quinta-feira, novembro 28, 2024
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Crítica | ‘A Favorita do Rei’ traz Johnny Depp comedido em uma França à beira da revolução

O aguardado retorno de Johnny Depp às telas chega com A Favorita do Rei, filme que chamou atenção no Festival de Cannes e foi um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês em novembro. Agora nos cinemas, o longa apresenta a história de Jeanne Vaubernier (Maïwenn), uma jovem que conquistou o coração do rei Luís XV (Johnny Depp) no que seria o último resquício de uma França que, em poucos anos, estaria prestes a se incendiar pela Revolução.

Se a trajetória de Jeanne du Barry, que se tornou a favorita do rei, é o fio condutor da narrativa, devo ser franco: quem rouba a cena é Maïwenn. Além de interpretar Jeanne, ela também dirige e assina o roteiro, entregando uma performance marcante e conduzindo o filme com intensidade. Por mais que Johnny Depp gere curiosidade, o foco está em Jeanne, e é Maïwenn quem sustenta o longa em suas quase duas horas de duração.

A história de Jeanne du Barry

Filha de uma cozinheira, Jeanne Bécu cresceu rejeitando o destino humilde que parecia reservado para ela. Educada em um convento, graças a um amante de sua mãe, Jeanne fugiu, adotando o nome Jeanne Rançon, e tornou-se uma cortesã que chamava cada vez mais a atenção da sociedade francesa. Sua trajetória culmina em Versalhes, onde desperta o interesse de Luís XV.

O fascínio do rei por Jeanne nasce de sua astúcia e naturalidade, qualidades que contrastam com a formalidade opressiva da corte. Jeanne não se submete a protocolos absurdos, como andar de costas na presença do rei, o que cativa Luís XV, mas também gera tensão com a nobreza. Antes de ser oficialmente aceita como amante, Jeanne precisa passar por exames médicos constrangedores, evidenciando o abismo cultural entre sua origem e as exigências da corte.

A diferença de idade entre Jeanne, de 19 anos, e Luís XV, com 58, não impede o florescimento de sua relação. O rei, viúvo e desgastado por sua história pessoal, encontra em Jeanne uma fonte de energia e leveza. Para evitar escândalos e legitimar sua presença, Jeanne casa-se com o conde Guillaume du Barry, adquirindo um título que lhe permite ser reconhecida na sociedade. Aqui, o filme expõe a hipocrisia da época: o problema nunca foi Jeanne ser amante do rei, mas sua origem humilde.

Mesmo assim, Jeanne enfrenta resistência, especialmente das filhas do rei, que expressam abertamente o desgosto pela presença dela na corte. Paralelamente, o filme introduz Maria Antonieta, noiva do futuro Luís XVI, em um momento em que a França vive os estertores de sua monarquia.

Um retrato da corte e suas contradições

O filme acerta ao mostrar o cotidiano da corte francesa, desde os luxuosos bailes e caçadas, onde Jeanne é uma das primeiras mulheres a usar roupas masculinas para participar e até os momentos íntimos do casal. O retrato do ambiente revela tanto o esplendor de Versalhes quanto as contradições sociais de uma nobreza que tolera amantes, mas não perdoa quem não respeita as suas hierarquias.

Jeanne desafia as normas e conquista espaço, mas também sofre com os limites impostos por sua posição. O filme ilustra isso com pequenos detalhes, como os comentários maldosos da nobreza e a luta constante para ser reconhecida pela corte por suas conquistas.

Opinião

Baseado em fatos reais, A Favorita do Rei humaniza a história de Jeanne du Barry. Maïwenn constrói uma protagonista carismática, que conquista o público por sua inteligência e espontaneidade, superando o moralismo que poderia estigmatizar sua posição como amante do rei. Johnny Depp, por sua vez, entrega uma atuação contida, longe de seus papéis mais estilizados. Seu Luís XV é um homem cansado, mas que renasce ao lado de Jeanne, em uma relação que funciona bem graças à química entre os dois atores.

Apesar de representar bem o período, o filme omite aspectos mais sombrios da vida do rei, como os traumas causados por relações familiares conturbadas e a perda de filhos. Ainda assim, o roteiro flui de maneira envolvente, transportando o espectador para os salões de Versalhes e para os momentos de cumplicidade entre Luís XV e Jeanne.

Os cenários e figurinos são um espetáculo à parte, recriando com precisão a opulência da corte francesa. O cuidado com os detalhes, desde os banquetes até os aposentos reais, contribui para a imersão na história.

A Favorita do Rei é uma obra visualmente deslumbrante, sustentada por atuações marcantes e uma narrativa que equilibra drama pessoal e contexto histórico. Para quem se interessa por história, o filme oferece um recorte fascinante do final da monarquia francesa, sugerindo as mudanças que culminariam na revolução.

Embora o desfecho da história de Jeanne não esteja no filme, quem conhece os fatos históricos sabe que sua trajetória terminou de forma trágica, assim como a de Maria Antonieta. Esse contexto amplia o impacto da narrativa, tornando A Favorita do Rei uma experiência envolvente e instigante.

Se você busca Johnny Depp, ele entrega um bom papel, mas saiba que o brilho maior está em Maïwenn. Com cenários e figurinos impecáveis, além de uma história que desperta tanto emoções quanto curiosidade, o filme é um convite para explorar um dos momentos mais fascinantes e conturbados da história francesa.

Nota: 4,5 de 5

A FAVORITA DO REI

França | 2023 | 117 min. | Drama – Biografia | 14 anos
 
Título Original: Jeanne du Barry
Direção: Maïwenn
Roteiro: Maïwenn, Teddy Lussi-Modeste, Nicolas Livecchi
Elenco: Maïwenn, Johnny Depp, Stanislas Stanic, Benjamin Lavernhe, Pierre Richard, Robin Renucci, Marianne Basler, Caroline Chaniolleau, Melvil Poupaud
Distribuição: Mares Filmes | Alpha Filmes

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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