovisual. Sua trajetória inclui documentários sobre práticas tradicionais de nascimento, como O Futuro do Nascer e Mulheres da Terra. Em NILO, ela retoma essa temática, agora sob o prisma do luto, criando um diálogo potente entre nascimento e despedida.
Ficha técnica essencial
Direção: Isadora Carneiro
Roteiro: Camila Lourenço
Produção: Camila Lourenço e Isadora Carneiro
Produção Executiva: Nathalia Gouvêa
Fotografia: Isadora Carneiro e Fe Sophia
Montagem: Juliana Munhoz
Trilha original e som: Talita Collado
Duração: 17 minutos
Ano de produção: 2025