Com texto afiado, questionador e até um pouco engraçado, ‘Herege’ chega aos cinemas com o desafio de questionar a fé do telespectador. Independentemente da sua crença, o personagem vivido por Hugh Grant está ali para questionar e traçar um paralelo do que seria a “religião original”.
Dirigido e com roteiro da dupla Scott Beck e Bryan Woods, ‘Herege’ ainda conta com o elenco de Sophie Thatcher (“Boogeyman: Seu Medo é Real”) e Chloe East (“Os Fabelmans”), que interpretam duas irmãs missionárias mórmons.
Mas falar e adentrar ao universo de ‘Herege’ é levantar questionamentos morais e imorais que vão além da religião, ao traçar paralelos com plágio em jogos e músicas. Desafiador, podemos dizer que é uma experiência no mínimo curiosa e que pode (e por que não dizer “deve”) ser vivida nos cinemas.
A história de Herege
Em missão de trazer mais fiéis para sua religião, as irmãs Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East) estão conversando informalmente enquanto encontram pessoas para falar de religião. O que talvez soasse imoral em termos religiosos, é que elas estão discutindo tipos de filmes pornôs na internet, especialmente os amadores, o que dá o tom de que o filme está aqui para quebrar barreiras.
Enquanto traçam quais casas visitar, elas conversam sobre um inglês recluso, o Sr. Reed (Hugh Grant), que já ouviram dizer que não deveriam visitar, mas acreditam que existe uma enorme chance de conversar com ele.
Ao prenderem as bicicletas na porta da casa dele, as irmãs só aceitam entrar quando são informadas de que a esposa dele está em casa e estaria preparando uma torta para elas.
O que poderia ser apenas uma visita normal e cotidiana se transforma quando o Sr. Reed, indo e vindo da sala, revela questionamentos sobre plágio na cultura pop. Ele fala sobre o jogo de tabuleiro Landlord’s de Elisabeth Magie, que foi plagiado 30 anos depois pelo jogo Monopoly da Parker Brothers. Posteriormente, ele volta ao assunto para falar sobre The Air That I Breathe (1974), dos Hollies, e sua relação com Creep (1992), do Radiohead. As jovens, que não estão entendendo, fazem com que o Sr. Reed atualize a conversa, trazendo Lust for Life (2017) da Lana Del Rey, que por sua vez seria um plágio da música do Radiohead, que também seria um plágio dos Hollies.
O que poderia ser uma conversa desconectada e até sem sentido, leva o Sr. Reed a conectar esses dois tópicos com a religião. Ele mostra o jogo Landlord’s como representando o Judaísmo, coloca o Monopoly no papel da religião Católica e, por fim, compara jogos temáticos do Monopoly com o que seria o Mormonismo.
Questionador e até um pouco ofensivo, o Sr. Reed faz com que as duas irmãs se sintam incomodadas, mas elas descobrem um novo problema na sala quando percebem que a vela no ambiente tem o mesmo sabor da torta que a esposa dele estaria fazendo. Além disso, a porta está trancada com uma fechadura de tempo, podendo ser aberta apenas no dia seguinte. Assim, as duas só têm uma opção: sair pelos fundos da casa, sem antes o Sr. Reed escrever nas duas portas: Crença e Descrença.
E se pouco é bobagem, Sr. Reed sabe que uma delas é verdadeira, enquanto a outra tem um segredo a esconder. Mas seria a irmã Barnes, com sua personalidade mais forte, ou a irmã tímida Paxton?
Em uma crescente onda de questionamento, as duas irmãs descobrem que a casa é toda coberta de metal, impedindo o uso de celulares, mostrando que elas estão presas no jogo do Sr. Reed.
Opinião
Num tom irônico e perturbador, Hugh Grant entrega um Sr. Reed que dá medo ao mostrar até onde vai o limite dele em cena. São absurdos os questionamentos dele, a ponto de soar como a escolha entre tomar a pílula azul ou vermelha em Matrix para acordar no mundo real, o que leva as duas missionárias a se questionarem sobre o que realmente está em jogo.
Herege te desafia o tempo todo, com o Sr. Reed traçando paralelos sobre as religiões, mostrando origens e até “coincidências”, como o nascimento de muitas divindades na época do Natal.
Mas, para encontrar o verdadeiro Deus, isso estaria além da sua fé? Você deveria testar os limites da vida e da morte? É seguindo esse caminho cruel que Herege segue uma jornada desafiadora, na qual as duas missionárias terão que passar para sair dali.
Apresentando toda uma trama que vai muito além do que se espera, Herege tem uma história que não se resume a três personagens, mas se trata de uma jornada das duas missionárias para sair dali.
E se podemos entrar um pouco no campo dos spoilers, o Sr. Reed, nesse ponto da história, apresenta uma mulher que pode voltar dos mortos. Seu questionamento é que, para encontrar Deus, é necessário estar perto do limite da vida e da morte, o que faz com que as duas se perguntem se devem ou não seguir o plano cruel do Sr. Reed.
Não esperava soluções para alguns mistérios, como as peculiaridades da casa do Sr. Reed em trazer tantos desafios em um espaço relativamente normal, mas cheio de segredos. Herege é perturbador e questionará tudo o que você acredita.
Será mesmo que o Sr. Reed é apenas um maluco, estudando religiões com tanto empenho? E qual irmã tem um segredo a esconder? Paxton ou Barnes?
Surpreso e até impressionado, Herege traz não só questionamentos, mas um roteiro bem amarrado, personagens bem definidos e uma simbologia que merece ser vista não só uma vez, mas várias, para entender tudo o que está acontecendo ali.
Herege é o tipo de filme que não acaba quando sobem os créditos e fará você pensar por horas ou até dias sobre o que viu na tela do cinema. E se ele faz isso, cumpriu o seu papel.
Nota: 5 de 5
Herege
Duração: 111 minutos
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Direção e Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods
Produção: Stacey Sher, Scott Beck, Bryan Woods, Julia Glausi, Jeanette Volturno
Elenco Principal: Hugh Grant, Sophie Thatcher e Chloe East
Edição: Justin Li
Empresas de Produção: Beck/Woods, Shiny Penny
Distribuição: Diamond Films
Datas de Lançamento: 20 de novembro
Agradecimentos a Diamond Filmes pelo convite da cabine de imprensa