sexta-feira, dezembro 27, 2024
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Crítica | Senna traz um recorte emotivo e particular do passado

Quando heróis morrem, entendemos os limites de nossas realidades, e Ayrton Senna foi um ídolo de muitas crianças na década de 1990. Agora revisitado pela Netflix, a produção, que levou quase dez anos para ser concluída e evoluiu de um filme para uma série, apresenta um recorte da trajetória daquele que foi o maior piloto brasileiro de todos os tempos.

Produzida pela Netflix, Senna Brands e Gullane Entretenimento, a minissérie de seis episódios narra uma história que começa em 1979 e segue até o fatídico acidente de 1994. Mostra a transformação de Ayrton da Silva em Ayrton Senna e sua luta para se tornar um piloto profissional, enfrentando inclusive as imposições de sua própria família.

A série não evita o inevitável: logo nos primeiros segundos, revivemos o acidente que marcou sua história, estabelecendo o tom da produção antes de retornar ao ano de 1979. Essa abordagem direta elimina dúvidas sobre o foco narrativo.

A história

SENNA. Gabriel Leone as Ayrton Senna in Senna. Cr. Guilherme Leporace/Netflix © 2024

Criado na zona norte de São Paulo, Ayrton (interpretado por Gabriel Leone) enfrentou grandes desafios para começar sua carreira na Fórmula Ford. Parte dessa resistência vinha da promessa de terminar a temporada e assumir os negócios da família, o que o levou a casar cedo com Lílian de Vasconcellos Souza (Alice Wegmann).

É evidente que Senna não desistiria de sua paixão. Após retornar ao Brasil, ele volta a correr no exterior, o que culmina em um divórcio. Sua ascensão foi impulsionada por vitórias que chamaram a atenção de grandes equipes, abrindo caminho para a Fórmula 1.

Por volta da metade da série, vemos o Senna que ficou conhecido pela geração que o acompanhou na TV nos anos 1990. Nesse período, figuras como Galvão Bueno (Gabriel Louchard) e Alain Prost (Matt Mella) entram em cena. Enquanto Galvão surge como amigo e narrador das conquistas do piloto, a rivalidade com Prost ganha destaque, reforçando o mito que Senna se tornou. Gabriel Louchard consegue emular Galvão com precisão, sem cair na caricatura. Já Matt Mella entrega um Prost convincente, com atuação e caracterização que enriquecem os embates entre os dois pilotos.

SENNA. (L to R) Pâmela Tomé as Xuxa Meneghel, Gabriel Leone as Ayrton Senna in Senna. Cr. Guilherme Leporace/Netflix © 2024

Para quem viveu os anos 1990, é impossível não lembrar da relação de Senna com Xuxa (Pâmela Tomé), retratada de forma marcante na série. Embora algumas críticas possam surgir quanto à relevância dos relacionamentos amorosos na narrativa, a inclusão de Xuxa funciona para mostrar um paralelo entre dois ícones daquela época. No entanto, a escolha de incluir a única cena de sexo da trama pode parecer destoante, considerando o foco na trajetória do piloto. Ainda assim, Pâmela Tomé surpreende ao capturar com precisão os trejeitos e a voz da apresentadora.

O problema da série começa a se intensificar nos episódios finais, quando os eventos são acelerados. Após Prost deixar a McLaren e a relação com Xuxa ser explorada, a narrativa se apressa em chegar ao trágico acidente de 1994. A troca de Senna para a Williams, crucial em sua história, é tratada superficialmente, e a transição para os últimos momentos do piloto parece apressada.

Muito se falou sobre a ausência de destaque para Adriane Galisteu (Julia Foti), última namorada de Senna. Sua participação é reduzida a uma breve cena em Interlagos e a uma ligação telefônica antes do acidente. Isso reflete o recorte narrativo escolhido, mas acaba deixando de lado momentos importantes de seus últimos anos, incluindo conflitos com a Williams que culminaram no GP de San Marino.

Opinião

SENNA. (L to R) Matt Mella as Alain Prost, Gabriel Leone as Ayrton Senna in Senna. Cr. Alan Roskyn/Netflix ©2024

A série “Senna” brilha ao recriar com maestria as corridas mais icônicas do piloto, utilizando diferentes técnicas para reproduzir pistas, carros e até mesmo rostos de pilotos. Isso traz uma camada extra que agrada os fãs do automobilismo e reforça o legado de Senna.

Condensar a vida de uma figura tão marcante em apenas seis episódios é um desafio, e a série cumpre bem o objetivo, embora os dois últimos episódios tenham corrido demais. Isso pode levar o espectador a pesquisar na internet para preencher lacunas, o que vai além da ausência de Galisteu, refletindo uma redução de eventos que enfraquece o desfecho.

Gabriel Leone merece destaque: ele não apenas interpretou, mas encarnou Ayrton Senna em cena. Sua entrega foi impecável, garantindo que sua atuação seja lembrada por muitos anos.

SENNA. (L to R) Gabriel Leone as Ayrton Senna in Senna. Cr. Alan Roskyn/Netflix ©2024

A série homenageia o piloto ao recriar cenas reais e até incluir elementos históricos, como o caminhão de bombeiro que transportou o corpo de Senna, utilizado na produção.

Embora polêmica em alguns aspectos, “Senna” consegue apresentar um herói do passado a uma nova geração. É importante lembrar que, apesar de baseada em fatos reais, a série é uma obra de ficção, e isso deve ser levado em conta ao assisti-la.

Se ainda não assistiu, prepare-se para se aprofundar na história de Senna por meio de entrevistas, documentários e materiais históricos. A produção reacende o interesse pelo piloto brasileiro, reforçando seu lugar eterno em nosso imaginário coletivo.

Nota: 4 (de 5)

Senna

Formato: Minissérie
Gênero: Drama biográfico
Criadores: Vicente Amorim
Elenco: Gabriel Leone, Alice Wegmann, Pâmela Tomé, Kaya Scodelario, Julia Foti, Camila Márdila, Susana Ribeiro, Marco Ricca
País: Brasil
Episódios: 6
Produção: Gullane Entretenimento, Postre (Argentina), Salado (Uruguai)
Direção: Vicente Amorim, Júlia Rezende
Roteiro: Álvaro Campos, Gustavo Bragança, Rafael Spínola, Thais Falcão, Álvaro Mamute
Distribuição: Netflix
Estreia: 29 de novembro de 2024

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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