domingo, março 9, 2025
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Crítica | Better Man – A História de Robbie Williams é uma cinebiografia irreverente que abraça o musical

Com uma temporada repleta de musicais nos cinemas, Better Man – A História de Robbie Williams chega na mesma época em que tivemos Wicked, Maria Callas e Emilia Pérez. Diferentes entre si, Better Man – A História de Robbie Williams segue mais o estilo Rocketman de levar a fantasia à cinebiografia, se não fosse pela decisão inusitada de utilizar um chimpanzé animado por CGI em vez de seguir uma linha mais tradicional.

É neste ponto que podemos dizer que a direção de Michael Gracey traz influências de outro trabalho seu, O Rei do Show, ao abraçar a fantasia para contar uma das vidas mais inusitadas de se ver na tela do cinema, que é a vida de Robbie Williams.

Devemos deixar claro que, mesmo com certas fantasias e visões bem próprias do cantor, muito ali reverbera para quem viveu e cresceu no fim da década de 1990 e começo de 2000. Acompanhando o boom das boy bands como Take That, do próprio Robbie Williams, como também bandas de rock como Oasis. E, por mais que estejamos no Brasil, muito dessa época se viveu em clipes musicais na MTV ou via rádios, que era como essa geração consumia música antes da explosão do YouTube e de serviços de streaming como o Spotify. E por mais que a música chegasse aqui sem contexto histórico, Better Man – A História de Robbie Williams é a chance de nos reconectarmos com essas músicas, que ganham regravações especiais para serem assistidas na tela do cinema.

Mas e o chimpanzé?

Jonno Davies as “Robbie Williams” in Better Man from Paramount Pictures.

Antes do filme começar, Robbie Williams explica que ele e Michael Gracey conversaram, e que ele próprio sempre se achou “menos evoluído” que as pessoas ao seu redor. Isso foi fundamental para uma “licença poética” em que o filme escolheu trocar “ele” por um chimpanzé em CGI, utilizando a famosa Wētā FX, de Avatar e O Senhor dos Anéis, para dar vida a ele.

Devo confessar que, inicialmente, a escolha do chimpanzé traz um certo desconforto, sim, mas, em poucos minutos, ele “desaparece” e você se acostuma. Pode até soar irreal, mas a escolha inusitada traz soluções curiosas, como “vestir” roupas icônicas de Robbie Williams, o que transforma as fases dele em facetas na telona.

Por fim, não posso deixar de mencionar que o protagonista foi interpretado por Jonno Davies, que fez a captura de movimentos, além de dublar o personagem, junto do próprio Williams.

E a história

Robbie com a avó – Divulgação

O filme começa com My Way, de Frank Sinatra, que Robbie Williams cantava com seu pai em casa. Numa casa de artistas, Robbie era uma criança que admirava seu pai, e My Way dá o tom de bons momentos que ele teve com um pai que via como um artista famoso, mas que, cada vez mais, o público vai desmistificando junto com Williams.

Um dia, o pai dele acaba indo embora em um ônibus com torcida de futebol, mostrando que, dali em diante, a imagem do pai perfeito se desfaz em um lar que é regido pela mãe e pela avó.

O boom na carreira de Robbie Williams vem com a cara de pau de querer ser cantor, o que, em um teste, ele ousa tudo que pode, tornando-se um dos membros do Take That. A boy band, que inicialmente dançava em baladas gays por toda a Inglaterra, acaba fazendo fama aos poucos, tocando em baladas heteros, caindo no gosto das mulheres e com regras rígidas sendo quebradas, até que a gravadora EMI decide investir no grupo.

Rock DJ dando voz ao Take That – Divulgação

É neste momento que Rock DJ toca para resumir o sucesso do Take That, numa das melhores sequências do filme. Trazendo roupas icônicas, poses reproduzindo álbuns clássicos, a sequência exalta o momento em que Take That explodiu comercialmente. Vale aqui um adendo: Rock DJ ficou conhecido na época por ser um dos clipes polêmicos do cantor, em que ele vai tirando a roupa até começar a arrancar a pele e os músculos, restando apenas o esqueleto no palco dançando.

E é aqui que percebemos que resumir a vida de alguém no cinema tem suas desvantagens, com uma fase curtíssima do Take That, em que pouco se mostram os embates de Gary Barlow com Robbie Williams. Durante a excelente Relight My Fire, vemos um embate entre os dois, que resume a “expulsão” dele do grupo, por acharem que estavam bem sem ele há algum tempo. Vale uma curiosidade aqui: diferente do filme, Robbie Williams teria saído do grupo depois de uma amizade com o Oasis e, mesmo repreendido, esse teria sido sim um dos motivos, mas, aqui, o Oasis ainda não apareceu na história.

