Olivier Assayas, um dos mais respeitados cineastas franceses da atualidade, está de volta com Tempo Suspenso (Hors du Temps), filme que estreia nos cinemas brasileiros em 20 de março de 2025, distribuído pela Zeta Filmes. O longa foi exibido na competição oficial da Berlinale 2024 e traz no elenco Vincent Macaigne, Micha Lescot e Nine d’Urso.
O filme mergulha nas relações entre dois irmãos, Paul (Vincent Macaigne), um diretor de cinema, e Etienne (Micha Lescot), um jornalista musical, que se veem confinados na casa de campo da família no interior da França. Acompanhados de suas parceiras, Morgane e Carole, eles revivem memórias, confrontam fantasmas do passado e refletem sobre a passagem do tempo em um espaço que se tornou tanto refúgio quanto prisião emocional.
Com uma atmosfera introspectiva e elementos de comédia, o filme transita entre o passado e o presente, explorando como a memória molda nossas relações e identidades.
O processo criativo e a autobiografia
Assayas revela que não planejou escrever Tempo Suspenso, mas foi impulsionado por um momento específico: o final do confinamento pandêmico. “Não procurei o roteiro de Hors du Temps; ele veio até mim. Eu o escrevi em um estado flutuante, como um sonho acordado, enquanto passava os dias no meu jardim”, conta o diretor.
A escrita surgiu de forma espontânea e intuitiva. Assayas descreve que iniciou com cenas dispersas, misturando elementos autobiográficos com tons de comédia. O resultado é um filme que, apesar de inspirado em sua própria vida, transcende a experiência pessoal e toca em questões universais como nostalgia, tempo e identidade.
O olhar cômico sobre a vida e a história
Para Assayas, Tempo Suspenso é uma comédia no sentido mais amplo da palavra: “A vida é uma comédia. Uma mistura de tristeza e alegria, melancolia e escárnio. Era importante capturar essa justaposição”.
O diretor compara sua abordagem ao olhar do pintor Monet sobre o Sena congelado: um registro de algo extraordinário que acontece diante dos olhos. Assim, o filme documenta a relação dos personagens com a pandemia, mas sem recorrer à obviedade.
O elenco e a cumplicidade
Vincent Macaigne, que interpreta Paul, é um velho colaborador de Assayas, tendo trabalhado com o diretor em Irma Vep (2022). O cineasta explica que Macaigne se inspirou em sua linguagem corporal e idiossincrasias para criar o personagem, mas manteve uma distância que permitiu liberdade criativa.
Micha Lescot, que vive Etienne, é descrito por Assayas como um contraponto a Paul, trazendo ao filme um tom mais contido e introspectivo. Já Nora Hamzawi, outra parceira de longa data do diretor, assume um papel que equilibra comédia e fantasia, contribuindo para o tom único do filme.
Filmando em casa: memórias e fantasmas
Grande parte do filme foi rodado na própria casa de infância de Assayas. O diretor admite que a experiência foi estranha e, ao mesmo tempo, inevitável: “Frequentemente falo sobre fantasmas em meus filmes, mas este é verdadeiramente assombrado. Nem Paul nem Etienne estão em casa; estão na casa dos pais”.
Objetos da infância do cineasta aparecem na tela, adicionando uma camada de autenticidade e emoção. Retratos de seus avós e de sua mãe, pintados na década de 1930, são parte do cenário, evocando a passagem do tempo e a permanência das lembranças.
Uma obra que reflete o cinema de Assayas
Tempo Suspenso sintetiza características marcantes do cinema de Olivier Assayas: a experimentação narrativa, a fluidez entre gêneros e a observação sutil da história e do cotidiano. Para os admiradores do diretor, o filme promete ser uma nova peça essencial dentro de sua vasta filmografia.
Tempo Suspenso
Roteiro: Olivier Assayas
Fotografia: Eric Gautier
Montagem: Marion Monnier
Som: Romain Cadilhac, Nicolas Moreau, Sarah Lelu, Olivier Goinard
Produção: Olivier Delbosc, Olivier Assayas
Elenco: Vincent Macaigne, Micha Lescot, Nine D’Urso, Nora Hamzawi.
Título original: Hors du Temps
Classificação indicativa: 16 anos
