O documentário Empate, dirigido por Sérgio de Carvalho, chega aos cinemas no dia 5 de dezembro, após sua estreia na 22ª Mostra de Tiradentes. O filme aborda um dos capítulos mais importantes da história ambiental e social do Brasil: o movimento seringueiro no Acre das décadas de 1970 e 1980. Com uma narrativa intimista e profunda, Empate não só revisita o legado de Chico Mendes, mas também destaca as lutas dos seus companheiros de resistência, revelando como seus ecos ainda reverberam nos desafios ambientais atuais.
O Encontro com Elenira Mendes
O projeto de Empate nasceu do encontro entre Sérgio de Carvalho e Elenira Mendes, filha do líder seringueiro Chico Mendes. Em 1988, ano que marcou os 20 anos da morte de seu pai, Elenira procurou o diretor para discutir a ideia de um filme que escapasse da imagem convencional de Chico Mendes como um herói intocável. A proposta era mostrar a realidade dos companheiros de luta de Chico, refletindo sobre o impacto de sua resistência e os desdobramentos dessa trajetória até o presente.
Sérgio, que havia se mudado para o Acre no início dos anos 90, já conhecia e mantinha laços com muitos desses seringueiros, com quem compartilhou experiências e histórias. “Essas pessoas têm uma relação única com a floresta e uma história muito forte. Conhecer suas trajetórias é estar sempre aprendendo algo novo sobre resistência e organização”, revela o diretor, que se tornou parte do cotidiano da região, frequente visitante da Reserva Extrativista Chico Mendes.
A Resistência e os Desafios Atuais
Filmado em 2018, o documentário revela não só as lutas passadas, mas também as ameaças contemporâneas à Amazônia. A reserva extrativista Chico Mendes, um dos maiores legados da resistência seringueira, enfrenta hoje diversos desafios, como o risco de perda de território devido a propostas de diminuição da área protegida e a crescente pressão de fazendeiros e latifundiários, principalmente de estados vizinhos como Rondônia. O impacto dessa invasão, tanto ambiental quanto cultural, é devastador, resultando em um aumento alarmante do desmatamento na região.
De Carvalho descreve Empate como um retrato de um momento crucial na história política do Brasil. “O filme captura o momento em que o ovo da serpente estava prestes a eclodir”, diz ele, referindo-se ao clima político tenso que se intensificou nos anos seguintes e culminou no governo de Jair Bolsonaro. Para o diretor, o documentário não se limita a relatar um passado de resistência, mas se torna um alerta sobre os atuais desafios enfrentados pela Amazônia e seus povos. “A história desses companheiros nos ensina a lutar, a resistir contra qualquer forma de opressão”, afirma De Carvalho.
A Produção e a Narrativa
Com roteiro assinado por Sérgio de Carvalho e Beth Formaggini, Empate se constrói a partir de uma pesquisa minuciosa e de conversas com personagens centrais da luta seringueira, como Assis Monteiro, Gomercindo Rodrigues, João Martins e Marlene Mendes, entre outros. O filme revela não apenas as memórias de luta, mas também as cicatrizes deixadas por décadas de enfrentamentos contra forças políticas e econômicas que tentavam silenciar a resistência.
A montagem do filme, realizada por Lorena Ortiz, foi decisiva para a construção da narrativa. O trabalho de edição procurou trazer à tona os momentos mais significativos, sem perder o ritmo e a intensidade emocional que a história exige. Além disso, a fotografia de Leonardo Val e Pablo Paniagua é responsável por capturar as imagens da floresta e dos personagens, criando uma atmosfera visualmente imersiva e que traduz a conexão profunda entre os seringueiros e o meio ambiente.
Um Chamado à Reflexão
Empate vai além da simples documentação de um passado de lutas. O filme nos convida a refletir sobre o presente da Amazônia e os desafios que ainda precisam ser enfrentados. As mudanças climáticas, a escassez de água e os novos ataques ao território indígena e extrativista são questões que tornam o documentário ainda mais urgente e relevante. Segundo De Carvalho, a produção é um “chamado à luta”, um convite à ação diante da destruição em curso e das ameaças que se intensificam a cada dia.
Através da história de Chico Mendes e de seus companheiros, Empate não apenas revisita a memória de uma resistência heróica, mas também convida o público a participar ativamente da preservação da Amazônia e das lutas por justiça social. A obra reforça o papel crucial da organização e da mobilização na defesa do meio ambiente, um tema mais atual do que nunca.
Empate
- Direção: Sérgio de Carvalho
- Roteiro: Sérgio de Carvalho e Beth Formaggini
- Produção Executiva: Diego Medeiros e Talita Oliveira
- Direção de Produção: Juliana Barros
- Direção de Fotografia: Leonardo Val (ADF) e Pablo Paniagua
- Som: Marcelo Noronha
- Montagem: Lorena Ortiz
- Pesquisa: Beth Formaggini
- Trilha Sonora: Felipe Kim
- Desenho de Som: Leo Bortolin
- Ano: 2019
- Duração: 90 min
Empate estará disponível nos cinemas a partir do dia 5 de dezembro, distribuído pela Descoloniza Filmes.