Recomeço e carreira solo

She’s That One – Divulgação

Com desafios de estar sozinho agora, enquanto o Take That seguia fazendo sucesso, Robbie Williams precisa se reinventar e mostrar talento que achava que não conseguia demonstrar no grupo. É aqui que entramos em She’s That One, quando o cantor conhece Nicole Appleton, do grupo All Saints.

Em meio às trevas do recomeço, Nicole Appleton se torna a outra metade de Robbie Williams, e She’s That One exalta essa paixão intensa.

Ainda entre drogas e perdendo a noção da realidade, Better Man – A História de Robbie Williams parece colocar o pé no turbo quando, em poucos segundos, mostra Nicole Appleton grávida e optando por um aborto, enquanto Robbie Williams conhece o Oasis numa comemoração do All Saints. E, num flash, Nicole larga de Williams e namora Liam Gallagher, ficando grávida dele, mas desta vez optando pelo bebê.

É aqui que Robbie Williams conhece o compositor Guy Chambers e renasce no mercado musical com Land of 1000 Dances. Nascida de uma composição incompleta do próprio Williams, a música revela a grandeza do cantor, que volta para as paradas de sucesso.

Mas nem tudo são flores, e a vida pessoal volta a assombrar Williams com seu pai ressurgindo, além da sua avó, que está perdendo a memória a cada dia. E é com a morte dela que um dos maiores sucessos de Robbie Williams ganha sua versão mais intensa, com Angels dando o tom do luto dele pela avó que tanto o incentivou a ser cantor.

Não podemos deixar de citar que um dos momentos mais emblemáticos de sua carreira veio com Knebworth, festival que contou com 125 mil fãs. Com frases emblemáticas de cantar com o público pelas próximas duas horas, o público tem um pequeno gostinho desse momento com Let Me Entertain You.

Opinião

Steve Pemberton interpreta o pai do Robbie Williams, “Peter” – Divulgação

Resumir a vida de um cantor de sucessos e com uma vida tão intensa como Robbie Williams é um desafio e tanto, mas o filme consegue trazer um resultado com maestria. É lógico que existem detalhes que se distanciam da vida real, mas que são ajustados para se encaixar no filme, não sendo muito diferente de casos como Bohemian Rhapsody.

A grande questão é que Better Man – A História de Robbie Williams, para conseguir contar sua história, muitas vezes acelera de tal forma que piscou, perdeu, o que pode soar confuso para alguns que não conhecem tão bem a vida dele.

Outro ponto é que, em alguns momentos, o filme não consegue traduzir a passagem de tempo, fazendo com que momentos como Take That não pareçam cinco anos. E é aí que você precisa pegar as referências na própria fala dos personagens, caso contrário, se perderá na narrativa do filme.

Se você é fã de musicais, é inevitável dizer que Rock DJ, Relight My Fire, She’s the One, Land of 1000 Dances, Angels, Let Me Entertain You e My Way trazem momentos icônicos e valem o ingresso só por suas versões adaptadas no filme. E talvez sejam elas as grandes estrelas da adaptação, roubando a atenção para si pela genialidade de serem adaptadas em momentos-chave do cantor.

Devo aqui dizer que as minhas favoritas são Rock DJ, Relight My Fire e She’s the One, que não só trazem belíssimas versões para o cinema, como também são viciantes e já se tornaram favoritas no meu Spotify.

Com elenco bem afiado, ótimos efeitos especiais e exaltando um dos momentos mais curiosos da música britânica, Better Man – A História de Robbie Williams foge do comum e entrega uma ótima produção que deve ser vista na tela do cinema.

Nota: 4,5 (de 5)

Better Man – A História de Robbie Williams

Direção: Michael Gracey

Roteiro: Simon Gleeson, Oliver Cole, Michael Gracey

Produção: Paul Currie, Michael Gracey, Coco Xiaolu Ma, Craig McMahon, Jules Daly

Elenco: Robbie Williams, Jonno Davies, Steve Pemberton, Alison Steadman

Cinematografia: Erik A. Wilson

Edição: Jeff Groth, Spencer Susser, Martin Connor, Lee Smith, Patrick Correll

Trilha Sonora: Batu Sener (score), Robbie Williams (músicas)

Distribuição: Diamond Films

Datas de Lançamento: 13 de março de 2025

Duração: 135 minutos

Agradecimentos a Diamond Films que nos permitiu assistir o filme para produção deste conteúdo

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo, Nintendo World e Jornal Nippon Já.

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